Se é comum dizer-se que somos fruto das escolhas que fazemos, no caso de Nélson Sacramento, 39 anos, um dos profissionais portugueses de tatuagens mais premiados nacional e internacionalmente, e dono da LightHouse Tattoo Studio, na Amadora, essa verdade é ainda mais indiscutível.
Nascido e criado no Bairro Janeiro, na freguesia da Venteira, Nélson sempre foi “muito ligado às artes” e cedo revelou a sua “veia artística”. “Tirei Artes na escola Seomara da Costa Primo, depois passei pela António Arroio, onde fiz Design Gráfico, e ainda tirei fotografia”. Portanto, a arte estava-lhe na pele. Literalmente.
Um amigo começou a fazer tatuagens numa loja que tinha na Amadora e Nélson foi ajudá-lo. “Aprendi muito com ele”, confessa. Aos 26 começou a tatuar. “Já foi tarde, há muitos artistas que começam muito mais cedo do que eu comecei”. Entre os primeiros clientes conta-se Mónica Silveira, 35 anos.
Quando fez a intervenção artística, Nélson estava longe de perceber o que estaria para acontecer. A cliente passou a namorada e depois a mulher. “Quando eu e a Mónica começámos a namorar, há 12 anos, foi quando abrimos a loja da Amadora”, a primeira de três de que são proprietários.
“O nosso bebé é este, da Amadora, mas temos estúdios em Cascais e no Bairro Alto. Não há muitas outras casas de tatuagens em Portugal com três estúdios, uma tão grande variedade de serviços e especialidades e tantos artistas premiados”, constata o tatuador, que não medo das palavras: “sim, somos uma das mais conhecidas casas de tatuagens de Portugal, e reconhecidos internacionalmente”.
“Ainda ontem tatuei dois agentes da PSP”
O preconceito em relação às tatuagens já não é o que era. “Havia um estigma social, que dava a entender que um homem tatuado era um rufia e que ver uma mulher tatuada era feio. Isso hoje está a passar. Mesmo as convenções sociais mudaram. Há cada vez mais gente a fazer tatuagens. Famosos e anónimos. Mesmo nos trabalhos, aqui há uns anos, as entidades patronais não empregavam candidatos que tinham à vista uma tatuagem, porque, dizia-se, dava mau aspeto ao negócio”, recorda.
Até nas autoridades policiais, “as regras já não são tão apertadas”: “Ainda ontem tatuei aqui no estúdio dois agentes da PSP”, concretiza Nélson.
A tatuar há 13 anos, Nélson já viu de tudo e os seus “artistas”, como gosta de chamar, também já não se surpreendem com “pedidos estranhos”. “O que é isso?”, pergunta a brincar. “Para nós, não há pedidos estranhos, além de que isso é muito relativo. Nestes anos em que temos a casa montada, já fizemos de tudo. E a gente está aqui para fazer o que os clientes querem, porque o corpo e o sentido estético é deles”, sublinha.
Exercer a atividade com profissionalismo e “sem juízos de valor” é o que se exige a um “artista”. “Mesmo os pedidos mais ousados, nas zonas genitais, são completamente naturais. É igual ao litro”, ri-se, dando como exemplo os piercings genitais, que também aplicam, ou tatuagens nas zonas íntimas. “Para nós, tudo é pele. Já nada nos surpreende. Toda a gente já viu mamas e órgãos sexuais”, acrescenta Nélson, que gosta do mundo da pesca e tem “peixinhos tatuados no corpo”.
“Todos os nossos profissionais de tatuagens são premiados”
A LigtHouse Tattoo Studio diferencia-se pela qualidade e diversidade de serviços que presta. “Todos os meus artistas já ganharam prémios lá fora. Toda a gente viaja. Eu fui jurado em Nova Iorque, no final do ano passado, já ganhei prémios em Nova Iorque, e em várias convenções nacionais e internacionais”.
Por isso é que a LightHouse Tattoo, acredita, “é um nome considerado na indústria”. O estúdio da Amadora tem 4 tatuadores e um body piercer, mas ao todo, na totalidade dos três estúdios, somos 25 profissionais.
Mónica, a mulher de Nélson, não tatua, é a “big manager”, ou seja, “a gerente dos três estúdios”, libertando o marido para a parte criativa. “Eu especializei-me em realismo, só faço retratos, fotografias, passar a fotografia para a pele, seja uma paisagem, seja uma cara, seja um animal de estimação, tudo o que seja realista”, explica.
Nélson diz que a procura de tatuagem com animais de companhia “está a crescer a olhos vistos”. “Sempre aconteceu, porque as pessoas sempre quiseram fazer tatuagens com significado, que fiquem para o resto da vida. E os animais têm um significado especial”, conta o tatuador, que, além dos peixinhos, também tem os seus dois American Bulls desenhados no corpo.
“Temos a Rita, que faz Black World, que é um estilo de tatuagem. temos o Luís, que faz tudo o que é cultura japonesa, temos a Alícia, em Cascais, que só faz ‘fine line’. Temos artistas para todo o tipo de pedidos e de especialidades e todos são muitos bons na sua área e premiados”, concretiza.
Do grupo faz ainda parte a Rising Piercing, uma empresa de joalharia que também nasceu na Amadora, mas que tem uma loja online. “Trabalhamos há um ano e qualquer coisa, cresceu muito e transformámo-nos numa das principais marcas portuguesas, o que me deixa muito orgulhoso”, afirma Nélson.
No objeto social da empresa está também a formação e a criação de especializações sob a forma de workshops. “Como sou um artista que tenho nome feito na praça e prémios nacionais e internacionais, tenho muitos profissionais que vêm para aprender comigo. Não faço workshops de iniciação, mas também temos, são é feitos por outros colegas no estúdio.
A primeira tatoo
Nélson Sacramento lembra-se bem da primeira tatuagem que fez na vida. “Foi a mim próprio, como acontece com todos os tatuadores. A coxa é a nossa primeira vítima”, brinca.
Quando lhe perguntamos que tatuagem foi, suspira, ri e responde: “foi uma tatuagem maori da Polinésia Francesa. É terrível [risos]”. “Não me arrependo dela, por causa do seu significado, mas o desenho e a qualidade não têm nada a ver com a técnica que tenho hoje”, confessa.
Na LightHouse Tattoo Studio, a tatuagem mais barata custa 60€. “Eu não faço essas, tenho em estúdio artistas que estão mais vocacionadas para essas, até porque fazem todos os dias. Cada um tem a sua especialização. O mecânico de um Smart também não se mete a mexer num camião. Eu só trabalho à sessão, que são 700€ por dia”, revela.
O negócio, percebe-se, rende bem. “Umas costas inteiras são 8 ou 10 sessão, portanto, uma dessas tatuagens pode custar à volta de 7 mil euros”, afirma, acrescentando que a maior parte dos seus clientes de grandes tatuagens são estrangeiros que vêm à Amadora de propósito.
“Eu trabalhei na Alemanha, na Suíça, no Luxemburgo, na Holanda, na Inglaterra e os preços são outros. A minha sessão na Suíça são 2 mil euros. Um suíço que tenha de fazer dez sessões prefere vir a Portugal pagar 7 mil euros pela tatuagem do que 20 mil euros no seu país”, conclui.
Carregue na galeria para ver Nélson algumas das criações da LightHouse Tatto Studio.