Os olhos são belíssimos, de um amarelo invulgar. Observa-nos aconchegado na sua jaula, junto de mais dois companheiros felinos, naquela languidez tão própria dos gatos, com uma curiosidade não efusiva mas sem perder pitada do que se passa à sua volta. Chama-se Bruce Springsteen e está no Pet Festival, à espera de ser adotado, e a associação onde está acolhido é a Tiara – associação Tiarama, que fica na Amadora.
Como Bruce, há muitos outros cães e gatos a aguardarem a sua sorte nesta 11.ª edição do Pet Festival, que começou na sexta-feira e termina este domingo às 20h. A decorrer na FIL – no Parque das Nações, em Lisboa –, das 10h às 22h, o evento tem um pouco de tudo para quem gosta de animais: produtos, serviços e associações que se dão a conhecer e aos seus patudos.
Nesta festa da família, o desejo das associações é encontrar isso mesmo: famílias para os seus animais, que sejam capazes de assumir um compromisso para a vida com eles. Alguns deles estão no Pinder, à sua espera.
Essa é uma das razões que leva a Tiarama (Tratar e Integrar os Animais de Rua da Amadora), presidida por Carmen Piñera de Melo, a marcar presença no evento. E não só. “Para nós, que somos uma associação pequena e com pouca visibilidade, com muitas despesas com todos os animais – desparasitações, esterilizações, ração, etc. – que recolhemos da rua, estar aqui é muito importante, pois ajuda a divulgar o nosso trabalho e a ter visibilidade. As coisas que conseguimos vender são uma ajuda enorme na angariação do dinheiro que tanta falta nos faz”, diz uma voluntária da associação, Luísa Pereira, à PiT.
“Na Tiara temos sobretudo gatos, pois o espaço de que dispomos é pequeno. E dependemos muito das famílias de acolhimento temporário (FAT), são muito importantes para o nosso trabalho. Não só pelo espaço mas também para situações que requerem algum isolamento e sossego, como é o cabo dos recobros de cirurgias ou as quarentenas quando são resgatados da rua”, explica Luísa Pereira.
Várias associações e centros de recolha presentes no Pet Festival
Logo ao lado está a UPPA (União Para a Protecção dos Animais), que tem igualmente uma banca muito colorida, com artigos que são uma perdição para quem gosta de animais. E para a associação, que fica em Sintra, a venda destes produtos é muito importante para ajudar os patudos que acolhe, sublinha Vanessa Freire, que ali é voluntária desde 2016.“O Pet Festival é importante para conseguirmos visibilidade. Estando aqui, damo-nos a conhecer e conseguimos mais angariações com as vendas de rifas e produtos – que são artigos feitos e doados pelos voluntários”, aponta à PiT.
Um pouco mais à frente pedem à PiT se pode agarrar numa cachorrinha. É linda e meiga. Chama-se Chaleira e tem a irmã ali mesmo ao lado, num outro colo, e que se chama Panela de Pressão. Marta Estrabocha, voluntária da Quintinha abc, associação responsável pelas duas cadelitas, faz um sorriso aberto perante o espanto com os nomes tão originais. “Elas são de uma ninhada apanhada na rua, à qual chamámos ninhada dos Caricas. E daí os nomes”, explica.
“Temos muitos animais para adoção, tanto cães como gatos, e de todas as idades – desde os bebés até aos seniores”, salienta Marta. Ao seu lado está Margarida Fialho, outra jovem voluntária desta associação de Lagoinha, junto a Palmela – no distrito de Setúbal –, com a Panela de Pressão nos braços. Ambas exibem sorrisos largos, com a expectativa de que a Quintinha abc seja mais conhecida e que mais animais possam vir a ter famílias. “É para isso que aqui estamos. Para divulgar os nossos animais e angariar dinheiro com as vendas para as despesas médicas”, afirma Margarida.
O mesmo acontece com a SOS Bicharada, uma associação de defesa animal no Barreiro, igualmente na margem sul. “Estamos no Pet Festival pela divulgação e angariação de dinheiro. É um evento muito importante para nós, pois permite-nos pagar despesas que estão pendentes. Desde o início que estou presentes no Pet Festival, nunca faltámos”, diz à PiT a sua presidente, Cristina Nogueira.
E este sábado houve ainda mais motivos para alegria na SOS Bicharada. É que foi adotada uma gatinha da associação. “A família que a adotou até é da nossa zona. Ficámos muito felizes”, refere Cristina Nogueira, acrescentando que têm a cargo “à volta de 200 animais”.
Saindo da zona das associações, onde também se encontram presentes o NAAAS (onde Vera Kolodzig adotou o seu cão Tofu), Animalife, Associação Dobermanns em Risco – Dobie Hope, Pé ante Pata, AMIRA (Associação Mafra Intervenção e Resgate Animal), Associação EntreGatos e Rafeiros SOS, entre outras, passa-se pelos espaços de quatro centros municipais de recolha animal (Lisboa, Loures, Almada e do Seixal) e chega-se a um outro local também de grande movimento. São os stands das marcas de comida e estão rodeados de filas de pessoas que aguardam pacientemente pela oferta que há para elas.
As marcas e as filas para se receber um mimo
Na Purina, muitas pessoas esperam pela sua vez, para dizerem que animal têm e quais as suas características. Um questionário importante, já que a seguir recebem de oferta um suplemento indicado para o seu cão ou gato.
Do outro lado do stand da Purina há latinhas de mousse Gourmet para gatos e um jogo. Duas tampas levantam-se e fecham-se a grande velocidade para que não percebamos sob qual foi escondido o petisco. Se acertarmos, é nosso. Se falharmos… fica para a próxima. Uma forma divertida de marketing da empresa, que lançou esta semana a música “It’s Great to be a Cat!”, cantada por Robbie Williams, especialmente para a sua marca Felix.
Todas as empresas presentes têm algo para oferecer, cativando assim a atenção de quem passa e que acaba por ficar para saber mais sobre as marcas. É o caso também da Avenal Petfood, que fabrica ração 100 por cento portuguesa. A empresa criou uma mascote, sob a forma de cão, e nos três dias de duração do Festival está a votação um nome para lhe dar, num passatempo que também dá prémios. Mas não só. No stand da Avenal decorre igualmente um jogo e quem ganhar pode votar numa associação à sua escolha para receber uma refeição. No fim do evento, as refeições angariadas são distribuídas pelas três associações mais votadas.
“O objetivo de aqui estarmos é promover a Avenal e dar também a conhecer melhor a nossa marca Fluffy, que tem agora rações mais dedicadas ao porte do animal e diferenciadas pelo tipo de proteína”, explica à PiT Telmo Ponte, designer gráfico da Avenal.
A Fixando – aplicação que liga clientes a especialistas em mais de 1.200 categorias de serviços – é outra das marcas que não quis deixar de marcar presença, até porque o segmento animal está a crescer cada vez mais. “O pet sitting teve um crescimento descomunal após a pandemia. Muitos animais habituaram-se a ficar com os donos em casa e quando estes regressaram ao trabalho houve muitos que ficaram com ansiedade de separação. Por isso, muitos donos procuram serviços de pet sitting e dog walking, por exemplo”, explica Alice Nunes, diretora de novos negócios.
E qual o objetivo de estarem presentes no Pet Festival? “É sobretudo darmos a conhecer o lado dos especialistas – os profissionais que prestam o serviço – e o dos clientes, que precisam da prestação desse serviço. No caso dos animais, falamos por exemplo de veterinários, treinadores, serviços tosquias, pet sitting, dog walking, etc.”, diz à PiT.
Miguel Mascarenhas, um dos fundadores da Fixando, reforça a importância deste segmento de negócio. “Os animais são uma das nove categorias principais da Fixando. Há bastante interesse na plataforma por parte das pessoas que têm animais e que precisam de resolver um serviço, e também por parte dos jovens, em especial, que veem no pet sitting ou dog walking uma forma de terem um rendimento extra. E sempre com toda a responsabilidade”, afirma.
Concursos, sessões de fotos e autógrafos não faltam no Pet Festival
O evento não se fica por aqui. Num segundo pavilhão, ali mesmo ao lado, decorrem concursos de raças, promovidos pelo Clube Português de Canicultura. Pacientemente ao lado dos donos, há grupos de Teckel, Bichon Maltês e Serra da Estrela, entre outras raças. Pelo meio deles, bem coladinhos aos tutores, passeiam os cães dos visitantes neste evento pet friendly. E não apenas cães, já que até um furão e um papagaio cinzento andavam por ali a ver as vistas.
Neste mesmo pavilhão há uma zona de comes e bebes (e no exterior há bebedouro para os cães mais sedentos) e vários espaços repartidos por palestras – um grupo atento de crianças e adultos ouvia falar sobre os perigos das carraças quando a PiT passou –, recreio para um pouco de convívio, e também espaços dedicados aos peixes, aos répteis ou animais da quinta.
Para quem queira fazer compras para os seus amigos com patas, pelos e penas, há coleiras trelas, peitorais, ração e biscoitos, aspiradores próprios para os pelos dos animais, casaquinhos e outros agasalhos, camas e ninhos, e muito mais. Até colónias de formigas. E sem faltarem pet influencers, sessões de grooming e um serviço de fotografia, onde pode eternizar o momento junto do seu animal de companhia. Para domingo, há também espaço para autógrafos. É a partir das 15h30 que o ator Ruy de Carvalho ali estará a deixar a sua dedicatória no livro que escreveu com a filha Paula Carvalho, intitulado “Naná, o meu amor de quatro patas”. É um mundo, é um zoo, é a família animal – que por estes dias anima Lisboa.
Percorra a galeria para ver algumas fotos do evento.