Pó D’arroz, um Weimaraner, Broa de Mel, um Teckel, e Dona Lurdes, 50 por cento gato e a outra metade cão. São estes os três protagonistas animais da página do Instagram gerida por João Molinar, de 32 anos, e a namorada Filomena Santos, de 37. Ao trio animal mais fofo a viver em Lisboa, mais especificamente em Almada, junta-se Teresa, uma bebé que prova que as famílias podem assumir várias formas e espécies.
“Grande parte das minhas memórias de infância tem um animal por perto, não por estar sempre com eles ao lado, mas talvez por serem as que mais me marcaram, e tento passar isso para a minha filha. Acho, verdadeiramente, que está a resultar”, começa por contar João Molinar.
A verdade é que, pelo menos para os mais de 207 mil seguidores que acompanham diariamente os posts do “podarroz_weimaraner”, dúvidas não restam: há, de facto, uma harmonia entre os seis membros.
“O Pó, Broa e Lurdes são os meu três filhos, irmãos mais velhos da Teresa”, sublinha João Molinar. É com eles, devido ao facto de trabalhar para uma empresa sueca a partir de casa, que passa a grande maioria do seu tempo. Explica que acaba “por ter mais tempo para acompanhar pequenos detalhes divertidos”, que se apressa a registar para mais tarde recordar. Onde? Sobretudo na conta, hoje de sucesso, do Instagram.
“A uma dada altura passei a usar a página mais para guardar todas as fotografias e filmes deles, para mais tarde recordar. O objetivo nunca foi fazer parcerias e ganhar dinheiro com isso. Aliás, o meu trabalho é no campo da arquitetura, sendo que vejo a página somente como o hobby que me permite evoluir em termos de edição de imagem (algo que uso bastante no meu trabalho). Nunca deixaria o meu trabalho para gerir uma pagina de Instagram.”
Até porque tudo começou como quem não quer, realmente, a coisa. Quando o Weimaraner, Pó D’arroz, ainda só tinha três meses, já era um animal bem esperto. Tinha o hábito de ir constantemente buscar o papel higiénico à casa de banho e levava-o para a sala. Um ato meio traquinas, embora simples, mas que depois de ser filmado e publicado nas redes sociais se tornou viral. Do nada, choviam pedidos para partilhar a gracinha do Pó D’arroz e até chegaram a pedir para comprar o vídeo — o que aconteceu.
Parte dos direitos do vídeo foram comprados e, daí em diante, cada vez que o vídeo deste cachorro era visualizado na Internet (Facebook e Instagram) surgiam cada vez mais pessoas a seguir a página. A partir daí, João Molinar pensou seriamente em publicar mais fotografias e vídeos, na altura, com o seu único companheiro.
“Todas as minhas memórias são acompanhadas de patudos aqui e ali. Sempre quis ter um cão ‘meu’ e assim que fui viver sozinho numa casa alugada abri a porta para isso. O Pó chegou primeiro, viveu comigo durante um ano em Lisboa e quando mudei de emprego e saí do País levei-o comigo para a Suécia, onde vivemos um ano.”
Por essa altura, já a página tinha atingido alguma notoriedade internacional, explica o bloguer, que afirma “que contas deste tipo serão sempre mais populares lá fora, um pouco por existirem páginas internacionais muito conhecidas e com grande alcance que partilham os vídeos”, como a “9gag” e a “Ladbible“. Além disso, o casal português que gere todo o projeto vende os direitos de vídeos a empresas estrangeiras, que depois são transmitidos em canais de televisão e programas em todos os continentes.
Ao Pó, o único detentor, por algum tempo, do papel principal do projeto digital, juntaram-se depois o Broa de Mel, um Teckel oferecido de uma ninhada de cães de caça que nasceu em Badajoz, e a Lurdes que, lá por casa, chamam de “gato/cão”. Chegou a Lisboa depois de ter sido deixada dentro de uma caixa de cartão à porta do hospital veterinário de Santa Maria da Feira. Daí em diante, o casal convenceu-se de que “a cada dois anos iria buscar mais um animal”, uma ideia que teve de ser adiada com o nascimento da pequena Teresa.
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Com cerca de 207 mil seguidores — um número em ascensão a cada dia que passa —, este sucesso que retrata a vida desta família portuguesa chegou do nada, mas não é do nada que mantém o êxito. “O facto de não ter demasiada produção” é uma das razões encontradas (e apontadas) por João Molinar para justificar a dimensão atual da página. Mas não só. “São vídeos e fotografias do dia a dia com os meus cães e agora com a minha filha também, o que leva a que as pessoas mais facilmente se relacionem”.
A “podarroz_weimaraner” pode ser vista como uma página onde, afinal, a vida acontece na sua maior naturalidade. “Cada publicação”, acrescenta o casal, “tem quase que uma historia. Quem acompanha há algum tempo, viu crescer esta família e penso que se emociona a cada momento novo. Grande parte das pessoas que participa na página diariamente sabe os tiques e manias de cada um dos três e espera ver a interação entre eles. Algo que as faça rir e algo com que se identifiquem ou relacionem.”
Recentemente, com a chegada da Teresa, a bebé, vieram novos seguidores, muitas deles com bebés ou que ainda se encontram naquela transição de sonho para a realidade de virem a ser mães e pais. Deles, e de outros tantos, chegam centenas de mensagens todos os dias a reconhecer este projeto online como uma fonte de inspiração para, por exemplo, darem o primeiro passo para ir buscar o primeiro cão ou gato. Da mesma forma, é uma fonte de força para aquelas pessoas que, ao passarem por dias menos bons, encontram nas publicações deste casal, da sua filha e dos três manos patudos, algum motivo para sorrir.
No entanto, não é só do ambiente digital que se faz o projeto. É verdade que cresceu no online, mas também é um facto que rapidamente se tornou numa causa ainda maior. Com a capacidade de influência que a “podarroz_weimaraner” concentra, foi criado um crowdfunding, de forma a que possam ser enviadas ajudas (monetárias) para associações de proteção animal.
Por exemplo, durante a pandemia foram doadas mais de seis toneladas de ração, assim como foram compradas dezenas de medicamentos para aqueles que pediam auxiliam ao casal por terem ficado sem trabalho ou meios de sustento para os seus animais. Além disso, em qualquer publicação patrocinada em que, de facto, é recebido algum pagamento, “o valor vai na totalidade para associações de proteção animal com as quais colaboramos frequentemente.”
Seja como for, a “podarroz_weimaraner” vai continuar a ser um hobby para o casal, sobretudo para João Molinar, ao mesmo tempo que funcionará como uma espécie de álbum que pode ser visto e recordado por todas as pessoas em todos os momentos. “Os meus cães, eles tornar-se-ão eternos. Daqui a 50 anos alguém se vai lembrar de um filme ou fotografia que viu e isso vai dar-lhes ‘vida novamente’. E, para o digital, não se prepara nada mais do que isso”.
A família está a contar organizar um grande encontro canino, com centenas de cães, cujo objetivo passará por mobilizar pessoas e, assim, angariar donativos para as associações. Também colocam em cima da mesa voltar a criar uma agenda com as fotos dos animais exatamente como fizeram em 2020. No meio disto tudo, há uma certeza: “Se daqui a 15 anos ainda existir Instagram, a conta passa para a Teresinha, que agora só tem dez meses”.
Percorra a galeria e veja esta família feliz.