Família

Miguel e Isabel vivem no aeroporto — abdicaram dos cães e de noites bem dormidas

Foram despejados de casa e acabaram na rua. Tiveram que entregar Edgar e Nina a uma instituição, e podem mesmo ter que os doar.
Miguel está à procura de trabalho, e está disponível para tudo.

Viver bem nunca foi sinónimo de muito dinheiro para a família Martins. Isabel, 60 anos, e o filho Miguel, 29, sempre deram valor a um teto com comida na mesa, na companhia dos seus animais de estimação. Hoje em dia, nem isso têm.

Isabel trabalhou em clínicas de estética e como rececionista numa firma de advogados. Já Miguel, fez a sua vida nas cozinhas de restaurantes e cafés. Nunca estiverem habituados a grandes rendimentos, mas eram suficientes para suportar as necessidades básicas. Isso até 2018.

Tivemos que ir viver para a rua. Ficámos um ano e meio numa casa de ocupas”, conta Miguel à PiT. Apesar de não viverem com grandes luxos, mãe e filho tiveram que abandonar a vida caseira que tinham em São Pedro da Cova, vila de Gondomar (Porto). Eles e a sua cadela Nina, adotada nesse local, depois de a sua tutora viajar para a Alemanha e abdicar dela.

Entretanto, também Edgar, um patudo abandonado na rua, chegou às suas vidas. Mesmo a tempo de um novo começo. “Na pandemia, conseguimos arranjar um centro de acolhimento para nós e para os nossos animais. Estivemos lá durante dois anos, mais ou menos na altura dos confinamentos”.

Para grande felicidade de Isabel e  Miguel, quando tiveram que abandonar o centro de acolhimento, conseguiram arranjar logo uma casa para eles e os seus dois cães. No entanto, não era uma em que pudessem ficar muito tempo: “A determinada altura, a senhoria disse que queria a casa, e meteu-nos na rua. Ou melhor, mandou amigos dela meter-nos na rua. Tivemos que abandonar tudo: mobília, roupa, ração dos cães, tudo”, lamenta Miguel.

Saíram, no dia 24 de junho de 2022, com a roupa que tinham no pêlo, sem qualquer destino. Como já não era a primeira vez que isto acontecia, sabiam o que deviam fazer e a quem pedir ajuda. Mas nenhuma chegou. Nenhuma que desse para a família toda: “Conseguimos colocar os cães numa instituição. Desde que lhes vamos levando ração, eles podem lá ficar”.

Essa parecia ser a solução para Edgar e Nina, apesar de pouco cómoda, visto que os cães vivem numa boxe. Mas Isabel e Miguel continuavam sem saber para onde ir.

“Já estivemos na rua, mas esta é a mais difícil, sem dúvida”. Os dois recebem o Rendimento Social de Inserção (RSI), acumulando um total de 350€ por mês. Isso não dá para um quarto, para uma pensão, para nada.

Escolheram um local de esperança para ficar. Dos inícios de novas aventuras e das chegadas recheadas de memórias: o aeroporto Francisco Sá Carneiro. “Passamos todas as noites no aeroporto. É muito difícil. Uma pessoa não dorme, não consegue ter o sono que devia ter”.

Tal como Miguel e Isabel, muitas outras pessoas escolher o aeroporto para ficar. E as poucas palavras que trocam com os seus “vizinhos” são suficientes: “Então, mais um dia… Como está hoje?”

Não é ao acaso que a mãe e o filho optaram por descansar num local onde se iniciam novos sonhos. Também eles esperam que os seus se concretizam, para que tenham uma vida melhor. Miguel procura exaustivamente por um trabalho que lhe faça cair mais um dinheiro no bolso. “Neste momento, é qualquer coisa. Seja nas obras, a limpar tuas, tudo”.

Já Isabel, está a aguardar por uma pensão de invalidez, para que deixe de receber apenas o RSI. Edgar e Nina não sabem o que o futuro lhes reserva, mas Miguel sabe o que fazer se os seus sonhos não se concretizarem.

Uma nova vida para Edgar e Nina — mesmo contra a vontade de Miguel

“Isto não é vida para eles. Não podem passar os dias fechados numa boxe. Se nada mudar, vou ter que os dar para adoção”. Miguel não quer, de forma nenhuma, recorrer a esta opção. Por isso, pede ajuda e emoção àqueles que a tenham.

Cláudio Porto foi um deles. O bloguer e criador do movimento vegan “O Mundo Verde” tomou conhecimento desta situação através do próprio Miguel: “Quando estava em Sintra (Lisboa), já fazia alguma recolhas de alimentos e distribuía. O Miguel já seguia o meu trabalho há algum tempo e perguntou-me se o podia ajudar com ração para os seus cães”, conta à PiT.

O criador de conteúdos, que também é um grande amante de animais, tendo resgatado o seu cão Touché do IC19, há quase nove anos, ofereceu-se prontamente para contribuir. Encontrou-se com Miguel e deu-lhe os sacos de ração. Esta foi a primeira vez de muitas.

“Comecei a falar mais com ele e acabou por me contar a sua situação. Está desempregado, a viver com à custa do RSI. Teve que se separar dos cães, e ir ‘morar’ com a mãe para o aeroporto”. Cláudio começou por contribuir com ração, mas a amizade que estabeleceu com Miguel levou-o mais longe. Continua a ir entregar comida para Edgar e Nina, mas agora também ajuda os dois com sacos de cama e outras coisas que precisem.

Cláudio confessa, no entanto, que não dá para tudo: “Eu bem que tento, mas não ganho assim tanto para poder ajudar. Apelo às pessoas que conseguirem, para os apoiarem financeiramente ou com o que precisarem”, pede à PiT.

Miguel tem ainda a intenção de vacinar os cães e tratar da sua documentação, e Cláudio ofereceu-se para ajudar. “Ele queria pagar, mas eu disse-lhe que tinha dinheiro. Mas com alguns donativos tornava-se mas fácil”. O bloguer já usou as suas redes sociais, e agora só deseja conseguir colaborar com a concretização do sonho do amigo e da sua mãe,

Carregue na galeria para ver algumas fotografias de Edgar e Nina.

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