Família

Ollie foi abandonado num saco de lixo. Hoje traz alegria para mais de 30 idosos

O patudo visita um centro de dia em Mem-Martins com frequência e transformou a vida dos seniores e funcionários.
Tem cerca de um ano.

Basta Oliver chegar ao Centro Social Paroquial Algueirão-Mem Martins Mercês para os idosos ficarem animados. Desde que o mix de Podengo começou a fazer visitas quinzenais no centro de dia, que acolhe 32 idosos, as mudanças têm sido notórias. No início, a presença do cão foi recebida com estranheza por alguns, mas não demorou muito até Oliver (Ollie, para os amigos) conquistar cada um deles.  

“O Oliver chegou num período em que nós estávamos a delinear novamente a nossa forma de intervir na instituição, queríamos ter uma intervenção que fosse mais holística que conseguisse tocar nos vários domínios ou nas várias condições do ser humano e o contacto com os animais vai ao encontro disso“, começa por contar à PiT Cátia Cuco, 39 anos, a responsável pelo centro de dia.

A ideia inicial era encontrar um cão conhecido entre os funcionários e foi assim que Catarina Rodrigues entrou em ação. A educadora social de 28 anos adotou Oliver em 2023, altura em que decidiu ter um cão. O amor pelos patudos sempre esteve presente, mas foi só quando teve a primeira casa sozinha que decidiu encontrar um companheiro. 

O Podengo foi resgatado juntamente com os irmãos pela União Zoófila, após terem sido encontrados dentro de um saco, num caixote de lixo. Em julho de 2023, quando tinham três meses, Catarina pediu para visitá-los e com Ollie foi amor à primeira vista. “Todos eram muito brincalhões e mimosos, mas sentei-me no chão e o Oliver foi o primeiro a subir para cima de mim e adormecer”, recorda. Naquele momento, soube que tinha sido escolhida. 

Catarina já colaborava com o centro de dia e, cerca de quatro meses meses depois de o adotar, começou a levá-lo duas vezes por mês ao centro. As visitas do cão vieram em sequência da criação de uma sala Snoezelen, que tem como principal objetivo a a estimulação sensorial e a diminuição dos níveis de ansiedade e tensão.

Ajuda na demência

“Foi nesse sentido que ele surgiu, principalmente para ajudar a desbloquear algumas situações de demência, em que existem crises”, aponta Cátia. “Há muitas pessoas que não conseguem entrar no centro de dia de livre e espontânea vontade porque são pessoas que estão basicamente a ver um contexto que não é a realidade. Muitas vezes o facto de existir um animal ajuda a desbloquear a mente”. 

O patudo tem trabalhado ao lado de todos os funcionários, especialmente de Liliana Gonçalves, 31, a animadora socio-cultural do centro que nos conta que já presenciou várias mudanças desde a chegada do podengo.

Temos uma senhora que tem demência e o Oliver realmente puxa muito por ela. Ela chama-o muitas vezes e já reconhece a presença dele”, diz. “Temos outros senhores também. O Oliver mal vem e já vai buscá-los à carrinha e eles vêm atrás dele, brincam bastante e sabem que têm que lhe dar comida. Ele puxa mesmo os idosos para sair um bocado da sala e ir para o nosso espaço exterior”. 

Ollie está sempre atento.

Cumprimenta toda a gente quando chega

Ollie desperta memórias amorosas em alguns dos seniores que outrora já tiveram animais de estimação. “Temos senhoras que lhe chamam por outro nome, que deviam ser os cães que tinham antigamente, e ele mesmo assim reage e vai ter com elas”, partilha Liliana. “Ele é muito sociável e como é mesmo muito meiguinho, é um animal que gosta do contacto e tem os olhos lindos. Isso ajuda muito e traz tranquilidade”, acrescenta Cátia. 

Entre as atividades no centro de dia, encontram-se ginástica e arte terapia. Sempre que pode, Ollie tenta estar presente. “Ele já criou a rotina dele. Quando quando quer ir brincar, vai, quando percebe que as pessoas estão mais calmas, faz as sestas dele já na sala, não anda frenético atrás de toda a gente”, aponta a responsável. 

Sempre que lá chega, o cão faz questão de cumprimentar todos os idosos e funcionários — um por um — e nunca se esquece de ninguém. Durante o dia, os seniores também fazem tarefas com o patudo, nomeadamente passeios, brincadeiras e dar-lhe comida. E Ollie sabe sempre lidar com aqueles mais sensíveis.

“Ele percebe que eles não têm a força para aguentar com o salto dele, então ele não salta para cima como faz comigo, por exemplo”, diz Catarina. “Essa calma e tranquilidade que ele trouxe a nível profissional, também ajuda em casa. Ele também lida com a minha avó, que é do mesmo tipo de pessoas que ele acompanha no centro, e é curioso porque ele trouxe mais leveza também à minha vida”. 

A presença do Podengo também tem trazido benefícios para os funcionários. Todos os que lidam com o canídeo durante as suas visitas, sentem-se mais alegres e menos ansiosos — afinal, é um privilégio fazer uma pausa no trabalho para dar festinhas a um cão. “É um ser que podemos dar carinho, porque não é normal entre colegas andarmos aqui a fazer festinhas uns aos outros”, brinca a diretora. “Mas com o Oliver, cada vez que alguém o vê, pode até nem ser uma pessoa que tenha um cão em casa, vai sempre ter com ele”. 

 
 
 
 
 
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Em casa, o cão tem ainda aprendido a estar mais calmo. “Ele começou a vir ao centro com oito meses, e então era um bebé muito enérgico e um bocadinho destruidor em casa”, recorda a tutora, entre risos. “Mas depois notei um salto a nível de tranquilidade, ou seja, se ele no primeiro dia chegou aqui e corria porque tinha muita energia, a partir do segundo, ele próprio percebeu que estas pessoas estão calmas e sossegadas, então ele também tem de estar calmo e sossegado, e acho que isso foi muito notório”.

Sociável com outros cães

Além dos dias que vai até ao centro de dia, Oliver frequenta uma vez por semana uma creche canina. “Ele adora estar com outros cães. É o mais sociável e amigável da creche, dá-se bem com todos e gosta de ir à piscina”, diz Catarina. “Ele já percebe a rotina dele e no dia de creche, não come de manhã, só consegue comer a meio do dia porque fica muito ansioso e sabe que naquele dia vai à creche”. 

No fim deste mês, Catarina e Ollie vão deixar de ir até ao centro com frequência, devido a uma mudança profissional na vida da tutora. A educadora social ainda pretende fazer visitas pontuais ao espaço para matar as saudades, mas não serão tão habituais. Cátia e Liliana estão agora à procura de outro patudo que possa trazer alegria ao espaço. 

Apesar de já terem participado de várias iniciativas com a Câmara Municipal e associações de resgate animal, querem ter uma espécie de “cão-residente”, que vá com frequência interagir com os idosos.

Até ponderámos em ter um animal para ficar cá connosco todos os dias, só que depois a questão é que fechamos às seis e aos fins de semana não abrimos e ele ia ficar muito tempo sozinho”, aponta a responsável. Até encontrarem o patudo ideal, vão aproveitar Ollie até ao último segundo. 

De seguida, carregue na galeria para saber mais sobre as visitas do Podengo no Centro Social Paroquial Algueirão- Mem Martins Mercês. 

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