Começou como um empregado de mesa num parque aquático, mas rapidamente se tornou uma referência internacional no treino de golfinhos. José Luis Barbero era um dos melhores de Espanha e do mundo. Mas sofreu uma grande reviravolta na sua carreira, quando foi publicado um vídeo, onde estava, alegadamente, a maltratar animais. A sua reputação caiu a pique e resultou, inclusivamente, na sua própria morte.
“O Que Aconteceu ao Rei dos Golfinhos” é o novo documentário espanhol da Netflix, que se estreou a 25 de novembro. Promete agarrar os fãs do filme “Orca – Fúria Animal” com mais um drama vivido dentro de um parque aquático. Desta vez, os protagonistas não são os animais, mas sim um dos seus tratadores.
Com realização de Luis Ansorena Hervés e Ernest Riera, o documentário convida várias pessoas que testemunharam a vida e a carreira de José Luis Barbero. Desde a sua ascensão até à sua queda. Nomeadamente a sua mulher, alguns dos seus colegas, empresários de parques aquáticos e jornalistas que reportaram toda a história. Uma ótima recomendação de entretenimento para este feriado, dia 1 de dezembro.
Quem era o José Luís Barbero, o Rei dos Golfinhos?
Tudo começou em 1972, no parque aquático Marineland of Antibes, em Maiorca, uma ilha espanhola. Jose Luis Barbero arranjou um trabalho como empregado de mesa no restaurante, por recomendação da sua namorada, que depois se tornou mulher, Marí Garcia, que lavava pratos no mesmo.
Rapidamente largou os pratos, quando a sua paixão por golfinhos chamou à atenção do diretor do parque, Roberto Bennett. “Quando acabava o turno, em vez de sair a correr, ficava no portão a observar os golfinhos. Um dia, fiz-lhe uma pergunta banal: ‘Gostas de golfinhos?'”, explicou no documentário.
“Ele surpreendeu-me quando disse: ‘Sim, adorava ser treinador de golfinhos'”. Tinha acabado de estender o tapete para os seus sonhos. Começou por ser assistente, mas o seu carisma não só conquistou os golfinhos, como todas as pessoas que assistiam aos espetáculos de golfinhos.
A sua exigência e ambição em fazer atuações com os exercícios mais difíceis com os golfinhos alguma vez vistos concedeu-lhe vários prémios e ao parque onde trabalhava. Mas, acima de tudo, uma reputação conhecida em todo o mundo.
No início de 2015, recebeu o convite para trabalhar no outro lado do Oceano Atlântico, como vice-presidente do prestigiado Georgia Aquarium, nos Estados Unidos da América. No entanto, o que podia ter sido uma grande oportunidade para a carreira de José Luis Barbero rapidamente sofreu uma reviravolta.
A grupo ativista espanhol SOSdelfines publicou um vídeo onde é possível ver um treinador a pontapear, a bater e a gritar com golfinhos. Mesmo com a gravação estava desfocada, pois tinha sido filmada da varanda de um apartamento situado ao lado do Marineland, o grupo acusou José Luis Barbero de ser o protagonista dos atos.
O vídeo tornou-se viral e o Georgia Aquarium e a família de Barbero começaram a receber diversas críticas e ameaças de morte.
O treinador acusou o grupo de ter modificado o vídeo, e de não ser ele a pessoa “robusta” que se pode ver na gravação. “Acredito que é necessária uma resposta a esta propaganda cruel e cobardia à minha profissão. Só posso dizer, de acordo com as recomendações dos meus advogados, que este vídeo é uma montagem criada com o intuito de provocar o meu profissionalismo”, escreveu numa publicação de Facebook, citada pelo jornal norte-americano The Dodo.
Perante estas acusações, o grupo SOSdelfines negou ter falsificado o vídeo, justificando que apenas juntou as imagens enviadas.
O Georgia Aquarium chegou a contratar um antigo agente do FBI para investigar os maus tratos por parte de Barbero. Este viajou para Espanha, para onde o treinador tinha regressado para estar junto da mulher neste momento difícil.
“Estragaram-me a vida”. Barbero, com 59 anos na altura, tornou-se um homem de poucas palavras, mas foram estas a que escolheu para dizer à mulher o que estava a sentir. Dias depois do início da investigação, em março de 2015, desapareceu.
Foram usados diversos meios terrestres e aéreos, e acabou por se confirmar o pior. A 7 de março de 2015, o corpo do treinador foi encontrado dentro do seu carro, estacionado no aeroporto de Maiorca. A polícia não conseguiu de imediato confirmar a causa da morte, mas foi determinado mais tarde que tinha sido suicídio.
O Georgia Aquarium publicou um comunicado, dizendo: “Infelizmente, ele e a família receberam diversas ameaças de morte, tanto de grupos como de indivíduos que o julgaram. Não lhe foi dado o direito ou privilégio de ser considerado inocente até prova em contrário”.
Não está provado se era Barbero a constar do vídeo, ou se a reputação negativa que o precedeu até ao fim era legítima. Mas poderá ver todos os lados da tragédia que envolveu um treinador de golfinhos no novo documentário da Netflix.
Carregue na galeria para ver algumas fotografias de José Luis Barbero.