Andaram no funicular de Braga, aprenderam sobre a Ordem dos Templários de Tomar, admiraram o pôr-do-sol do Cabo da Roca e celebraram o Natal no Algarve. É assim que se pode resumir a passagem de Sara Moressa, Paolo Provela e dos seus animais, Olimpia e Saké, por Portugal, em dezembro de 2022.
Foi a primeira vez de ambos no solo português — e foi também só mais uma paragem da Vandipety, como chamam à sua autocaravana de 5,4 metros, com a qual estão a atravessar a Europa e África. Depois de 440 dias ao volante, 14 países visitados e mais de 35 mil quilómetros percorridos, é de Portugal que o casal italiano tem mais saudades.
Fechados na sua casa em Turim, com uma pandemia lá fora e pouco para fazer dentro das quatro paredes, a ideia começou a surgir nos intervalos das séries de televisão: “Olhámos para os olhos uns do outro e percebemos que não éramos felizes e que não estávamos a investir o nosso tempo em algo que valesse a pena”, conta Sara à PiT.
A mulher de 33 anos queria voltar a sentir-se como na sua primeira viagem a solo, na Irlanda, que fez com apenas 16 anos. Sara gosta de se lembrar como ligava para Itália, para mostrar as extraordinárias paisagens ao avô, para que ele pudesse viajar através dos seus olhos. Já Paolo, da mesma idade, queria alcançar o próximo sonho de viajar pela Europa, visto que a ambição de visitar o Japão já tinha sido concretizado duas vezes.
Durante cerca de dois anos, o casal fez diversas viagens curtas, a pé, de carro ou de comboio, e conheceu tantas outras cidades italianas. Mas isso era apenas a migalha do grande bolo que estava prestes a sair do forno. Também chamado Vandipety.
Com uma carrinha suficientemente grande para alojar a sua cama, cozinha, sala de estar e lugar para a sua cadela e o seu gato descansarem, Sara e Paolo puseram as mãos ao volante e saíram de Turim, em maio de 2022, “sem grande experiência, mas com um grande desejo de descobrir” o mundo.
“Queríamos abrir as nossas mentes, explorar o mundo, conhecer pessoas novas e as suas histórias e visitar diferentes culturas”.
Foi com esse espírito que chegaram à Áustria, seguiram para a Eslováquia, estacionaram na Polónia, continuaram pela Alemanha e repousaram nos Países Baixos. Depois, arrancaram para a Bélgica, passaram por França, chegaram a Espanha e daí foram diretamente para Viana do Castelo.
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“Vivemos nas estradas portuguesas durante cerca de dois meses, e percorremos o País através da costa. Adorámos a natureza e as paisagens”, confessa Sara. Ficam nas memórias a viagem num dos funiculares mais velhos da Europa, localizado na Confraria do Bom Jesus do Monte, no distrito de Braga, as “casas coloridas” da Costa Nova, em Aveiro, e os “fantásticos pores-do-sol que se viam nelas”.
No seu caminho para sul, o casal ainda fez uma paragem em Tomar, no distrito de Santarém, onde descobriu a história da Ordem dos Templários, criada para defender os Lugares Santos da Palestina. Ainda passaram pela Nazaré, Óbidos e Peniche, mas foi o “farol vermelho” do Cabo da Roca que os marcou mais.
De seguida, chegaram finalmente à “cidade animada e elegante, com muito para fazer e visitar”, como descrevem Lisboa, tendo seguido para o Alentejo, onde se deixaram “inundar” pela natureza. Depois, instalaram-se no Algarve, a tempo de celebrar o Natal, num almoço com outros turistas. E, apesar de não terem “gostado das cidades desta região”, admitem que as “falésias merecem definitivamente uma visita”.
Após a sua passagem por Portugal, o casal pôs fim à sua viagem pela Europa e migrou para África, passando por Marrocos, pela Mauritânia e pelo Senegal. Agora, já estão a voltar para Itália, mas não sem antes fazerem uma paragem em Gibraltar e em Andorra. E tiveram uma companhia especial durante todo o caminho.
Saké foi salvo com 40 dias de vida e foi recebido de patas abertas pela “irmã” Olimpia
Quando Sara e Paolo começaram a planear a viagem, tiveram sempre em mente de que teriam mais duas bocas para alimentar. Para eles, era essencial que os seus animais os acompanhassem e que experienciassem as mesmas aventuras que eles. Passado um ano e meio, não se arrependem da escolha que fizeram.
Olimpia é tão “vanlifer” como os seus donos, visto que, mesmo antes de entrar nesta exploração com eles, já tinha viajado de carro e de comboio pelo mundo. A Rottweiler de dez anos continua a ter muita paciência para as horas na estrada e para os passeios nas diferentes cidades. E, especialmente, para o seu “irmão” mais novo, Saké.
O gato tinha apenas 40 dias quando fizeram um ultimato ao casal italiano. “O antigo tutor disse-nos: ‘Ou ficam com ele ou vou ter de o abater’. Por isso, tivemos de o levar para casa”, recorda Sara. Ainda assim, foi com uma grande felicidade que o acolheram na sua família. Especialmente Olimpia.
“Ela foi tão atenciosa com o Saké. Ensinou-lhe tantas coisas, como se fosse uma mãe”. Uma das coisas que a Rottweiler ensinou ao gato de três anos foi a paixão pelo desconhecido: “E foi assim que começámos as nossas aventuras com eles. O Saké passeou connosco pelas ruas de Turim logo no seu primeiro dia, e mostrou-no o quão curioso era com tudo”.
Uma coisa é gostar de caminhar com os seus donos pela cidade que já conhece. Outra completamente diferente é interessar-se por países que nunca visitaram ou pensaram visitar. Mas até aí os dois animais se portaram lindamente: “São nossos amigos e companheiros de viagem. Na autocaravana, arranjam maneira de descansar enquanto conduzimos. Já quando paramos, são muito curiosos e ajudam-nos a criar relações e a aproximarmo-nos de outras pessoas”, explica.
Com a viagem quase a chegar ao fim, o casal já está a pensar nos próximos destinos: “Queremos continuar a viver e a trabalhar através das viagens e gostávamos de quebrar o recorde do maior número de países visitados com um cão e um gato”. E vão partilhar tudo com os seus seguidores, através do blogue em que documentam todo o seu percurso e do canal de YouTube, em que mostram as suas aventuras.
Carregue na galeria para ver algumas fotografias de Sara, Paolo, Olimpia e Saké.