Há animais que são resgatados de vidas de inferno e que têm a oportunidade de conhecer o amor de uma família. Para muitos, são ainda longos os anos que têm pela frente para desfrutarem de uma nova vida – digna, com cuidados e atenção. Para outros, o tempo é curto e não lhes permite direito a muito mais. Foi o que aconteceu a Ketty, a cadela queimada pelo fogo no verão passado, que os donos queriam abandonar num canil depois de ter tipo alta do hospital. A notícia é triste, mas uma coisa certa: esta Serra da Estrela viveu os melhores tempos da sua vida nos últimos meses. E isso ninguém lhe tira.
Foi a 15 de agosto do ano passado que esta velhota foi resgatada, mesmo a tempo, de um incêndio em Gonçalo – Guarda (Serra da Estrela). Ficou internada no Hospital Veterinário da Guarda, à guarda do grupo Intervenção e Resgate Animal (IRA) – que tratou de todas as despesas.
Ketty tinha muitas queimaduras e ficou internada até 29 de setembro – data em que finalmente, já recuperada, teve alta. Mas os seus donos, que a tinham deixado para trás, acorrentada, no decorrer do incêndio, não tinham planos que a incluíssem. Estava “velha” e com a saúde mais frágil – só iria “dar trabalho” –, por isso decidiram que a deixariam no canil.
O IRA não lhe permitiu esse destino. Num apelo feito nas suas redes sociais, o grupo apelou a uma família adotante. E essa família chegou em menos de 48 horas. Ketty encontrou um lar com gente de raça.
Nestes pouco mais de oito meses, a Serra da Estrela foi feliz. Mas um problema de saúde tirou-a nesta terça-feira, 6 de junho, da família que a amava – e foi com tristeza que o IRA comunicou a sua partida.
“Ketty, a velhota… Resgatada nos incêndios da Serra da Estrela repleta de queimaduras, foi transportada de urgência para o hospital veterinário mais próximo na Guarda, juntamente com outros animais gravemente feridos pelas chamas. Sobreviveu às chamas quando o destino se distraiu quando a acorrentou sem hipótese de fuga. Meses e milhares de euros depois, a detentora recusa-se a acolhê-la e promete entregá-la no canil municipal”, relembra o grupo de proteção animal, que opera com foco na deteção, planeamento, resgate, reabilitação, adoção e intervenção em cenários de emergência.
Para o IRA, isso era impensável. “Foi um grande não! Não para nós, que enviámos uma viatura e um operacional para a ir buscar ao hospital. Graças a todos vós, encontrámos uma família espetacular que a recebeu, acolheu e acarinhou”, diz a publicação do IRA.
Ketty partiu sabendo o que é amor
Agora, a vivência feliz desta família foi interrompida. “Quase um ano depois deste amor entre a Ketty e a sua família, o destino voltou para cobrar o que lhe era devido. A Ketty viveu acorrentada, sobreviveu às chamas do maior incêndio de 2022 e aos ferimentos que lhe causaram, mas não sobreviveu a uma intervenção cirúrgica de urgência”, explica o mesmo post.
“Hoje viemos despedir-nos da Ketty com um aperto no peito. Hoje viemos homenageá-la como lutadora que foi. E hoje viemos agradecer a todos os seres humanos que nos rodeiam, permitindo que estes seres tenham uma nova oportunidade nas suas vidas, mesmo que a sua passagem seja breve. Muito obrigado à família da Ketty, por todo o seu amor. Descansa em paz, velhota – que foi um pouco de todos os irados e iradas”, remata o grupo, em sua homenagem.
O amor com que Ketty foi brindada, longe das correntes e com muitas festas no pelo, mudou o seu olhar. Trouxe-lhe brilho. E essa memória, por entre a saudade, é a melhor que pode ficar.
Percorra a galeria para ver algumas fotos de Kelly, que sobreviveu à tragédia do fogo e que agora partiu a saber o que é ser-se amado.