Família

Nesta barbearia com vista para o Tejo, pode trocar livros e levar os animais

O espaço na Amadora é um ponto de encontro para amantes de literatura. Os serviços são feitos "sem olhar para o relógio".
O atendimento é sempre personalizado.

A resposta está na ponta da língua. Sempre que alguém pede sugestões de leitura, Jorge Dias recomenda “O Demónio e a Senhora Prym”, de Paulo Coelho, um dos primeiros romances que leu quando já era adulto. Naquela época em que ainda não existiam telemóveis, eram as páginas dos livros que lhe faziam companhia.

O hábito de mergulhar na literatura acabou por passar para segundo plano devido à vida agitada que levava. Com 49 anos, o barbeiro começou por gerir um bar, mas em 2014, após o nascimento da filha, decidiu dedicar-se mais às barbas e aos cabelos. Passou por várias lojas de rua e acabou por abrir o seu próprio espaço.

O negócio cresceu e surgiu a ideia de aliar o ofício à antiga paixão. “O projeto de uma barbearia literária estava na gaveta em 2020, mas a pandemia obrigou-nos a retirar uma série de elementos que poderiam facilitar o contágio, como os livros”, recorda Jorge, que avançou este ano com a ideia.

Com vista para Monsanto e para o Tejo, a Barbairos pretende ser mais do que uma barbearia. “É um refúgio onde a beleza e a cultura se encontram”, acrescenta o fundador do espaço, localizado em Alfragide, na Amadora. É um ponto de encontro para todos os amantes de literatura e de um bom corte de cabelo.

O projeto Livros pelos Cabelos foi criado para promover a leitura, através da partilha de livros, de acordo com a tradição anglo-saxónica. Os clientes são encorajados a trazer um livro para partilhar e a levar outro que lhes interesse. E durante todo o processo, pode levar o companheiro de quatro patas, que é mais do que bem-vindo no espaço de Jorge.

A finalidade é tornar a biblioteca dinâmica. Quando regressar à Barbairos, o cliente pode trocar o livro que levou. “Numa altura em que se lê cada vez menos, pensamos que seria uma boa iniciativa para desviar o foco do telemóvel.” 

Tem vários traços de uma barbearia tradicional.

Os livros disponíveis na Barbairos são provenientes da coleção pessoal de Jorge, bem como de aquisições feitas a vários clientes. A partir da pergunta “que livro gostaria de recomendar?”, surgiu uma comunidade onde os clientes se conhecem e debatem autores, obras ou géneros literários.

“Não queríamos que as pessoas confundissem a iniciativa com uma livraria solidária e levassem livros até não sobrar nenhum”, explica. No entanto, se trouxer um livro (ou mais) pode levar vários. “Há trilogias que são levadas de uma vez, assim as pessoas não têm de vir cá de propósito.”

Entre os destaques, estão livros de desenvolvimento pessoal ou publicações de factos e curiosidades do mundo. No entanto, o livro mais requisitado é o bestseller “A Criada”, de Freida McFadden, que já causou uma lista de espera na barbearia. “Temos de arranjar mais exemplares.”

Mais qualidade, menos quantidade

Quando não estão imersos no universo literário, os clientes podem aproveitar os cuidados de beleza personalizados, “sem olhar para o relógio”. “Não queríamos quantidade, mas qualidade. Queremos compreender as necessidades de cada um, discutir as opções com tempo.”

Quanto à barba, a equipa destaca o ritual que inclui massagem, toalhas quentes e cortes com navalha. “Temos miúdos que são fãs do serviço e que já trouxeram os pais e avós para experimentarem”, revela.

Na Barbairos, há ainda várias mulheres com cabelo curto que aproveitam para fazer descontrair. “Muitas namoradas e esposas também passaram a recomendar-nos aos companheiros porque podem recorrer à nossa biblioteca e fazer trocas de livros.”

Com quatro pessoas na equipa — quatro barbeiros e uma rececionista —, o espaço é também uma extensão destes profissionais. Aos livros, juntam-se pranchas de skate ou de surf, plantas ou uma máquina de jogos Arcade, que decoram um espaço eclético onde o tradicional se mistura com o contemporâneo.

Destaca-se ainda o “balcão com vista privilegiada” para sul. “Durante a espera, alguns clientes acabam por ocupar esse espaço. Muitas vezes, após a hora de corte, ficam só para aproveitarem o ambiente que encontram aqui. Tudo isso fazia sentido para nós.”

Embora Jorge reconheça que “o espaço não tem mais por onde crescer”, o conceito não vai ficar por aqui. Afinal, ainda há muito para fazer no que toca à vertente literária. A promoção de encontros de leitores ou sessões de autógrafos com escritores nacionais são algumas das ideias que continuam guardadas na gaveta, mas que o empreendedor que concretizar.

Os serviços da Barbairos variam entre os 13€ os 25€ e as marcações podem ser feitas online.

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