Família

Milu espera diariamente por um afago e um passeio. São 60 como ela em Santo Tirso

A vida de um cão num abrigo é de espera. Passam cerca de 23 horas por dia numa box a aguardar por exercício e muitas festas.
Procura uma família.

Os cães que nascem na rua, ou que ali são abandonados, e que conseguem lugar no abrigo de uma associação são considerados animais com sorte. Passam a ter cuidados, carinho, amor e a segurança de um teto. Mas, por mais que os voluntários das associações se desdobrem para lhes darem o melhor, nada se compara a uma casa, a uma família. As noites nunca são de sono inteiro – há sempre um cão que ladra, que uiva, que chora. E os momentos para correrem um pouco e receberem festas personalizadas também são à conta. É por essas pequenas horas que aguardam todos os dias.

Um desses cães é a Milu, que chegou à Associação dos Amigos dos Animais de Santo Tirso (AAAST) no passado dia 24 de março, pela mão de uma enfermeira de Penafiel que nunca mais deu notícias.

“Uma enfermeira do hospital de Penafiel recolheu-a da rua e depois depositou-a cá e evaporou-se”, conta Rita Sousa, voluntária desde 2006 nesta associação do distrito do Porto. “A Milu retirou uma cadeia mamária e foi esterilizada no canil municipal de Santo Tirso. Retirou depois a outra cadeia mamária, tinha a barriga cheia de tumores”, diz a protetora à PiT.

Milu, que terá mais de sete anos, faz parte dos 60 patudos que estão ao cuidado da ASAAST e que sonha diariamente com o seu momento – as duas horas em que vai “esticar as patas”, correr e receber mimos personalizados. “É uma cadela fantástica, adora pessoas e é extremamente carente, Já com cães mostra-se resmungona, pelo que o ideal é ser adotada por uma família sem outros cães”, sublinha Rita.

Esta semana, a associação escolheu a Milu para mostrar como é a vida de um patudo no abrigo. “Pedimos a todos que vejam com atenção este vídeo. A cadelinha do vídeo é a Milu. mas podia ser qualquer um dos outros 60 cães que temos na associação. Neste vídeo, que não chega a um minuto, tentamos mostrar uma tarde na vida de um cão que permanece numa associação/canil durante anos. Temos connosco cães desde 2006, imaginem…”, diz a descrição do vídeo.

Milu espera por si

“Os nossos cães são soltos duas vezes ao dia e, mesmo assim, estão presos cerca de 23h/dia. Que este vídeo sirva para entender o dia-a-dia de quem vive preso numa box… A Milu procura uma família responsável e de preferência sem outros animais”, remata a publicação, onde é deixado o contacto para agendar uma visita.

Num dos comentários ao post, surge uma sugestão: “Ter um terreno grande de terra e ervas, com árvores, é bom para eles. Disfarça a falta de uma família, embora não seja a mesma coisa”. A ASAAST responde: “Temos o parque onde se exercitam duas vezes ao dia, mas são pelo menos 22 a 23 horas ao dia passadas numa box”.

Rita Sousa faz um desabafo à PiT. “Vivemos numa sociedade hipócrita, altamente melindrada com a realidade. E são estes melindrados e sensíveis que não vão visitar as associações e canis porque ficam com muita pena, mas compram cães e gatos de raça e permitem a reprodução dos seus animais. Custa ver a realidade, mas, da nossa parte, vamos sempre mostrá-la. A nossa realidade, a realidade dos nossos protegidos”.

Para a voluntária, ter pena não ajuda. “Os comentários onde se lê ‘coitadinha’ e ‘que Deus te ajude’ ajudam zero. O que ajuda são partilhas”, apela.

Milu não é uma cadela nova, mas ainda tem muito para dar e para viver. Ela e todos os outros que ali vivem na ânsia de um dia serem os escolhidos para fazerem parte de uma família. Percorra a galeria para conhecer melhor esta patuda meiga e carente que só precisa de uma oportunidade.

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