Por uma razão ou por outra, Inês Sousa Real estava destinada a cuidar dos animais. Já na barriga da mãe tinha contacto com eles e aos três anos, teve de lidar com a perda de Rá, o Pastor-Alemão da família. A tristeza foi tão grande que os pais tiveram de a arranjar outro cão e desde então, nunca esteve sozinha. “Não imagino a minha vida sem ter animais de companhia. Aliás, meter a chave à porta de casa e não ter um animal é algo para mim inimaginável”, frisou.
A deputada foi a convidada desta semana do PiT Stop, o podcast da PiT em que os animais de figuras públicas são os protagonistas. Inês Sousa Real recordou os muitos animais que teve ao longo da vida, o trabalho como ativista e porta-voz do partido Pessoas-Animais-Natureza (PAN) e os avanços da sociedade em relação ao bem-estar animal. Ao longo do episódio, à conversa com Nuno Azinheira no estúdio da NiTfm, também não deixou de mencionar as propostas do partido e os planos para o Orçamento do Estado para 2024.
Em 2023, teve 25 das suas propostas aprovadas no orçamento para este ano. Mas uma considerada “crucial” ficou de fora: o reconhecimento ao luto pela morte de animais de companhia. E para Inês Sousa Real, apesar de todas as lutas como “animalista” serem fundamentais, esta, em especial, é algo que carrega mais próxima do peito.
Há cerca de dois anos, disse adeus à cadela Luna, que foi adotada aos dez anos e aos 16, teve de ser eutanasiada por causa de um tumor cerebral. Na altura em que a companheira esteve em fase terminal, a porta-voz do PAN estava em campanha eleitoral e não foi fácil. “Tive de chegar, muitas vezes, atrasada a eventos porque tinha de lhe dar medicamentos, tinha de cuidar da Luna e isso era a prioridade”, sublinhou.
Apesar de já ter acolhido vários animais, pela primeira vez na vida teve de tomar a decisão de a deixar ir. “Há um momento em que pensamos que, se calhar, estamos a ser egoístas, que estamos a mantê-los por nós”, frisou. “Durante muito tempo, o meu coração estava com uma grande mágoa e não conseguia pensar sequer em adotar um animal”, confessou.
Hoje, é ao lado do gato Mikas, que em março celebrou 13 anos, que partilha o amor pelos patudos. O felino sofre de “síndrome de filho único” e desde a morte da “mana”, nunca teve outro irmão. Afinal, nunca gostou “de misturas”. Mas quando a cadela ficou doente, não saiu do seu lado. “Os animais surpreende-nos por aquela que é a sua capacidade de perceção e respeito dos outros”.

“Temos de aprender a coexistir. A nossa relação de vizinhança não é só com as pessoas”
Nos últimos anos, os animais têm sido protagonistas de várias lutas em Portugal — a petição a favor da lei contra os maus-tratos, as variadas manifestações, os abandonos, a batalha diária das associações e dos seus protetores, entre outros. Contudo, nem todas com um final feliz. “O nosso País, infelizmente, está a anos luz de boas práticas”, lamentou Inês Sousa Real.
A porta-voz do PAN acredita que, em comparação a países como Espanha e Alemanha, as leis animais em Portugal estão estagnadas. “O PAN recebe cerca de mil denúncias por ano e muitas são de maus tratos aos animais”, explicou, acrescentando que acredita que o número tem aumentado cada vez mais porque a sociedade civil “está mais desperta”.
No entanto, as leis continuam a não refletir a luta diária dos ativistas. Entre as propostas do partido rejeitadas pelo Governo no ano passado, estava ainda a redução do IVA nos serviços médicos veterinários e a criação de um hospital veterinário público.
“Isso não pode ser encarado como um bem de luxo e acho que já esta na altura do Governo deixar de alguma forma de olhar de uma forma apenas economicista para esta área”, disse, acrescentando que para o Orçamento do Estado de 2024, as duas propostas serão “prioridades” para o partido.
“Ao longo dos anos, temos conseguido fazer uma grande evolução. Desde que entrámos na Assembleia, passámos de 2 milhões para 13,5 milhões. É, de facto, um valor significativo. Estamos a falar de mais de 25 milhões de euros que conseguimos para a proteção animal no Orçamento do Estado, só que temos de ir mais longe”.
Por outro lado, os animais domésticos não têm sido as únicas estrelas nas propostas do partido. O PAN tem-se focado ainda na abolição das touradas, na caça à raposa e nos animais selvagens. “Temos de aprender a coexistir. A nossa relação de vizinhança não é só com as pessoas, há um espaço que tem de ser reservado para os animais e, infelizmente, este é cada vez menor”, referiu. “Maltratar ou espancar um cavalo é tão grave quanto espancar um cão”.
A deputada acredita que a relação do partido com as animais também está fortemente ligada ao bem-estar dos seus responsáveis. “Ao protegermos os animais, também protegemos as famílias e vice versa”, afirmou. “E mesmo que estivéssemos a falar só de animais e da sua proteção, são seres vivos que sofrem, que sentem e se apegam às pessoas com quem estão. Portanto, proibir ou penalizar os maus tratos e o sofrimento é uma questão de dignidade humana. É um principio ético e moral que não faz sentido que não esteja hoje em cima da mesa na sociedade civil”.
Pode ouvir aqui o episódio na íntegra. De seguida, percorra a galeria para ver fotografias de Inês Sousa Real com os animais.