Todos os tutores sentem que conhecem o seu cão, até porque está diariamente ao seu lado e já estão familiarizados com os seus comportamentos. Mas será que sabem mesmo quando o patudo está triste ou alegre? Um novo estudo acaba de provar que a resposta é negativa. Mas calma, que ninguém está a dizer que o vínculo entre humano e animal muda. A única conclusão é que, em muitos casos, os donos analisam o contexto, para além da suposta emoção demonstrada.
“As pessoas não olham para o que o cão está a fazer. Em vez disso, olham para a situação que o rodeia e baseiam a sua perceção emocional nisso”, começou por explicar Holly Molinaro, estudante de psicologia e também cientista do bem-estar animal e uma das autoras do estudo.
O novo estudo foi publicado esta segunda-feira, 10 de março, na revista científica Anthrozoös com o título “Barking Up the Wrong Tree: Human Perception of Dog Emotions Is Influenced by Extraneous Factors”, tendo sido feito por investigadores da Arizona State University.
“Os nossos cães estão a tentar comunicar connosco, mas nós, humanos, parecemos determinados a olhar para tudo, exceto para o cão”, acrescentou Clive D. L. Wynne, o segundo autor do estudo e professor de Psicologia que estuda o comportamento canino e a ligação entre humanos e cães.
Além disso, os investigadores acrescentam que há uma “projeção dos sentimentos dos donos” nos animais, que dificulta ainda mais a compreensão real do que pode ser a emoção demonstrada pelo patudo.
Para chegarem a essa conclusão, Wynne e Molinaro gravaram um vídeo de um cão em situações que acreditavam ser positivas (que geravam felicidade) ou negativas (que geravam sentimentos infelizes). No primeiro cenário, as situações incluíram coisas normais do dia-a-dia, como mostrar a trela ou oferecer petiscos. Já no segundo, incluíram “castigos gentis” ou pegar no aspirador de pó, muitas vezes temido pelos animais.
Os investigadores mostraram os vídeos a pessoas comuns com e sem o plano de fundo. Depois, numa segunda experiência, editaram os vídeos de modo a que o animal que tivesse sido filmado num contexto feliz parecia ter sido apanhado numa situação infeliz, e vice-versa.
Em ambas as experiências (383 pessoas participaram na primeira e 485 na segunda), os participantes avaliaram o quão alegres e entusiasmados achava que os cães estavam. A conclusão foi que a perceção dos tutores sobre o humor dos animais era baseada em tudo no vídeo, para além do próprio cão.
“Vê-se um cão a receber um petisco e assume-se que se deve estar a sentir bem. Vê-se alguém a gritar com o cão, e assume-se que ele está a sentir-se mal. Estas suposições de como se acha que o animal se está a sentir não têm nada a ver com o seu comportamento ou com sinais emocionais, o que é muito impressionante”, explicou Molinaro.
A autora principal acrescentou: “No nosso estudo, quando as pessoas viram um vídeo de um cão aparentemente a reagir a um aspirador, todos disseram que o cão se estava a sentir mal e agitado. Mas quando viram um vídeo do cão a fazer exatamente a mesma coisa, mas desta vez a parecer reagir ao ver a sua coleira, todos relataram que o cão se estava a sentir feliz e calmo. As pessoas não estavam a julgar as emoções de um cão com base no seu comportamento, mas sim na situação em que ele se encontrava.”
O que complica ainda mais o processo de comunicação é a projeção das emoções das pessoas no cão. Molinaro explicou que, embora os humanos e os cães tenham partilhado um vínculo ao longo dos séculos, isso não significa que o seu processamento emocional, ou mesmo as expressões emocionais, sejam os mesmos.
Molinaro explicou que mesmo nos estudos sobre a perceção humana das emoções humanas, é claro que ler emoções envolve mais do que apenas olhar para o rosto de uma pessoa. A cultura, o humor, o contexto situacional e até uma expressão facial anterior podem influenciar a forma como as pessoas percepcionam as emoções. No entanto, quando se trata de emoções animais, ainda ninguém estudou se esses mesmos fatores nos afetam da mesma forma.
A investigadora concluiu que o primeiro passo para percebermos o que os nossos animais estão a sentir é “termos a consciência de que não somos assim tão bons a ler as emoções dos cães”, acrescentando que “precisamos de ser mais humildes na nossa compreensão dos nossos cães.”
Molinaro concluiu: “Quando grita com o seu cão por fazer algo mal e ele faz aquela cara de culpado, é realmente porque é culpado ou porque tem medo que o repreenda mais? Tirar mais um ou dois segundos para se concentrar no seu comportamento, sabendo que tem de ultrapassar um hábito de ver a situação em torno do cão em vez de apenas o cão, pode ajudar muito a obter uma leitura verdadeira do estado emocional do animal, levando a um vínculo mais forte entre os dois.”
De seguida, carregue na galeria para saber mais acerca da ligação entre cães e humanos.