Já todos ouvimos histórias sobre cães que dão a vida pelos donos e que os protegem a todo o custo nas piores situações. Ter conhecimento de mais uma não será, por isso, surpresa. Mas cada um destes patudos é uma verdadeira fonte de inspiração – e um modelo de lealdade e amor. Finney, uma Jack Russell Terrier, é um dos mais recentes exemplos disso mesmo.
Richard Moore, de 71 anos, e a sua mulher, Dana Holby, de 78, sempre gostaram de montanhismo e partilhavam do mesmo amor pelos cães – que nunca faltam na sua vida em comum. A residirem em Pagosa Springs, no estado norte-americano do Colorado, tinham por perto as montanhas, que eram o local perfeito para as suas caminhadas. Tinham uma vida pacata e feliz. Mas a 19 de agosto tudo mudou.
Nesse dia, Dana estava em Montana, de visita a uma irmã que estava adoentada, e o marido disse-lhe ao telefone que ia caminhar com Finney, a cadela de três anos do casal. A sua ideia era subir ao cume de Blackhead Peak – uma montanha com perto de quatro mil metros, que ficava a 56 quilómetros da cidade onde viviam – e Dana pediu-lhe para não ir sozinho. Mas Richard foi.
Ao fim do dia, Richard Moore e Finney não tinham regressado a casa. Dana sabia que algo tinha acontecido. Avisou de imediato as autoridades e as buscas começaram prontamente a partir do local onde Richard tinha deixado o carro estacionado. Durante 16 dias, mais de 100 voluntários, acompanhados de alguns cães e drones, escrutinaram a montanha, mas sem sucesso. Nem sinal deles. Mesmo depois disso, sempre que algum montanhista ia para a zona ficava atento. Mas nada. A esperança foi-se desvanecendo.
Quando o outono chegou, Bill Milner, um amigo do casal, sentiu que Richard e Finney não regressariam. Afinal de contas, nem os seres humanos nem os cães estavam preparados para sobreviver durante tanto tempo nas encostas de uma montanha, disse à “Outside Magazine”. A sua esperança era a de que um caçador algum dia os encontrasse. E foi precisamente isso que aconteceu – mas, inacreditavelmente, a cadela estava viva.
Finney não largou o dono
A 30 de outubro, um caçador telefonou às autoridades locais dizendo ter encontrado um corpo e um cão numa colina da montanha. Todos presumiram que o “patudo” também estaria morto. Mas Finney estava viva, embora muito debilitada, e a proteger o corpo do dono. Quando a ajuda chegou, rosnou e mostrou os dentes, encostada a Richard, mas acabou por se deixar pegar. Com o seu corpo frágil e magro, nem parecia a mesma – tinha perdido mais de metade do peso, ao passar de cerca de 5,5 quilos para 2,3 quilos, e as costelas estavam bem visíveis.
Quando Dana soube que tinham sido encontrados, custou-lhe acreditar que a cadela estava viva. Mas a raça Jack Russell Terrier é muito desenvencilhada e o que se presume é que terá conseguido caçar comer pequenos animais e insetos. Foram 72 dias – mais de 10 semanas. E estava viva. Ainda tinha a coleira violeta, pendurada no seu pescoço muito mais magro.

Feita a autópsia, percebeu-se que Richard morreu de hipotermia. Ter-se-á desorientado, não conseguiu sair da montanha e ali perdeu a vida. Para Dana e para os filhos, terem podido despedir-se condignamente de Richard foi muito importante. E Finney é uma memória viva daquele homem sorridente que protegeu até ao fim.
Como sobreviveu Finney?
Em declarações à Sky News, Delinda Vanne-Brightyn, treinadora de cães que fez parte das buscas com o seu Pastor Alemão, acredita que Finney terá conseguido beber água de riachos subterrâneos e que terá capturado pequenos animais, como ratos ou esquilos, para comer, ao mesmo tempo que conseguiu evitar predadores como leões, coiotes e ursos. “A magnífica história de sobrevivência de Finney testemunha a sua dedicação e lealdade a Richard Moore. Os Jack Russell são cães fortes e resistentes”, afirmou.
Finney tem estado a recuperar peso e em breve regressará às caminhadas, agora apenas com Dana – e outros membros do clube de caminhada. A cadela e Richard eram muito apegados, pelo que Dana tem ainda roupa com o cheiro dele junto à cama de Finney, para que ela, de alguma forma, possa matar saudades do dono.
Para Dana, ter a Jack Russell por perto é algo que a tem ajudado muito. “Ela é um grande conforto para mim e uma grande companheira. Sei que estava com o Rich nos seus momentos finais e, de certa forma, isso consola-me. Não sei como é que ela o terá feito, mas sei que estava lá quando ele precisou dela”, disse Dana à Associated Press. Pecorra a galeria para os conhecer melhor.