Toda a gente já sentiu a dor de ser o último a ser escolhido nas aulas de educação física. Se não a sentiu na pele, viu os seus amigos a senti-la. Foi o que aconteceu com Enzo. Viu os seus nove irmãos a serem escolhidos, e a rumar para diferentes famílias, e ele por ali ficou. Só quer que apontem para ele e que o levem consigo.
A mágoa que tem é recente, mas demasiado grande para a sua tenra idade. Foi há cerca de um ano e meio que o rafeiro foi resgatado juntamente com os seus cãopanheiros bebés e a mãe. Maria Luís, 50 anos, conhecida na causa animal como Mary Lu, já acompanhava a cadela mãe há muito tempo, mas sem nunca a conseguir capturar. Aproveitou a oportunidade, e a maternidade, e acabou por salvar a matilha.
“Levei-os para casa, e deixei-os crescer para os dar, porque não dou bebés com menos de três meses. Como eram dez, consegui doar alguns e entreguei os outros a uma amiga minha que trabalha numa associação”, começa por explicar à PiT a esteticista, que já foi auxiliar de veterinária e que continua a dedicar-se a tempo inteiro à causa animal.
Mary Lu não é de deixar as coisas a meio. E a sua miúda interior que o diga. Quando tinha apenas dez anos, levou o cão Keizer para casa, depois de o encontrar abandonado na rua. Desde então, tem anos de resgate e cuidado animal nas costas. Desta forma, não desistiu até perceber que todos os filhotes tinham sido bem entregues. E, infelizmente, ainda não pode colocar esse peso para trás.
“Conseguimos as duas doar todos, mas houve um que voltou. O Enzo foi devolvido à minha amiga, passado um ano. Voltou para a boxe onde estava, na associação”, lamenta. No mesmo dia em que regressou à sua antiga “casa”, em Santarém, o cão tentou fugir. E, aos poucos, a felicidade começou a desaparecer do seu olhar: “Começou a ficar deprimido. Não se deu bem na boxe da associação”.
A amiga de Mary Lu decidiu colocá-lo num hotel, onde esteve durante algum tempo. Lá, foi feliz, na companhia de outros cães e com um tratamento de luxo. Mas a diretora deixou de o querer como hóspede, sem a sua cuidadora perceber o porquê.
Entretanto, não teve outra opção senão colocá-lo noutro hotel, onde também foi “despejado”, por, alegadamente, tentar fugir. Mary Lu não sabe se é verdade ou não, mas isso apenas demonstra que ele precisa de uma família para ser amado.
“Apesar de não ser eu a estar encarregue dele, sou eu que estou a seguir o seu caminho. E fiz de tudo para que ele conseguisse entrar noutro hotel”, acentua. A cuidadora conseguiu negociar um mês de estadia num outro hotel das redondezas. Depois disso, não sabe para onde levar Enzo.
“Não é justo. Ele é um cão tão dócil e com tanto carinho para dar”. Mary Lu adorava entregar Enzo a outra família. De preferência uma que tivesse outro cão, para lhe fazer companhia. Mas, se os humanos tiverem amor suficiente para ele, tal será suficiente.
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