Família

Miguel Paiva: as saudades dos patudos após 60 horas a combater o fogo

É bombeiro em Amarante e esteve três dias sem ir a casa, a lutar contra incêndios. Molly, Cooper e Mel fizeram-lhe uma festa.

Na última semana e meia, centenas de incêndios no centro e norte do país causaram a morte de nove pessoas – entre as quais quatro bombeiros –, destruíram milhares de hectares de floresta e dezenas de casas e negócios de toda uma vida, tendo também provocado muitas vítimas entre os animais de companhia (muitos deles deixados acorrentados, sem hipótese de fuga) e de quinta.

Milhares de soldados da paz estiveram dias a fio sem irem a casa, numa luta feroz e desigual, até que o último foco estivesse extinto. Um deles foi Miguel Paiva, da corporação de Amarante, que esteve na frente de combate durante quase 60 horas. Durante esses três dias, três patudos esperaram ansiosamente pelo dono, sempre acompanhados pela sua mãe.

Foi na sexta-feira, 20 de setembro, que Miguel teve a feliz receção de Molly, Cooper e Mel ao abrir a porta de casa. O momento foi registado num vídeo divulgado no Instagram e que rapidamente gerou muitas reações de apreço e emoção, contando já com perto de 60 mil likes.

“Obrigado a ele e a todos que estiveram na luta”, dizia a legenda. “Respect, warrior. Damos muita atenção às celebridades e devíamos dar mais a estes heróis que arriscam a vida por nós”, “Um enorme obrigado e profundo agradecimento a quem veste esta e outras fardas e protege o nosso país” e “Nunca tantos deveram a tão poucos! Obrigada por tudo!” são alguns dos mais de mil comentários à publicação.

 
 
 
 
 
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Miguel e a família adoram cães

Pelo meio, houve alguém que perguntou se os cães tinham ficado sozinhos durante 60 horas. Miguel Paiva viu e respondeu: “Não, meu amigo, minha mamã tem 58 anos, não é bombeira, ficou em casa à espera que os seus quatro filhos regressassem do combate, e tinha os cãezinhos como companhia. Ela cuida deles, não lhes falta nada”. Perante o vídeo amoroso e a resposta tão gentil, quisemos conhecer Miguel, que nos contou um pouco da sua história. E, nesta casa de bombeiros, os cães também são família.

Miguel tem 27 anos e é um soldado da paz desde 2016. “Pertenço a uma família de bombeiros”, diz-nos com orgulho. E percebe-se porquê: com ele, nos Bombeiros Voluntários de Amarante, estão mais três irmãos e um primo. E como é sair para lutar pelos outros? “Quando se vai para um incêndio, acidente, ou outra situação fora do comum, existe sempre aquela adrenalina, existe o receio para não haver margem de erro, existe a sensação de que se vai fazer a diferença, há um pouco de tudo… mas é isso que nos motiva a ir, é sentir que alguém precisa de ajuda – e nós vamos para qualquer lugar sempre com a cabeça de que tudo correrá bem e que voltaremos para casa, para junto dos nossos, sãos e prontos para uma próxima missão”, conta à PiT.

Miguel
Bombeiro com orgulho.

Em casa, enquanto Miguel e os irmãos cumprem a missão à qual se propuseram, há quem fique à espera, de coração nas mãos, aguardando sempre por um regresso seguro: a mãe Alice. Mas não fica sozinha: a fazerem-lhe companhia estão Molly, Cooper e Mel – que também sentem muito a falta do dono, mas aos quais nada falta enquanto Miguel não chega.

A sensação incrível de se chegar a casa

“O chegar a casa é sempre uma sensação incrível… é o sabor de uma missão que terminou bem, é a sensação de estarmos na nossa zona de conforto. E colocar a chave na porta e ver três caras fofas de pata estendida é a melhor receção que se pode ter. Espreitar o quarto, ver a minha mãe a descansar com um olho fechado e outro aberto para ver que os filhos chegam sãos e salvos…  é a nossa tranquilidade e a dela”, afirma Miguel. “A minha mãe é viúva. O meu pai faleceu em 2016 por causa de um cancro… então só nos tem a nós. E quando estamos fora, a Molly, o Cooper e a Mel são a companhia e a tranquilidade dela! Cuida deles e faz tudo para eles se sentirem bem – e acaba por se distrair também”.

Além do casalinho Chow-Chow, a feliz Molly – sem raça definida – também faz uma grande festa ao ver Miguel chegar a casa. Está há menos de um ano na família, mas já sabe o que é ser amada e retribui com muitas patinhas no ar, à espera de dar e receber muito carinho na hora do reencontro. “Adotámos a Molly depois de a Fanny, que era a nossa caniche, ter falecido em fevereiro com 14 anos. Por isso, a Molly acaba por ser todos lá em casa”, explica, com um sorriso feliz.

E é com a mesma felicidade que Miguel fala das coisas mais importantes da vida. “Nunca tivemos luxos, nunca vivemos bem, mas, graças a Deus, a minha mãe nunca deixou faltar nada. Com a ausência do meu pai tudo ficou complicado… mas com humildade e dedicação tudo se consegue. Nós somos unidos e felizmente, hoje em dia, vamo-nos governando e seguindo em frente. O importante é que haja saúde e que todos se sentem à mesa… o resto são apenas acréscimos que não substituem ninguém”, remata. E aos pés da mesa, como uma verdadeira família, estão os três cães da casa – que não precisam de mais nada.

Percorra a galeria para os conhecer melhor.

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