Há cães com vivências muito duras. Muitos surgem do nada, abandonados, a tentarem adaptar-se a uma nova vida – a da rua – e o medo que trazem nos olhos é quanto basta para se perceber que nada lhes terá sido fácil. Foi esse o caso de um jovem patudo, com perto de três anos, que apareceu em março passado na vila de Taveiro, no distrito de Coimbra. Quis a sorte que se cruzasse com as pessoas certas, que começaram a alimentá-lo e que até lhe arranjaram uma casota. Rapidamente recebeu um nome – Faísca – e começou a conquistar o carinho de cada vez mais habitantes da zona. Tornou-se um cão comunitário e nada lhe faltava. E agora teve o seu presente maior: foi adotado.
Um dos seus primeiros protetores foi Daniel Gomes, de 39 anos. Apaixonado pela gentileza de Faísca, que foi perdendo o medo e que ficava muito feliz quando o via, foi fazendo o que podia para que o patudo tivesse a melhor vida possível. E ao aperceber-se de que havia mais pessoas que o alimentavam, criou um grupo no Facebook, chamado “Amigos do Faísca – o cão de rua de Taveiro”, para que todos pudessem ir colocando fotografias e informações importantes, como as datas em que era desparasitado e as necessidades de alimentação.
O grupo contava com 86 membros quando Daniel contou à PiT, em maio, a história de Faísca. Mas a sua fama foi crescendo e hoje supera já os 400 membros. E Daniel, que o levava a passear sempre que podia, foi também quem lhe deu um lar, com a adoção a ser oficializada na semana passada. Nesse mesmo dia, com orgulho, o grupo mudou de nome: “Os Amigos do Faísca – o cão que adotou Taveiro”.
O localizador que levou Faísca a escolher o seu lar
Tudo começou quando os amigos de Faísca se juntaram para comprar um localizador para colocar na sua coleira e, assim, saberem sempre por onde andava. Mas o GPS tem de ser carregado e o jovem cão começou a gostar muito de uma das suas rotinas do dia: ir a casa de Daniel carregar a bateria do localizador. Na casa havia já uma cadela residente, a Leão da Rodésia Diva, com seis anos, e ambos se deram muito bem. E, com o passar dos dias, Faísca começou a querer ficar lá por casa para passar a noite. O destino estava a juntá-los cada vez mais. Até que Daniel e a restante família tomaram a decisão: Faísca deixaria de ser um cão de rua.
“Está oficialmente adotado. E adaptou-se muito bem. Usa o sofá e a nossa cama, apesar de lhe ter comprado uma caminha para ele”, conta Daniel à PiT, com uma gargalhada. “Ele e a Diva dão-se muito bem. Ela já é mais madura, faz sete anos em setembro, e gosta mais de estar sossegada. Mas ao final da tarde tiram sempre um bocadinho para correrem e brincarem os dois pelo jardim”, explica.
A notícia da adoção deixou todos os seus protetores muito felizes. E a união que ali se criou, naquele grupo do Facebook, continua e está cada vez mais forte. Foi Faísca que os uniu e é o amor pelos animais que os mantém juntos. “Apesar de o Faísca agora ter um lar, continua muito acarinhado pela comunidade. Perguntam sempre por ele e fazem uma festa quando vamos passear à rua. Os passeios prolongam-se sempre, à conta do carinho dos admiradores do Faísca. O grupo continuará ativo para ir postando notícias, fotos e vídeos do nosso amigo. Servirá também para divulgar pedidos de adoção e animais perdidos”, diz Daniel Gomes.
Grupo continua ativo. Só mudou de nome
Quanto à casota, que estava um verdadeiro encanto, está agora em casa de Daniel. “Aqui está a casinha do Faísca. O Faísca? Esse está em casa ao fresquinho. Fica como recordação e para se quiser resguardar-se nas tardes quentes de verão, quando anda no exterior. Está a ficar fidalgo”, contou Daniel aos membros do grupo. Mas a razão para a casota ter sido retirada do local não foi a mais feliz. “O facto de estar lá a casota e saberem que ali cuidávamos do Faísca, levou a que outras pessoas despejassem lá uma ninhada de gatinhos e dois cachorrinhos. Para dissuadir situações futuras, retirámos a casota e trouxemo-la para casa, para junto do Faísca. Está no jardim e, apesar de dormir em casa, é o seu ‘abrigo’ onde pode passar as tardes de verão ao fresco”, explica à PiT.
Foi a 17 de julho que os amigos de Faísca deram com a “surpresa” que ali tinha sido deixada. “Seis gatos e dois cães abandonados na casota do Faísca. Sem palavras!”, escreveu Daniel. Nesse mesmo dia, também Giovana Branco, membro do grupo, lamentava o “ato de irresponsabilidade” e dava conta de que, felizmente, todos tinham sido resgatados e recebidos pela associação Condeixa Pa’tudos. Os cães, que afinal eram cadelinhas, ainda brincaram no jardim de Daniel Gomes antes do acolhimento pela associação, que espera agora encontrar boas famílias para todos.
O merecido final feliz de Faísca
Para Faísca, o seu abandono em Taveiro acabou por se tornar o momento de viragem da sua vida, rumo a um futuro melhor. Quando apareceu na vila, “era um cão medroso, sempre de rabo entre as pernas e olhar triste”, contou Daniel à PiT. “Dei com ele junto do cemitério da vila. Ali permanecia, dia e noite, a maior parte do tempo deitado, apático. Era claro que tinha sido abandonado e esperava por quem não prometeu voltar. Ainda coloquei a hipotesse de estar perdido e tentei ler o chip. Claro que não tinha”, explicou então.
Mas agora tudo mudou. Faísca já esqueceu tudo o que de mau viveu e tem agora uma vida digna, com uma boa família e muitos novos amigos – e todos eles o ajudaram a voltar a “sorrir” e a abanar a cauda. Percorra a galeria para ver a sua evolução.