Família

O adeus a Índio — o “imperador” dos Bombeiros Voluntários de Cacilhas

O Labrador de 15 anos fez a sua última “busca” na segunda-feira, rodeado da família e dos amigos. Foi um operacional de excelência
Índio e Avelino de Almeida.

Chamava-se Índio, mas todo ele ia além do seu nome. Por cá era conhecido como “Imperador”, e em Espanha – onde era também muito respeitado e reconhecido – tinha a alcunha de “Canhão”. Não era para menos. Este Labrador Retriever, que morreu aos 15 anos, fez muito pela busca e salvamento em Portugal e em muitos outros lados do mundo.

Índio era também um cão muito amado pelo seu tutor, o bombeiro de 2.ª Avelino de Almeida – que foi o primeiro a reconhecer-lhe capacidades que iam além das óbvias traquinices tão próprias dos Labradores. Hoje dói-lhe a alma pela perda do seu grande amigo de quatro patas, mas será sempre com um sorriso que se recordará dos momentos tão especiais que viveram juntos.

Foi na segunda-feira, 27 de março, que Índio fez a sua última “busca”, rodeado da família e dos amigos. Foi um momento muito emotivo, mas tinha de ser assim: juntos até ao fim. “A dor de perder um cão é enorme, mas a dor de perder o Índio é inimaginável”, desabafa Avelino de Almeida à PiT. Foram muitos anos de companheirismo – e agora como se preenche esse vazio? Com as memórias. E essas são muito boas.

A persistência de Avelino e as capacidade de Índio

Índio não se destacou de imediato pelas capacidades com que viria a ser grandemente reconhecido. Mas valeu-lhe a persistência do tutor, que sempre acreditou nele. “O Índio entrou na minha vida quando ele tinha seis meses, através de um colega que treinava busca e salvamento comigo. Na altura eu não tinha cão. Ele era um típico Labrador, tudo servia para brincar, mas quando estávamos no treino de busca ele não mostrava interesse nenhum”, conta o seu parceiro humano.

“Os primeiros meses de treinos foram muito duros, porque ele não mostrava interesse nenhum. Como é costume dizer-se, ‘não tinha vocação para a coisa’. Até que, certo dia, um responsável de uma equipa à qual pertenci disse que o Índio nunca daria um cão de busca e para eu o levar apenas para esticar as patas nos treinos”.

Avelino não se conformou. “Foi um choque. Mas lembro-me muito bem de chegar a casa, virar-me para o Índio e dizer-lhe: ‘vamos mostrar que serás o melhor de todos’. Treinei, treinei, treinei, treinei, li livros, vi vídeos, fiz perguntas a quem estava na área e comecei a ver desenvolvimentos. Algum tempo depois, poucos eram aqueles que acreditavam nas melhorias do Índio, e por isso, treinei, treinei, treinei… E treinei… Até que chegou a altura em que, em todas as jornadas, exercícios, etc., a que íamos, o Índio se destacava se de todos os outros, ficando conhecido em Espanha como ‘O Canhão’”, diz o seu tutor com orgulho.

Índio era um excelente companheiro

Para Avelino, foi sem dúvida uma marca nos cães de busca e salvamento e a magia está apenas em duas palavras: “treino e amor”. “Amor dado por ele e amor dado por mim. Era um cão, um companheiro, um filho, um confidente, era e é uma parte de mim. Sempre foi um cão de casa, sempre dormiu onde eu dormi, sempre foi onde eu fui –restaurantes, férias, fins de semana, passeios – e sempre com aquele sorriso na cara. Isso fortaleceu a nossa união e confiança”, conta.

“O Índio não era um cão, o Índio é um pedaço do Avelino”, sublinha o seu tutor, que fez um vídeo de homenagem ao seu amigo. “Na sua última busca na vida, o momento de dormir para sempre, ele estava rodeado da família e dos amigos da Equipa de Busca e Salvamento K9 dos Bombeiros Voluntários de Cacilhas”, diz, emocionado.

Os Bombeiros Voluntários de Cacilhas também fizeram um tributo a este patudo muito especial. “Perdemos um dos nossos companheiros e operacionais. Índio, um canídeo operacional da Equipa de Busca e Salvamento K9, partiu vítima de doença prolongada.

Este elemento foi um dos canídeos operacionais que constituiu a nossa equipa de busca e salvamento na altura da sua fundação, em 2019, e contava já com uma vasta experiência ao serviço de outras associações, tendo participado inclusive em exercícios e missões internacionais, sempre acompanhado do seu tutor, Bombeiro de 2ª Avelino de Almeida”, dizem.

“Reformado desde 2021 devido à sua idade, o Índio continuava com o seu faro apurado, e fazia esporadicamente treinos leves com a equipa, para se divertir e mostrar aos mais novos como se fazia. A nossa equipa ficou mais pobre, mas guardará sempre as memórias da dinâmica e operacionalidade do Índio, ‘O Imperador’. Até já companheiro. Um latido pela vida!”, remata a publicação.

Percorra a galeria para conhecer melhor Índio e Avelino, que fizeram tudo juntos, desde sempre, e cuja memória também perdurará para sempre.

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