A vida de Bruno Veiga, 33 anos, não era fácil por causa da sua agenda profissional. Mas tornou-se mais difícil por um imperativo de consciência. Em março último, ao sair de uma reunião com um cliente, foi atraído por um som não muito distante. “A princípio, não percebi o que era. Eram um som baixo, uma espécie de gemido”, recorda à PiT este fotógrafo lisboeta. Mais uns passos e estava deslindado o mistério: à sua frente, junto a um contentor do lixo estava um saco preto. Lá dentro, três cães. Três pequenos cães. “Não deviam ter mais de dois meses e meio”, conta, recordando o que pensou de imediato. “Quem será o animal que tem a crueldade de deixar os cães assim, indefesos, sem comida, sem bebida? Será que a consciência não lhe pesa?”.
As duas perguntas que fez para si deram-lhe a resposta óbvia. “Não tive coragem de os deixar ali. Não consegui passar, olhar para o lado e assobiar”, conta Bruno. Levou-os para casa, passou por uma loja de animais para comprar comida para cachorros bebés e começou a alimentá-los. “Era uma questão de consciência”, admite. Mas o fotógrafo tem agora dois problemas. “Vivo num apartamento sem varanda ou terraço, não consigo ter três cães e e dar-lhes a vida e a atenção que merecem”, sublinha. O problema é que o coração começa a falar mais alto. “É óbvio que me vou afeiçoando aos cães e não pode ser. Já têm cinco meses, estão a crescer. Não tenho condições para os ter cá, ainda por cima porque tenho duas gatas”, diz num misto de riso e angústia. “Elas não aprovam nada a ideia de ter lá outros patudos a exigirem atenção”.
Ainda houve um tempo que achou que iria conciliar todos e fazer uma grande família. “Acho que fui ingénuo. Como se três cães e dois gatos num apartamento pequeno pudessem conviver pacificamente”, ri-se. As três crianças, dois machos e uma fêmea, foram crescendo e pedindo mais atenção. Os gatos, que já lá estavam antes, foram obrigados a ficar recolhidos no quarto. “Não é vida”, reconhece.
Bruno tentou que alguns amigos ficassem com eles, mas não teve sorte. “Toda a gente adora cães, mas nestes momentos as pessoas tendem a pensar na sua própria vida e nas dificuldades e eu não as censuro. Por isso, contactei algumas associações e espaços de acolhimento animal. Uns disseram-me que tinham a lotação esgotada, outros nem se dignaram responder”, lamenta.
Uma casa de pantanas
Sem forma de resolver o assunto e de dar espaço e uma vida mais confortável aos cães, o jovem, licenciado em fotografia e com mestrado em marketing digital, recorreu ao terreno de um amigo para uma solução temporária. “Estava desesperado. Houve um dia em que cheguei a casa e tinha a sala de pantanas: papéis, documentos e objetos no chão e dois xixis ali feitos. No quarto, os gatos miavam incessantemente. Foi aqui que percebi que tinha de tomar uma decisão: e consegui que uns amigos me emprestassem um terreno onde os dois machos têm pelo menos espaço para crescer”, relata. A miúda continua a viver no apartamento.
O problema é que todos os dias, duas vezes ao dia, Bruno Veiga tem de ir lá ter com eles, dar-lhes comida, mudar-lhes a água e limpar o espaço. “E tenho a cadela ainda separada dos gatos, e sempre a pedir-me atenção que não posso dar por falta de tempo”, sublinha. Bruno só quer encontrar quem queira os patudos e lhes dê o tempo, o carinho e o amor que sabe que não consegue.
“É óbvio que me vou afeiçoando à cadela, mas tenho de pensar também no bem-estar dos gatos. E a minha vida não me permite ter cães em casa. Há das em que saio às 07h00 e só regresso à meia noite, porque estou em estúdio a fotografar”, exemplifica. Bruno sabe que o ideal era os três irmãos serem adotados juntos. “Isso é difícil, eu sei. Só alguém que goste muito de cães e tenha uma casa com jardim. Mas eles podem ser adotados individualmente, O que eu quero é alguém que os trate bem, que lhes dê carinho e a vida que merecem. Eu nem consigo brincar com eles”, lamenta.
O fotógrafo só espera que “o imperativo de consciência” que o levou a salvá-los da morte naquele saco de plástico esteja vivo noutras pessoas que gostem de animais e tenham condições para receber um em casa. “Podem contactar-me pelo email brunocveiga@nullgmail.com ou pela minha página de Instagram. Eu quero conhecer as pessoas que vão ficar com eles e certificar-me que quem os levar vai dar-lhes amor”.
Quem dá uma ajuda?
Carregue na galeria e veja algumas fotos dos três cães ao longo dos meses.