Quando não está ocupado com a oficina, Joel Pedro, 52 anos, gosta de se dedicar ao desporto. Adora correr e andar de bicicleta pelos terrenos acidentados perto de sua casa, na freguesia de Alvados, no distrito de Leiria e, de quando em vez, leva o seu cão consigo. O tamanho de Mukamba assusta, mas o Dobermann não faz mal a uma mosca. E o patudo não é o único a acompanhar os seus donos.
A ovelha Becas fez sucesso na última prova de trail que decorreu na freguesia: “Ela desatou a correr no meio dos participantes e toda a gente achou imensa piada. Estava assustada e a berrar imenso, porque estava à procura do Mukamba, mas conseguimos apanhá-la ainda na partida”, conta Joel à PiT, sem conseguir conter as gargalhadas.
Apesar de acharem imensa graça, na aldeia, nenhum habitante achou isto estranho. Quem conhece Mukamba e Becas sabe que eles são unha e carne, e que já nada pode separar o cão e a ovelha, que são os melhores amigos.
Mukamba chegou à casa do dono depois de o seu mais fiel companheiro partir: “Tinha tido um Dobermann e apaixonei-me pela raça. É um cão muito leal ao dono e é muito dócil”, descreve. Joel nunca mais se esqueceu da paciência que o cão tinha para a sua filha recém-nascida: “Mal ela nasceu, ele aceitou-a logo. Ela puxava-lhe as orelhas, fazia 30 por uma linha, e ele nunca refilava”.
Desta forma, o leiriense decidiu honrar o cão que morreu com dez anos, juntando mais um à família. E está quase a fazer sete anos desde que deu as boas-vindas a Mukamba e à sua “paz de alma” na sua oficina, onde passa os dias e as noites, na alegria e companheirismo dos clientes do dono.
Mais tarde, aceitou cuidar de Pipoca, a Labradora abandonada ao pé da estrada. “A minha vizinha encontrou-a muito ferida. Deve ter sido atirada para fora da janela de um carro. Aceitei recebê-la aqui na oficina e acabou por me adotar”.
Já a ovelha Rebeca, mais conhecida por Becas, que é uma verdadeira estrela em Alvados, veio por coincidência: “Eu tenho um terreno e um vizinho meu pediu-me para cuidar das ovelhas dele. Tinha entre sete a oito, mas ela era especial”, explica. Podia dizer-se que era pelo seu feitio, mas não.
“Ela não conseguia mamar na mãe e o indivíduo não queria cuidar dela. Então, eu disse que tratava dela. Dava-lhe o biberão todos os dias e foi muito engraçado vê-la crescer, porque dava diversos pulos”. Passados 15 dias das celebrações de Carnaval, altura em que Becas nasceu, a ovelha já tinha alguma autonomia e Joel decidiu colocá-la na oficina. Mal sabia que tinha acabado de criar uma amizade para a vida.
“O Mukamba e a Pipoca aceitaram-na logo. Foi amizade à primeira vista. Andam sempre juntos. Se tento separar a Becas, ela não se cala”. Joel ainda tentou que ela ficasse no terreno, mas a ovelha não deixou e exigiu a sua presença diante dos seus companheiros caninos. Aliás, a única vez em que se ausenta da oficina é para ir comer as ervas ao pé da estrada e para aceitar as guloseimas que um restaurante nas redondezas lhe dá.
Apesar da grande amizade que tinha com os cães, Joel achou que Becas precisava de uma companhia extra: “Os cães ausentavam-se muito e não queria que ela estivesse sozinha. Então, decidi arranjar uma cabra anã”. Foi assim que Bé chegou à família, diretamente de um centro hípico.
Começou por passar os dias na cerca com a sua irmã Becas, mas houve um fator de mudança, que irritou Joel ligeiramente: “Uma vez, a dona dela veio cá visitá-la e saltou um muro. E pronto, ela aprendeu a fazer o mesmo e agora nunca fica. Agora tenho dois problemas: dois animais que me sujam a oficina”, explica, a rir-se.
Mukamba, Pipoca, Beca e Bé são as mascotes da oficina de Joel e são muito bem recebidas pelos seus clientes, que adoram ver as suas interações. E, mesmo quando não têm o carro a arranjar, conseguem testemunhar esta amizade improvável, nem que seja porque estão a assistir a uma prova de trail.
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