Apesar de viver na rua, é um gato de casa. Um gato de pessoas, de afeto e de família. Já era urgente que fosse adotado e que largasse as colónias por onde tem passado. Mas a isso pode mesmo ser a única solução para não morrer envenenado.
Pirata era um dos 13 gatos de uma colónia no Lumiar, cuidada por um amante de animais, que desapareceu como por magia, deixando os gatos à sua mercê. Foi aí que Marcela Vitorino entrou em ação.
Sem conseguir ver ali os felinos abandonados, decidiu começar a alimentá-los diariamente. Uns mais desconfiados e outros mais afetuosos, cada um permitiu que a cuidadora entrasse na sua vida. Houve um, no entanto, que a recebeu de forma especial: “O Pirata era amoroso, roçava-se nas pernas e estava sempre a pedir por carinho”, contou à PiT.
Até mesmo quando a cuidadora, e outros amantes de animais que se foram juntando à causa, iam deitar as latas de comida ao lixo, ele ia atrás deles, para nunca estar longe de quem lhe fazia bem: “Sempre teve um lindo e profundo olhar. Um miado muito amoroso e único”.
Pirata, que, apesar do nome, tem os dois olhos com muita saúde e não é nenhum vilão, viu os seus companheiros felinos da colónia serem adotados, mas ele ficou sempre por lá. À espera da sua vez. “Os gatos que estavam doentes eram os primeiros a ser adotados. Foi o caso de Titi, que ficou presa a uma grade, que lhe abriu a barriga, e Theo e Bastet, abandonados na colónia”, explica Marcela.
“Por isso, fomos adiando a adoção do Pirata”. Sendo um gato tão “doce, belo e cheio de saúde”, acabaram por dar prioridade àqueles que precisavam de ser curados com amor. Já Pirata tinha amor para dar e vender.
Tudo mudou quando os gatos começaram a aparecer assustados na colónia. Tal evoluiu, até que um gato apareceu doente e com uma mordida, que acabou por matá-lo. Marcela e os restantes cuidadores ficaram sem saber o que fazer, pois não sabiam as causas daquela tragédia.
“A rua tem os seus perigos e nem sempre conseguimos protegê-los de tudo”. Foi preciso mais um gato partir, com uma mordida semelhante à do anterior, para descobrirem que havia um morador que andava a atiçar o cão contra os gatos e a colocar veneno na colónia.
Marcela não teve outro remédio senão apressar-se na adoção dos gatinhos da colónia. Conseguiu dar uma para uma família de Azeitão, no concelho de Setúbal, e um dos cuidadores adotou outro. “Hoje, são ambos muito felizes”.
Nesse processo, aperceberam-se de que faltava um dos seus gatos. Aquele que sempre abdicou de uma casa em favor dos outros, e cujo coração não diminuía apesar de todo o sofrimento. Pirata estava desaparecido, e os cuidadores perdiam a esperança de o encontrar.
“A sua inteligência fez com que ele migrasse para se salvar do perigo”, descreve a cuidadora. O gato preto com cerca de cinco anos acabou por ser encontrado numa outra colónia, livre de venenos e de cães raivosos. Voltou ao cuidado dos amantes de animais, mas não por muito tempo.
A esperteza de Pirata não o levou para muito mais longe do perigo que experienciava na outra colónia. “Há uma nova construção, exatamente no local onde ele morava. Estão a fazer uma desinfestação, que, inclusivamente, já matou uma gatinha”, contou a cuidadora.
Enquanto que os outros gatos se conseguem abrigar em quintais e hortas das casas ali circundantes, e que não são afetadas pelas obras de construção, Pirata não tem o mesmo feitio. Segundo Teresa Soares, uma jovem de 24 anos que divide o amor por gatos com a paixão pela medicina, ele prefere esconder-se nas árvores, mas nunca deixa completamente a colónia.
Os cuidadores de Pirata têm receio de que ele volte a fugir para se proteger, pois “pode não regressar”. Aliás, foi isso que lhe deu o nome. Por isso, procuram uma casa para este gato que, apesar de ser muito amoroso, é deveras peculiar.
“Não sabemos bem porquê, mas tem sempre o pêlo a brilhar. Ao contrário dos outros gatos da colónia, que se abrigam noutros sítios e ficam sujos”, conta Teresa à PiT. Mas isto não é o mais estranho. Se o adotante de Pirata não quiser pegadas de lama em casa, ou móveis a cheirar a gato molhado, tem aqui o gato perfeito: “Ele nunca se molha. Em dias de chuva, os gatos aparecem todos molhados, mas ele não”.
Fora isso, é um gato impecável, mas que tem alguns problemas a partilhar a atenção com outros felinos e, “volta e meia, bate-lhes”. No entanto, com Gigas, o gato com a língua de fora e que viveu quatro meses fechado num quarto até ser adotado, não houve qualquer picardia.
Pirata não é um gato de grandes requintes. Pelo contrário, nem aprecia muito comida húmida, geralmente a preferida dos felinos. “Gosta mais de ração. O que acabou por salvá-lo de apanhar muitas doenças que os gatos das colónias tinham”. Isto deve-se a outra particularidade de Pirata: o facto de não deixar ninguém aproximar-se da sua taça de comida: “Quem se atrevesse, levava no focinho, literalmente”, confessa Teresa.
O gato está há anos à procura de uma nova família, e espera consegui-lo em breve. Afinal, quem não quer um felino tão amoroso junto de si?
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