É com um sorriso que abre sempre o “Jornal da Noite”, na SIC, mas nem sempre ele expressa o que Clara de Sousa, 55 anos, está a sentir. Num espaço de dois anos, a jornalista disse adeus a três animais de companhia. E houve dias em que nem os que ficaram lhe davam força para se levantar da cama: “Afetou muito a minha vida e o meu ânimo. Não tinha energia para trabalhar nem para fazer outras tarefas”.
Clara de Sousa foi a primeira convidada da segunda temporada do PiT Stop, o podcast da PiT em que os patudos de ilustres personalidades portuguesas são os protagonistas. Em conversa com Nuno Azinheira, a pivô desabafou sobre as recentes perdas, sendo que a “mais difícil” foi a de Rissol, o gato com um ano e meio que a filha Maria trouxe da Madeira.
“Foi inesperado. Foi uma grande violência acordar de manhã e ele já ter partido, sem saber porquê”, contou. Rissol, com o apelido De Camarão, teve uma morte súbita, apenas quatro dias depois de a sua dona celebrar o 55.º aniversário, em dezembro de do ano passado, e de lhe ser oferecido um novo membro de quatro patas. E levou consigo a explicação para tal ter acontecido: “Muitas vezes paro e começo a pensar nisso. Dói muito não saber o que aconteceu”.
Este, no entanto, não foi o primeiro momento em que Clara de Sousa teve de lidar com o desaparecimento de um animal. Em janeiro de 2021, já se tinha despedido da cadela Urfi, com 11 anos, naquele que foi “o primeiro impacto com a nobre ou difícil decisão de recorrer à eutanásia”. “Quando é uma doença prolongada, há sempre aquela esperança de que não se vai desenvolver e que eles vão acabar por morrer sozinhos. Com ela, foi a minha filha que disse: ‘Mãe, tem de ser”.

Já com Kiko, a jornalista colocou o “egoísmo de lado” e, apesar de se ter recusado “a tomar qualquer tipo de decisão” antes do tempo, não se arrepende. O Labrador de 12 anos partiu em março deste ano, depois de o diagnóstico concluir que tinha poucos dias de vida. Clara de Sousa ainda tentou contrariá-lo, carregando os seus “35 quilos ao colo” todos os dias ao veterinário e dando-lhe a oportunidade de beber da energia dos outros patudos lá de casa. Mas houve um momento em que teve mesmo de dizer adeus.
“Tomei a decisão no dia em que o ia buscar ao veterinário e a médica me ligou a dizer que ele tinha acabado de ter um colapso e que estava num estado catatónico. Cheguei e ele estava deitado já a levar soro. Olhei para ele, mas ele nem olhou para mim. Estava com um olhar perdido. Aí disse: ‘É o momento’. Abracei-me a ele e estive com ele até ao último suspiro”, descreveu.
Depois das três mortes que viveu num curto espaço de tempo, Clara de Sousa olha para estas despedidas com um sorriso, tal como abre o jornal diariamente: “Já perdi a minha mãe e o meu pai e sei que a dor não passa. Com os animais é o mesmo, temos de aprender a lidar com a morte e a sorrir para ela”. Ouça o episódio aqui.
“Não sou mulher de um animal só”
Antes da partida de Kiko e Rissol, Clara de Sousa tinha seis animais que lhe animavam os dias. Agora, são os casais de cães e gatos a cumprir essa função com isenção. A jornalista admite que nunca foi “mulher de um animal só”: “Além de os animais precisarem da nossa companhia, e de serem os primeiros a virem receber-nos e os últimos a despedirem-se quando saímos do portão, eles também precisam da de outros. Seja da mesma raça e espécie ou não”.
A partida de Urfi, e a consequente tristeza de Kiko, levou-a a juntar Mia à família, que “azucrinou os últimos dois anos da vida do cão”. Já o “gato-cão” Nero e o Border Collie Lucky foram um presente de aniversário. E o último foi uma verdadeira surpresa: “Não estava nada à espera. São a minha raça favorita, mas sempre resisti a comprar. O Fernando [Esteves, companheiro] sempre disse que os cães que nascem com criadores também têm direito à vida e a ter um bom dono, e decidiu oferecer-mo”.
O “louco, vivaço e curioso” Lucky está quase a completar nove meses e agora é ele a “azucrinar a vida de Mia, tal como ela fazia com Kiko”. O cão é uma das grandes felicidades da jornalista: “Apesar de dar muito trabalho, nós é que fomos os ‘lucky’s’ [sortudos], pois ele é extraordinário”, disse.
Pela filha Maria, Clara de Sousa “já tinha adotado todos os gatos do quintal e todos os cães das associações”. Segundo a mãe, a jovem é muito ligada à causa animal, por isso não deixa de dar uma palavra às associações que se dedicam diariamente a ela: “É uma tentação muito grande chegar e salvar. Há pessoas que o fazem, porque acham que, se não forem elas, dificilmente os animais conseguem por eles próprios. Deve ser doloroso, mas muito recompensador”.
Carregue na galeria para ver algumas fotografias de Clara de Sousa e dos seus animais.