Há já dois anos que a GNR investiga vários casos de exportação ilegal de cães, que saem de Portugal em direção a outros países europeus, sem que o seu destino seja conhecido. No dia 24 de abril foram dados como suspeitos destes crimes nove pessoas e três associações.
A informação foi adiantada pela própria entidade, que na passada quinta-feira, 1 de maio, explicou em comunicado que “foi possível apurar-se que os suspeitos se dedicavam à recolha, tratamento e exportação de animais para o estrangeiro”. A operação decorreu nos distritos de Braga, Porto, Vila Real, Bragança, Guarda, Santarém, Lisboa e Setúbal, e foram apreendidos documentos, equipamentos informáticos e 5111,20 euros.
Apesar de a investigação durar há apenas dois anos, Ana Pinto da Costa, responsável pela associação Comraça, garante que este processo “acontece há décadas”. Acrescenta tratar-se de algo “do conhecimento geral na causa animal, mas que tem sido escondido do público”.
O processo da GNR foi iniciado depois da realização de uma reportagem pela estação TVI, que em janeiro de 2023 investigou o fenómeno. A associação de Matosinhos esteve envolvida nesta produção, que impulsionou o seu nascimento. “Quisemos perceber exatamente o que se passava. Reunimos algumas provas, que entregámos ao SEPNA (o Serviço de Proteção da Natureza e dos Animais) para que investigassem”, conta.
Os cães têm vindo a ser requisitados por estas organizações suspeitas aos centros de recolha municipais, e exportados sobretudo para a Dinamarca, para os Países Baixos e para a Alemanha, sem que se saiba exatamente o que lhes acontece, ou em que condições vão. “Dizem que é para serem adotados nestes lugares, onde as empresas que os compram alegam que não há animais para adoção”.
“Os envios não são transparentes. Por vezes mostram fotografias com quatro ou cinco cães, que aparentemente estão bem, quando sabemos que as carrinhas levam pelo menos 40 ou 50”, acrescenta a presidente.
Estas associações “alegam que não existem adoções em Portugal, e que por isso se veem obrigadas a enviar os animais para outros países, onde possam ser adotados”. Contudo, a investigação conduzida há dois anos mostra que estes grupos não promovem as adoções, nem dão a conhecer os animais que têm nos seus abrigos em plataformas portuguesas, fazendo-o apenas nas páginas online estrangeiras.
Ana explica ainda que o fenómeno é justificado pelo ganho monetário dos responsáveis pelas entidades portuguesas, já que estas “cobram uma taxa de adoção, que vai dos 300 aos 700 euros por animal. Justificam-nas dizendo que serve para cobrir as vacinas, e outros custos veterinários e de transporte, quando, na realidade, esses custos já tinham sido cobertos pelos contribuintes”.
Percorra a galeria para conhecer alguns cães para adoção da associação Comraça.