Família

Morreu primeira cadela a dar a volta ao mundo. Savannah deixa saudades

Foi com grande tristeza que o seu tutor deu a notícia. A patuda de nove anos não resistiu a uma falência renal.
Tom e Savannah.

Foram 3.183 os dias que passaram juntos. E juntos percorreram, durante sete anos, 38 países ao longo de 28 mil quilómetros. A aventura na estrada chegou ao fim a 25 de maio de 2022, quando Tom Turcich achou que era hora de ele e a sua amiga patuda descansarem das viagens. Muitos mais milhares de dias estavam pela frente, sempre juntos, pensou. Mas agora, dois anos depois, Savannah partiu numa derradeira viagem – e Tom sente no peito uma dor excruciante.

Tom Turcich, norte-americano de origem croata, tinha 17 anos quando vivenciou a sua primeira perda marcante: a amiga Ann Marie morreu num acidente, deixando-o sem chão e mais ciente do peso da mortalidade. Mais tarde, foi com o filme “O clube dos poetas mortos” que encontrou um sentido para a vida, através da célebre frase “Carpe Diem. Seize the day”.

“Desde a morte dela, decidi aproveitar ao máximo cada dia”, explicou Tom na plataforma onde partilhou as suas aventuras. Mais tarde, a notícia da morte de outra amiga, Shannon, só reforçou o que já sentia. A 2 de abril de 2015, na véspera de fazer 26 anos, deixou para trás a sua casa, em Nova Jérsia, nos EUA, e embarcou numa caminhada pelos sete continentes que só terminou sete anos depois. “Decidi calcorrear o mundo a pé para mergulhar por locais desconhecidos e obrigar-me à aventura dia após dia”, contou.

Estava Tom no Texas — tinha a viagem começado há quatro meses — quando adotou num abrigo para animais uma cadela bebé que viria a ser a sua grande companheira de aventuras, a Savannah. Desde então nunca mais se largaram — “a Savannah é a minha melhor amiga e a melhor companhia para fazer uma caminhada”, disse várias vezes.

E foi a dois que fizeram aquela longa viagem, que terminou a 25 de maio de 2022. “Sete anos, 38 países e 28 mil quilómetros depois, a Savannah e eu fizemos o percurso final, de Filadélfia até à nossa casa em Haddon Township, Nova Jérsia”, relatou então Tom na sua página do Instagram, intitulada The World Walk.

 

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Sete anos depois, o descanso dos “guerreiros”

Na sua terra natal, todos os esperavam com uma grande festa preparada. Nos quilómetros finais, Tom e Savannah foram acompanhados por uma multidão e recebidos ao longo do caminho com cartazes e frases escritas a giz no alcatrão da estrada. Foi aconchegante para Tom, que se tornou a décima pessoa a dar a volta ao mundo a pé, e para a Savannah — o primeiro patudo a conseguir esse feito. O Livro de Recordes do Guinness considerou tratar-se de uma nova meta superada.

Depois de tantos quilómetros calcorreados, era altura de sossegarem em casa. A vida continuou bonita, mas essa beleza foi agora interrompida. Savannah não resistiu a uma falência renal e teve de ser eutanasiada, não sem antes Tom ter tentado de tudo para a salvar.

Na sua página de Instagram, o tutor ia contando os progressos e recuos, sempre com esperança que a cadelinha recuperasse. Mas isso não aconteceu. Savannah partiu a 19 de maio. Tom tem recebido carinho de todos os cantos do mundo, mas este processo de luto está a ser muito duro e violento.

“Retrato de família. A maior aventura que algum dia viverei”, escreveu na descrição de uma foto com a cadelinha, no dia em que ela morreu. Apesar da esperança, a 17 de maio Tom já pressentia que as coisas poderiam não correr bem. “A Savannah está com falência nos rins. Terá de ser adormecida esta semana [e embora depois tenha havido uma renovada expectativa, nada houve a fazer]. O maior amor que algum dia conhecerei está a partir. Estou destroçado”, confessou.

 

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Savannah, um amor maior

Agora, nesta terça-feira, 28 de maio, Tom deixou um texto em sua homenagem e no qual mostra como se está a sentir e como tudo está a ser tão difícil sem ela. “Enquanto eu e Savanah caminhávamos, tive espaço para analisar até a mais subtil mudança nas minhas emoções e partilhá-la aqui. Mas como posso explicar a sensação de vermos morrer a melhor parte do nosso coração? É muito vasto. É esmagador, é exaustivo. O meu corpo está dorido. O meu peito está a doer”, admite.

“Sinto uma imensa culpa e ansiedade. Pela primeira vez, desde que me lembro, é difícil estar comigo próprio. A ideia de que devia ter feito melhor, ou de que falhei com a Savannah, tem-me mantido acordada durante a noite. Ontem, apercebi-me de que é provavelmente uma reação fisiológica à forma como vivemos. Durante sete anos, fui o único protetor da Savannah – protegendo-a da maldade do mundo. Afastei-a de animais vadios, protegi-a das intempéries, dormi onde quer que ela dormisse e defendi-a das pessoas que só tinham desdém pelos cães. Ela era sempre a primeira coisa que me vinha à cabeça, o primeiro fator a considerar”, prossegue.

E continua: “Ainda a vejo em todo o lado. Mas já não estou a chorar a toda a hora, o que já é alguma coisa. E acho que se eu desse a escolher à Savannah, ela não trocaria a nossa vida por mais alguns anos de vida numa casa. Gostava de a poder voltar a ver; à ‘miúda’ que me ensinou tanto e a única que sabe como era lá fora. Se eu pudesse explicar-vos como ela era rija e como era boa”.

“Há uns tempos, escrevi: ‘Ela deve ser uma espécie de Deus’. E talvez seja, talvez eu a veja depois disto tudo, mas, de qualquer forma, sinto-me abençoado por a ter conhecido. Ela foi como um anjo que caiu na minha vida. Protegi-a do mundo, mas ela protegeu-me também, mais do que alguma vez poderei expressar”, remata Tom, neste bonito e sentido tributo à sua amiga de quatro patas.

Percorra a galeria para ver algumas fotos da fantástica aventura de Tom e da sua fiel companheira Savannah, que agora deixou o plano terreno mas que nunca sairá do coração de quem tanto a amou.

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