Abriu a 1 de maio e traz à Lourinhã um conceito pouco habitual na região: um restaurante de comida venezuelana com uma carta autêntica e surpreendente, baseada em receitas tradicionais, sabores intensos e uma rotação constante de pratos que convida os clientes a voltarem vezes sem conta. O Latam Bistro é mais do que um simples projeto gastronómico latino — é também um espaço familiar, acolhedor, pet friendly, com biblioteca, brinquedos para os miúdos e até com pequenas peças à venda. 

À frente do projeto estão Dey Dos, venezuelano de 51 anos, e Hendrik Berberich, alemão de 30. São amigos há uma década e transformaram a sua ligação numa parceria profissional improvável e emocionante. A ideia de abrir o restaurante surgiu em fevereiro de 2024, depois de muitos anos de amizade, apoio mútuo e partilha à mesa. Quando Dey teve um grave problema de saúde, entre 2018 e 2022, foi Hendrik quem esteve ao seu lado — cozinhava para ele todos os dias e, sem saber, foi semeando o futuro do Latam Bistro. “A cozinha tornou-se o nosso ponto de encontro. Era a forma que o Hendrik encontrou para cuidar de mim, e foi aí que começámos a sonhar com este projeto”, recorda Dey.

De segunda a sexta-feira, o menu é simples, direto e delicioso: arepas ou cachapas, recheadas com combinações que mudam todos os dias, sumos à descrição, café, e, se o cliente quiser, sobremesa da semana ou bolo por mais 3€. O preço do combo é fixo: 9,99€. Entre os recheios mais populares está o frango desfiado com salada de abacate, mas todos os dias há surpresas novas — porco desfiado, tofu com legumes, frango com ananás, entre muitas outras variações.

As arepas são pães redondos e espessos feitos com farinha de milho branco; as cachapas, panquecas de milho amarelo doce com queijo, manteiga e acompanhamentos. Tudo é feito no momento. “Não queremos que as pessoas venham aqui comer sempre o mesmo — queremos surpreender, mostrar que a América Latina tem muito mais para oferecer”, explica o proprietário.

Ao fim de semana, o conceito transforma-se. Por 14,99€, os clientes recebem um menu completo com sopa, prato principal, sobremesa, sumos à descrição e café ou chá. A ementa muda semanalmente, inspirando-se na cozinha de diferentes países da América Latina. Já houve sabores do México, do Equador e este sábado e domingo será a vez das Ilhas do Caribe: a proposta inclui sopa de verduras com carnes cozidas, carne guisada com batatas, ervilhas, arroz branco e salada de abacate, e para terminar, mousse de maracujá. Nada se repete. E esse é precisamente o objetivo.

Pensado para todos

O espaço tem 90 metros quadrados, com 48 lugares sentados e um ambiente pensado para todas as idades. Os mais pequenos têm livros, brinquedos e atividades, e os adultos podem explorar a pequena biblioteca com títulos em português e inglês. Há também artigos à venda, desde t-shirts (14,99€), bonés (6,99€), brincos (3,99€), chaveiros (0,50€ ou 1€), malas (12,99€) e bonecos (8,99€ ou 12,99€, dependendo do tamanho). 

Os animais fazem parte da clientela habitual do Latam — e não poderia ser de outra forma. Hendrik explica que os amigos cuidam de quatro cães, de vários peixes e de pássaros. Ariel, uma mistura de Schnauzer, e Hope, uma Beagle, são as patudas mais velhas. Foram resgatadas por Dey, antes de serem eutanasiadas, e recentemente receberam os irmãos mais novos: Pepo, um Bulldog Francês, e Peaches, uma Chihuahua de pelo comprido. 

O fundador explica que quiseram garantir à comunidade um local onde os animais fossem bem-vindos, por “não existirem muitos locais que o façam na Lourinhã”. “A única coisa que temos de fazer é lavar o chão quando os animais saem, e preferimos fazer isso do que não os deixar entrar de todo”, conta.

Todas as raças e tamanhos podem entrar no espaço, “desde que sejam bem comportados”. Têm direito a comida e a água, e os donos incluíram um pequeno sofá amarelo só para os patudos, que gera alguma confusão. “Quem tem cães comenta que é para cães, mas quem tem filhos pensa que é para os miúdos”, comenta, a rir. “Às vezes, temos de explicar”, acrescenta.

Uma vez por mês, há ainda festas temáticas com dança, petiscos e cocktails. A última decorreu na sexta-feira passada, a 23 de maio e foi uma aula de bachata para 20 pessoas, com jantar incluído por 25€. As datas das próximas edições são anunciadas nas redes sociais, tal como as reservas podem ser feitas por lá ou por telefone (915000102).

Dey é conferencista internacional na área do desenvolvimento pessoal, liderança e soft skills, e mantém ainda um cliente fixo na Índia, onde passa três meses por ano a trabalhar com jovens entre os 20 e os 25 anos. Antes de abrir o restaurante, viveu e trabalhou em 85 países. O pai é português, mas só em 2007 se mudou para Lisboa, vindo de Barcelona. Pouco tempo depois, começou a sonhar com uma vida mais calma, junto ao mar.

Descobriu a Lourinhã em 2012, arrendou uma casa e começou a organizar retiros espirituais e de liderança. Em 2015 comprou casa na Praia da Areia Branca, mas perdê-la-ia para o banco durante a sua doença. Hendrik, que conheceu numa conferência nos Estados Unidos, comprou-a para que o amigo pudesse continuar a viver lá. “Nunca pensei que fosse parar em Portugal, mas quando encontrei este lugar soube que era aqui que queria ficar”, admite.

Hoje, os dois continuam a organizar retiros, mas queriam um projeto que os ligasse mais à região. O restaurante nasceu dessa vontade de deixar uma marca, de construir algo com identidade, que fosse muito mais do que apenas um negócio. Hendrik é quem faz as arepas e as cachapas; Dey trata dos recheios e acompanhamentos. E são apenas quatro pessoas na equipa, o que garante uma operação próxima, atenta e com um toque artesanal em cada detalhe. O Latam Bistro está aberto todos os dias, entre as 12 às 22 horas, exceto à quarta-feira. 

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