Família

Este casal salvou a vida de uma lontra — anos depois, Molly continua a visitá-lo

A PiT esteve à conversa com Billy e Susan para saber mais sobre a história que chega esta segunda-feira à National Geographic.
Uma ligação especial.

Billy e Molly têm uma relação de pai e filha — a única diferença é que ele é humano e ela, uma lontra selvagem. O facto de serem de espécies distintas nunca foi um problema e foi precisamente o que transformou a vida do escocês e da mulher, Susan Mail, que vivem nas remotas ilhas de Shetland. A história teve o seu início em março de 2021 e até hoje Molly continua a visitar a família que a salvou. 

“Quando ela apareceu pela primeira vez, estava com muita fome”, recorda à PiT Billy Mail. “Ela começou a vir todos os dias porque precisava de muita comida para se fortalecer”, acrescenta. Na altura, percebeu que Molly não tinha família e era uma lontra solitária. Diariamente, começou a deixar-lhe pedaços de peixes numa caixa para evitar que a comida fosse roubada por gaivotas e a pequena continuou a aparecer vezes e vezes. 

“Ela simplesmente começou a passar tempo connosco.Não era só por causa da comida, parecia mesmo que estava à procura de uma companhia”, partilha Susan, a mulher de Billy. “Depois, saltava para a água. Acho que foi aí que percebemos que era mais do que apenas um animal selvagem em busca de comida. Percebemos que faríamos parte da vida dela.”

Ainda hoje, volvidos três anos, Molly continua a visitá-los, mas não com tanta frequência porque acabou por criar a sua própria família — já foi mamã duas vezes e não se importa quando os bebés lhe roubam a comida. 

A história da lontra chamou a atenção de Charlie Hamilton James, um fotógrafo de vida selvagem da National Geographic, que passou uma temporada com a família. Desta longa visita, nasceu o documentário “Billy e Molly: Amizade Improvável”, que se estreia esta segunda-feira, 21 de outubro, na National Geographic, às 20h50.

“Foi muito emocionante e ficamos surpreendidos”, diz o casal sobre a primeira vez que assistiram a produção. “Ao longo das gravações, vimos algumas partes, mas ficamos muitos emocionados quando assistimos a tudo já editado”. 

Billy partilha que as visitas de Molly são mais frequentes durante o inverno porque nesta altura, é mais complicado encontrar comida no mar e o frio pode ser também um problema. “Ela vem a cada dois dias, mas nem sempre interagimos com ela”, explica. “Colocamos a comida, ela vem, apanha-na e vai embora”. 

Billy e Molly. Foto: National Geographic/Johnny Rolt.

Billy construiu uma casa para a lontra — até tem Wi-Fi

O casal vivia na caótica cidade de Aberdeen antes de se mudarem para Shetland. Os dois tinham a típica vida de cidade grande — trabalhavam até ás tantas e mal tinham tempo para aproveitar a vida. Durante a pandemia de Covid-19 e com a morte dos pais de Billy, mudaram-se para uma casa a poucos metros do mar na ilha de Shetland. Ainda assim, os problemas não desapareceram.

Ainda a lidar com a perda e com as confusões da construção da nova casa, Billy estava prestes a entrar numa depressão grave. Quando Molly apareceu, foi um “sopro de ar fresco”. À PiT, conta que a primeira vez que viu a lontra não percebeu logo que estava faminta. O primeiro instinto foi a curiosidade — aproximou-se cuidadosamente do animal para ver até onde conseguia ir sem o assustar.

“Quando cheguei a cerca de dois metros, percebi que estava faminta e sozinha. Foi o que desencadeou a minha vontade de a alimentar”, recorda. O resto, é história. Dias e semanas passaram-se e o casal começou a perceber que a lontra gostava da companhia. Houve um dia em que até teve a oportunidade de conhecer Jade, a cadela de Billy e Susan.

“A Jade nunca gostou de estar com outros cães, mas adora a sua bola”, conta o tutor. “Houve um dia em que ela estava deitada na relva, a Molly saltou da água e percebemos logo que teve muita curiosidade quando viu a Jade. Pedi para que [a cadela] ficasse deitada e não se mexesse. A Molly andou pelos arredores e depois foi-se embora. Desde então, elas aprenderam a respeitar-se mutuamente.”

Com o tempo, Billy decidiu construiu uma pequena casinha para Molly, com uma manta e três fotografias: uma sua, outra de Susan e uma terceira de Jade. Depois, certo dia, quando estava aborrecido, decidiu elevar o “apartamento” da lontra e instalar uma rede Wi-Fi. “Foi algo que surgiu por acaso”, diz, entre risos. “Nem eu tenho Wi-Fi”, brincou Susan. Mais tarde, o abrigo acabou por se tornar num porto seguro para Molly e os seus bebés.

“Quanto mais ofereces, mais recebes de volta”

É esta a principal lição que Billy e Susan aprenderam com Molly. Quando a começaram alimentar, não estavam à espera de ter a vida transformada por uma lontra selvagem, mas a verdade é que a pequenota trouxe (e continua a trazer) muita alegria. 

“Ao ajudar a Molly, aprendemos que quanto mais ofereces, mais recebes de volta”, frisa à PiT Susan. “Não tenham medo de tentar ajudar uma vida selvagem. Estamos todos rodeados de animais selvagens que estão a precisar de apoio e mesmo que não saiba o que fazer, descubra o que comem e dê-lhes um pouco de comida.”

Molly, hoje com quatro anos, tem a mesma personalidade que há três anos, quando foi avistada pela primeira vez. “Ela é muito curiosa. Se tivermos qualquer coisa nova, seja um vaso de planta ou um carro, ela tem de vir dar uma olhada”, conta. “É como um gato”, brinca a mulher. 

A curiosidade da lontra fez com o casal vivesse vários momentos cómicos ao seu lado. Houve um dia que recebeu amigos em casa e Susan estava sentada no exterior a beber um copo de gin com água tónica e limão. “Levantei-me para ir buscar uma bebida para alguém, e ela veio e tirou a rodela de limão do meu copo. Por sorte, tinha terminado de beber.”

Quando viu a lontra a correr com o limão na boca, gritou o seu nome e Molly soltou-o de imediato. Outro dia, a lontra saltou para dentro de um carro que parou perto da residência do casal para espreitar o que tinha lá dentro. “Uma vez a Susan chegou do mercado com dois sacos. Ela levou o primeiro para dentro de casa e quando voltou para pegar o segundo, a Molly já estava a esvaziá-lo para ver o que tinha dentro”, recorda Billy. 

Através do documentário, que chega mais tarde à plataforma de streaming Disney+, o casal espera inspirar outras pessoas. “O filme acabou por mostrar um lado de compaixão muito especial e o mundo precisa disso agora. É uma espécie de escapismo. Espero que inspire o cuidado um com o outro, sejam humanos ou animais”.

De seguida, carregue na galeria para saber mais sobre Molly e a sua família, com fotografias de Johnny Rolt para a National Geographic.

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