Família

Pediram que António aguentasse “só mais pouco”. Assim fez, e acabou por ser adotado

O cão sénior, que quase foi abatido, já se mudou para a nova casa. A família e os patudos receberam-no de braços abertos.
A família tem outra cadela idosa, com 12 anos.

“Sei que estás cansado, mas aguenta só mais um pouco. Sei que o mundo te desiludiu e te tirou o chão. Sei que tudo mudou sem estares à espera, mas não desistas”. Foi com emoção, e uma última réstia de esperança, que o fotógrafo Carlos Filipe agarrou na câmara e captou António na sua mais pura essência.

O cão com cerca de 14 anos foi deixado em julho do ano passado, no portão do Canil Municipal de Tavira, com um bilhete a pedir para que o matassem. Os funcionários não seguiram o pedido e acabaram por soltar o cão da corda que trazia ao pescoço e acolhê-lo na sua instituição.

Quem não conseguiu fechar os olhos à situação foi João Ferreira, o protetor de animais algarvio, que trabalha no abrigo ARA – Animal Rescue Algarve: “Temos uma parceria com o canil, em que, de vez em quando, ficamos com animais deles. Numa das visitas que fiz lá, vi-o e apaixonei-me logo por ele”, contou à PiT.

Levou-o consigo, com a missão de lhe conceder o último desejo: uma família. E assim fez. Partilhou as fotografias de Carlos nas redes sociais e teve a sorte de encontrar alguém que, como ele, também não conseguia fechar os olhos ao cão idoso com olhos de quem precisa de amor.

“Senti que tinha de fazer isto. Senti-me na obrigação de ajudar. Vi as fotografias, li a sua história e pensei: ‘Não posso enterrar a cabeça na areia”, começa por explicar à PiT Marta Cameirão, a nova dona de António.

Marta confessa que raramente usa o Facebook e que não acredita em coincidências. Por isso, quando lá foi, “àquela hora”, e lhe apareceu aquela publicação, sentiu que o cão sénior lhe estava destinado. Especialmente, por saber o quanto estes animais precisam de alguém que lhes dê conforto nos últimos anos de vida.

A jurista vive com o marido polícia, Paulo, e os dois filhos, Mateus e Constança, de quatro e três anos, numa casa em Loures. Além da sua família humana, tem ainda a de quatro patas, composta por Mary, uma Dálmata com 12 anos, e Mill, um rafeiro abandonado com quatro.

Apesar de não ser vegetariana, como faz questão de declarar, sempre adorou animais. E por isso também não ficou indiferente a Mill, quando ele lhe apareceu à frente no Facebook, numa das raras vezes em que foi à aplicação: “Foi partilhado por uns amigos meus. Já sabia que ia ficar horrorizada com aquilo. Ele tinha a coleira completamente agarrada ao pescoço, a perfurar-lhe a pele”, descreve.

Hoje, é um cão cheio de sorte pelo amor que a família lhe deu. Especialmente, porque tem mais um ser para adorar, se bem que precisa de ter um cuidado acrescido com ele.

João Ferreira foi, no dia 12 de fevereiro, levar António à casa dos novos tutores, que fez questão de conhecer, para perceber como seria sua adaptação: “Correu super bem. A família já estava ciente de que era um cão velhinho e de que precisava de muita medicação. E ele, mal chegou, foi pedir festinhas e miminhos e andava todo contente atrás dos miúdos”, explicou o protetor à PiT.

O feedback da família é o mesmo. Marta preparou os filhos para as particularidade de António, dizendo que “não podiam ter as mesma brincadeiras que têm com Mill, e que tinham de lhe dar muitas festinhas”. E Mateus e Constança cumpriram com grande rigor o pedido da mãe, sendo que, todas as manhãs, têm hora marcada para lhe dar mimos.

A nova dona de António confessa nunca se ter deparado com a morte, e, mesmo sabendo que acabou de adotar um cão velhinho, não quer que isso aconteça tão cedo: “Quem sabe se ele não vive mais do que nós? Não sabemos. E, se não durar, ao menos que façamos o bem por ele, enquanto cá estiver”.

“Nós temos todas as condições, vivemos bem, temos uma grande casa e suporte financeiro para um cão sénior que será muito dispendioso”. Com todas as vacinas, as licenças, medicação e alimentação, António deve custar cerca de 200€ por mês à família. Mas Marta não vê o dinheiro a sair da carteira, apenas o amor a sair do sorriso do cão.

“Ele não se vai arrepender, porque está muito bem. Corre muito com o Mill pelo jardim e à volta da piscina. Com a Mary não, porque ela é uma lady”, remata.

Carregue na galeria para ver algumas fotografias de António com a sua nova família.

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