Khai, Búzio, Artur, Nina, Castanha, Estrela, Tosta Mista são apenas alguns dos melhores funcionários das empresas portuguesas. Uns mais inquietos, outros mais calmos, mas todos cumprem com isenção as funções que lhes são atribuídas. E não estamos a falar de humanos, mas sim dos seus patudos.
Os benefícios estão à vista, e já há empresas em todo o mundo a percebê-los e a incorporá-los no ambiente de trabalho. Os animais de estimação podem ser uma grande ajuda na melhoria da disposição, bem-estar e produtividade do trabalhador. E não é apenas lá fora que há provas disso.
“O Khai não só me ajuda no trabalho, como na minha vida. Os animais trazem tranquilidade. E, como as pessoas andam mais felizes, são mais produtivas”, começa por contar à PiT Eduardo Pintado, Gestor de Equipas na empresa Cocus.
O Pastor Australiano com apenas 11 meses é presença assídua nos escritórios sediados em Matosinhos, no Porto, da tecnológica de origem alemã. E não é o único. Há muito que a Cocus percebeu as vantagens da presença dos animais junto dos colaboradores: “Já era feito na Alemanha, e decidimos incorporar o mesmo cá. Começou por ser algo informal, em que o trabalhador trazia o cão e ele ficava ao pé dele, mas depois críamos uma plataforma para o monitorizar”, explica à PiT Alexandra Monteiro, Unit Manager of People.
O bem-estar dos colaboradores sempre foi uma grande prioridade da empresa. Além de permitir que trabalhem à distância, através de qualquer sítio do País, fornece um regime híbrido, possibilitando que fiquem em teletrabalho quando assim desejarem. Nomeadamente, quem não adora estar na companhia de animais.
“Através do nosso site ‘Pets at the Office’, os trabalhadores podem colocar os dias em que vão levar os seus animais de estimação, para não coincidir com outros. Já as pessoas com alergias ou que não queiram estar com eles, podem escolher ficar em casa nesses dias”, continua a responsável de Recursos Humanos da empresa.

Apesar de haver a possibilidade, não acontece com frequência, pois, na Cocus, “não há ninguém que não goste de animais”: “É muito engraçado, porque, quando alguém chega com o seu cão, vê-se uma avalanche de pessoas a ir ter com ele, para perguntar o nome e dar mimos. Até perfis mais introvertidos mudam completamente a forma de falar e começam com uma voz mais esganiçada”.
Búzio é um dos impulsionadores para isso acontecer. Com apenas meio ano de existência, veio fazer companhia à “velhota” Ostra, com dez anos, que já se “reformou” e não vai ao escritório com o dono, José Branco, Unit Manager. “Só o levei três vezes, porque não vamos muitas vezes lá. Mas é uma companhia positiva e empática, que dorme tranquilamente em cima da minha mochila e passeia para dizer olá a toda a gente”, descreve à PiT.
Além de aumentar a produtividade e de melhorar o humor, José confessa que olhar para Búzio, ali deitado, ao seu lado, enquanto trabalha, lhe faz “colocar as preocupações em perspetiva”: “O trabalho, as pessoas, as reuniões… Eles faz-me esquecer tudo isso e conseguir relaxar e querer viver a vida um dia de cada vez”.
Não são apenas as preocupações durante o horário de trabalho que consomem os colaboradores com animais em todo o mundo. Agora que se tem falado na hipótese da justificação de faltas ao trabalho pelo luto pela perda de um animal de estimação, é crucial pensar também na sua saúde. Foi o que fez a Cocus.
“Criámos um seguro de saúde que também inclui os animais. Já tínhamos um que compreendia o agregado familiar, mas que só incluía as pessoas que moravam na mesma casa. O objetivo foi equilibrar os benefícios e permitir que, quem não tenha agregado, possa colocar também os seus animais”, explica Alexandra Monteiro.
Como são a primeira empresa portuguesa a fazê-lo, ainda é difícil determinar quais os custos incluídos no seguro. Mas serão todos os correspondentes “à proteção dos animais”, nomeadamente veterinários, vacinas, tosquias, corte de unhas, entre outros.
O escritório como um parque infantil
De vez em quando, levantam as pernas para deixar passar um patudo ou sentem o pêlo sedoso de outro a roçar pelas pernas a pedir por atenção. Os animais proporcionam imensas gargalhadas nos escritórios onde entram, e isso não desconcentra os trabalhadores. Pelo contrário.
Num estudo feito pelas sedes europeias, incluindo a portuguesa, da empresa Purina, verificou-se que “44 por centro das das pessoas acreditam que ter pets no trabalho melhora o equilíbrio trabalho-vida pessoal“, e 34 por cento acreditam que criam uma “atmosfera mais descontraída”, melhorando o “desempenho e produtividade”, os “índices de envolvimento, retenção e bem-estar” e ajudando a “reduzir o stress”.

Se os números não falassem por si, os trabalhadores da subsidiária da Nestlé que o digam. Ana Silva, Marketing Manager Grocery, Corporate Brand & Digital da Nestlé Purina PetCare Europe, Middle East & North Africa, começou a levar o seu cão desde os primórdios do arranque da ideia. E, até hoje, não se arrepende.
“Já havia vários desafios a nível europeu que eram dog friendly, e nós também acreditamos que as pessoas estão melhores com os seus pets. Começámos por fazer a Pet Week, em 2008, em que as pessoas podiam levar o seu cão durante uma semana. Mas foi em 2016, que pude começar a levar o Artur durante mais tempo”, esclarece à PiT.
Artur costumava sofrer de ansiedade de separação, e era muito difícil ficar em casa sozinho. O que é natural, tendo em conta que o Cocker Spaniel estava praticamente destinado à sua tutora: “Sempre tive cães, mas, após perder o Snoopy Xavier, que esteve comigo durante 16 anos, decidi que não queria mais nenhum. O meu marido lá me foi convencendo, e escolhemos a raça que melhor encaixava nas nossas condições”.
Andavam à procura de criadores de Cocker Spaniels, já sabendo o nome que iam dar ao seu animal: “Sempre disse que se chamaria Artur, por ser o reizinho cá de casa. Foi então que vi que uma ninhada que tinha nascido a 6 de janeiro, o dia de Reis. Pensei: ‘Isto é um sinal'”, confessa.

Estão juntos desde então, e há quase oito anos que Artur pisa o chão dos escritórios da Purina, localizados em Linda-a-Velha, em Lisboa. Já viu entrar e sair muitos patudos, inclusivamente gatos e pequenos animais, que são menos frequentes “por ser stressante para eles”, e agora conhece bem os 31 cães certificados da empresa.
Antes de poderem andar livremente pelo escritório, tendo sempre que usar trela, os cães têm de passar por um processo de certificação, para “garantir que tudo corre bem e que são felizes no escritório”. Primeiro, são examinados, pelas veterinárias da empresa, para perceber se têm as vacinas em dia e se estão de boa saúde.
Depois, são avaliados a nível comportamental, por uma entidade externa, a associação Click Positivo, para confirmar se são sociáveis e se dão bem com outros animais e pessoas. E tudo isto é muito simples e rápido: “Temos uma caixa de e-mail para os tutores enviarem os documentos. Depois, analisamos cerca de quatro ou cinco cães e despachamo-los a todos numa manhã”.
Só assim é possível que Estrela, a cadela de nove anos de Rodrigo, vá ao escritório “cumprimentar os colegas”, que Castanha, da mesma idade, fique o dia inteiro sossegada ao lado de Bárbara, que Luna, cadela com um ano de Susana, “tenha muitas tias” e que fique entusiasmada quando ouve um “Vamos trabalhar?”, e que Ninja, o cão de dez anos de Pedro, seja o único a adorar o trânsito matinal.

E o bem-estar não se vê apenas nos patudos. “Acho que quem fica mais em stress quando deixa os animais em casa são os donos. Até porque eu tenho uma câmara para ver se a minha Nina está bem em casa, e ela está sempre tranquila. Mas, quando a trago, ficamos os dois tranquilos”, explica à PiT Ricardo Sousa, gestor de equipas de vendas das pet shops.
Quando Ricardo adotou Nina, durante o confinamento, já sabia das políticas pet friendly da Purina. Aliás, foram as mesmas a impulsionar que isso acontecesse: “Levá-la para o trabalho permite uma socialização muito grande com os colegas. Posso fazer pausas que não faria se não tivesse que a passear. Levo-a ao nosso dog park, para as reuniões… É uma experiência muito positiva.
A cadela não vai tantas vezes quanto isso ao escritório. Apenas quando Ricardo e a mulher têm os dois de se deslocar ao trabalho. E, quando assim é, nem é opção ir com a dona: “A empresa dela não permite animais. Só a pôde levar uma vez, que era uma atividade no exterior, e aproveitou para a mostrar aos colegas”, lamenta Ricardo.
Mesmo com uns quantos latidos, alguns pêlos no chão e ligeiros encontrões por atenção, não há quem se queixe da presença de animais no ambiente de trabalho. Pelo contrário, há quem vá só para os ver. E isso nota-se nos resultados.
Carregue na galeria para ver algumas fotografias dos cães da Cocus e da Purina.