A conversa arranca turbulenta. Há demasiados cortes na ligação. “Estou?”, “Está a ouvir-me?”, atira-se de parte a parte. Bem diz no website da quinta que a rede é fraca em Cabeceiras de Basto, distrito de Braga, de onde fala Natascha, proprietária do Eco Lodge Cabreira.
Ainda assim, apesar da instabilidade dos serviços de comunicação, o seu português é irrepreensível. Afinal, já está por cá há praticamente uma década. “Passei um terço da minha vida na Holanda, outro na Bélgica e agora está quase a fazer o terceiro aqui, em Portugal”, conta a empresária neerlandesa.
Deste lado ouve-se ainda a voz do filho Tiago, de sete anos, nascido já em Portugal. Mas mãe e primogénito não vão sós: “Neste momento estou com o meu filho no carro e ele tem uma galinha no colo”, revela Natascha. É dia de mudanças na vida desta ave de voo comedido. “Ela vai mudar de casa porque nem todos os nossos cães se dão bem com as galinhas”.
A casa que perde agora uma das suas galinhas começou a ser “reconstruída” por Natascha, primeiro sozinha, a quem depois se juntou o ex-namorado Timo. Juntos ergueram as tábuas do Eco Lodge Cabreira, um turismo rural que nasceu de “uma quinta velha, que já estava à venda há dez anos e abandonada há muitos mais”.
Desde a juventude nos Países Baixos, afastou sempre a possibilidade de trabalhar na hotelaria e no turismo, mas quis o destino que seguisse o exemplo familiar. “Na Holanda, os meus pais sempre trabalharam na hotelaria e eu decidi que não ia trabalhar para o turismo. Queria ir para um escritório, para uma vida mais fácil, mas nunca encontrei um desafio em que me sentisse enquadrada com as profissões e as minhas tarefas”. Quem a ouve mal acredita que esse era o caminho que havia traçado, desde logo pelo cacarejar (um provável “já chegámos?” em idioma galináceo) que continua presente no plano de fundo.
“Eu conhecia alguém aqui, em Portugal, que tinha um turismo rural muito simples e aprendi que uma coisa de pequena escala é o que mais me motiva e me dá mais liberdade e autonomia — e dava, também, para combinar com a minha paixão pelos animais e pela natureza”. Foi assim que descobriu a sua vocação e rapidamente se convenceu pelas paisagens portuguesas. “Depois de dois anos, na hora de voltar para a Holanda já não conseguia”, confessa com ternura na voz.
Hoje, tem a sua própria quinta em Ave, também conhecida por Quinta Rural Farm Camp & Mountain Glamping, onde os animais co-habitam ao longo de cinco hectares. Cães, gatos, cavalos, burros e… “uma galinha!”, relembra Tiago prontamente, enquanto a mãe descreve o inventário animal da quinta. Mas não se ficam por aí: quando as condições estiverem reunidas, são esperadas mais espécies nestes campos — se tudo correr bem, “a partir de julho”.
No Eco Lodge Cabreira há trilhos para os animais andarem à vontade e até tomarem banho — seja numa ribeira, numa cascata ou numa praia fluvial. Isto aplica-se aos hóspedes de quatro patas, está claro. Apesar da fauna residente, a quinta é, como seria de esperar, pet friendly. E as relações entre habitantes e visitantes não podiam ser melhores: “Os nossos cães também estão habituados a ter amigos de passagem”. Não seria de estranhar que houvesse alguma confusão entre caninos desconhecidos, mas a experiência tem sido positiva e a verdade é que eles “dão-se muito bem, nunca houve nenhum problema”. Até porque optaram por “esterilizar e castrar, para haver menos dominância” entre os cães, como explica a proprietária.
E, no meio disto tudo, onde ficam os gatos? Bom, esses são igualmente bem-vindos, apesar de ficarem, compreensivelmente, nos bungalows. Mas não ficam mal, longe disso. A área, ainda que puramente rural, não descura as condições hoteleiras.
O conceito de glamping de luxo aqui aplica-se à medida, com bungalows construídos a partir de madeira, sem televisão nem wifi, mas com lareira e uma série de livros à disposição. Vista para a serra da Cabreira, um tanque com água da nascente do rio Tâmega sempre a correr, e espaços verdes a perder de vista. O que é que se pode pedir mais?
Percorra a galeria e descubra os sete cantos da quinta.