“Num mundo ideal, a Mad Panda não tinha de existir”, garantem. Liliana e Joana têm uma paixão em comum: os animais. Mas não foi por isso que decidiram criar uma associação. A necessidade e a vontade de gerar uma mudança foi a mola que as catapultou.
Em 2021, mais de 43 mil animais abandonados chegaram a abrigos, canis e outros centros de recolha. Fora aqueles que são deixados na rua, ao relento, sem saber como será o dia seguinte. Por muito que a solidariedade fale mais alto, e que as associações queiram ajudar, pouco há a fazer na falta de recursos, nomeadamente financeiros, humanos e até médicos.
Foi daí que surgiu a Mad Panda, quando duas amigas se decidiram juntar para dar voz a esses problemas e para os tentar solucionar de uma forma eficaz. Liliana Castro, 33 anos, e Joana Moreira, 32 anos, são os rostos por trás do panda enfurecido que ecoa os direitos das associações pela Internet e no terreno.
Durante anos, recorriam aos próprios bolsos para ajudar as instituições que assim o necessitavam. No entanto, em 2020, e com a pandemia, pensaram: “Se não é neste momento crítico que podemos fazer algo mais, quando é?”, descreveu à PiT a fundadora Liliana.
Puseram mãos à obra e começaram a trabalhar nos três polos cruciais que queriam focar a Mad Panda: “Visibilidade à causa animal, combate às necessidades e lobby político para mudar certas leis que facilitem os outros dois pilares”, enumera.
Pegaram, assim, nas experiências profissionais anteriores, nomeadamente em marketing e em comunicação, e criaram um formato atrativo de divulgação dos problemas existentes. Através do amarelo berrante, das setas efusivas e dos “gritos” exclamativos, chegaram a diversos parceiros e marcas, que as ajudaram a tornar-se num centro de “doações e angariação de fundos a associações”.
Antes, punham a mão ao bolso para ajudar. Hoje, são o bolso de muitas associações
“As marcas têm as chamadas ‘quebras’, ou seja, quando os produtos já estão perto da data de validade ou as embalagens estão danificadas, já não podem ser vendidos”, começa por explicar Liliana à PiT. “O que é que acontece? Esse produto vai para o lixo”.
Enquanto tal decorre, há animais a passar fome e a ter outros problemas de saúde em consequência disso: “Percebemos que podia haver um sistema circular, em que a comida passava a ser-nos entregue e depois nós levávamos às associações”.
Foram várias as marcas interessadas a colaborar com este sistema. Entre Barkin, Royal Canin, Purina e até Pingo Doce, já acumularam cerca de 15 toneladas de ração para cão e gato, nos últimos dois anos.
Não é dar só por dar e, mesmo que Liliana, Joana e os outros 12 voluntários fiquem contentes só com o simples ato de ajudar, tentam especificar ainda mais essa solidariedade: “Damos resposta aos problemas alimentares de cada animal com a ração que temos. O ponto que conseguimos atacar é a distribuir alimentação de qualidade e que corresponda às necessidades. Por exemplo, se um dos animais tiver problemas urinários ou gástricos, tentamos dar ração que não seja essencialmente à base de farinha”.
Desta forma, ajudam associações em todo o País, mas maioritariamente no norte do país, onde estão sediadas. A Mad Panda, no entanto, ainda está longe de atingir os seus objetivos na distribuição alimentar, e não é por falta de esforço.
“As associações de animais não se podem candidatar a Instituições Particulares de Solidariedade Social (IPSS), o que dificulta muito as ajudas que podiam receber”, nomeadamente por parte das marcas que têm interesse em colaborar com a doação de rações, mas que são impossibilitadas de o fazer, por não conseguirem discriminar burocraticamente de onde elas saem, como explica Liliana.
Este é um dos exemplos que a voluntária e fundadora refere, quando reforça a necessidade de haver uma pressão política para a alteração de leis, e é isso que tem vindo a fazer.
Animais queimados e com a vida por um fio
Dos 20 aos 30 anos, foram várias as pessoas que se ofereceram para contribuir para a causa animal através da Mad Panda. E o trabalho não passa por ir buscar animais à rua — embora Liliana e Joana tenham cada uma adotado alguns que encontraram e que precisavam de ajuda — mas sim por desenvolver a comunicação das associações, para tornar visíveis as suas necessidades.
Houve um caso, no entanto, que obrigou muitos a ir para o terreno e a não conseguir conter as lágrimas. No mesmo ano da fundação da associação, em julho de 2020, um incêndio, em dois abrigo ilegais em Santo Tirso, matou 69 cães e quatro gatos.
Entre as acusações à Câmara Municipal, às autoridades e a outras entidades, houve 190 animais que se conseguiram salvar, e foram resgatados pelas diversas associações que estiveram no local. Entre elas, a Mad Panda.
A associação não foi responsável por alojar os animais que ficaram sem lar, mas pela logística de onde eles iam parar: “A nossa equipa teve a informação muito organizada. Sabíamos onde os cães e gatos estavam e sempre estivemos em contacto com quem os acolheu”, detalha à PiT.
Não só conseguiram seguir o trajeto de todos estes animais, como das suas necessidades: “Se existia um animal com queimaduras a precisar de um determinado medicamento, nós arranjávamo-lo para ele”. Fizeram, ainda, um documentário para o Youtube, de forma a explicitar o que lá tinha acontecido e em que ouviram diversas entidades, nomeadamente o PAN, pela voz de Bebiana Cunha, antiga deputada do partido.
Carregue na galeria para ver alguns dos momentos da associação Mad Panda ao longo destes dois anos, desde a sua fundação.