Família

Sofia vive com 25 galinhas no Cartaxo. E uma delas até vai ao café

A jovem tem diferentes raças e quer acabar com os preconceitos contra as aves, que podem também ser animais de companhia.
Tem 28 anos.

O dia começa cedo, com Sofia Florentino a abrir a porta para Ritinha ir dar uma volta e reunir-se com as “amigas” galinhas no jardim de casa. A ave começou a passar as noites no interior da propriedade no Cartaxo, distrito de Santarém, há poucos meses, quando passou por uma muda de penas e não tinha como se aquecer. Mas gostou tanto de lá estar que se recusou a regressar para o exterior.

“Foi-me dada por uma pessoa que queria que ela tivesse uma vida melhor”, começa por contar à PiT a jovem de 28 anos, especializada em digital marketing. “Viemos a descobrir, quando ela cresceu, que ela, de facto, tinha algumas deficiências devido ao ‘inbreeding’ [o cruzamento de animais que partilham um parentesco], e até umas deficiências motoras. Por causa desses problemas, protegemo-la sempre muito.”

Houve um dia em que Sofia decidiu colocá-la dentro de casa para evitar que o frio piorasse a condição da galinha, que na altura estava a mudar as penas. “Todas elas têm galinheiros e espaços próprios, mas a Ritinha habituou-se e nunca mais quis voltar para a rua”, partilha entre risos. “Todos os dias, por volta da hora em que começa o pôr-do-sol, ela sobe as escadas sozinha, e se a porta estiver aberta, entra em casa.”

Como se não bastasse, Ritinha também está habituada a outros mimos, como ir ao café. As idas ao espaço começaram com Maria Lúcia, uma antiga galinha que vivia no Solar da Portuguesinha e que estava habituada a saltar para os braços dos encarregados de educação e a usar uma pequena trela. Agora, é Ritinha que continua o legado da companheira.

“Ainda na semana passada fui com a Ritinha, que adora pessoas. A parte engraçada é que não só ela gostou e portou super bem, como as pessoas do café estavam a dizer assim, ‘Se tivesse aqui o meu cão, estava a portar-se muito pior'”, sublinha. “Ela ficou sossegadinha, a receber os mimos das pessoas, e esta semana e já estavam a perguntar-me porque é que não a tinha trazido.”

Por outro lado, entre as restantes galinhas, muitas preferem levar uma vida mais sossegada e sem muita atenção. “Todas tendem a ser mais mimosas, mas claro que há sempre uma raça um bocadinho mais selvagem e que às vezes estranham os mimos, e nós respeitamos”, aponta. “A maioria gosta de mimos e de pessoas, e até parece que estão a falar connosco.”

Ritinha no café.

Quer mudar mentalidades sobre as galinhas

Sofia cresceu no campo, rodeada de animais, e sempre teve a sensação que “se sentia melhor ao lado deles do que das pessoas.” A paixão era tanta que, quando ia para a escola, adorava falar dos companheiros, mas o entusiasmo nem sempre era bem recebido pelos colegas. “Sofri muito bullying por causa disso. Aliás, até é engraçado porque finalmente aceitei essa parte de mim.”

A jovem chegou a estudar Ciência Política e Relações Internacionais, mas não demorou muito tempo a perceber que o futuro tinha de estar relacionado com os animais. Acabou por se dedicar à área do marketing digital e das redes sociais, e aos 25 anos, comprou a primeira casa. “Quando comecei a procurar uma propriedade para comprar, não me importava como era a casa, nem quantos quartos tinha, nem se tinha piscina ou terraço. Eu só queria ter um espaço para ter animais”, frisa. “Era o meu único requisito”.

A casa ideal surgiu por volta de 2021 e um ano mais tarde, quando tudo já estava mais ou menos preparado, decidiu ir buscar os seus primeiros animais — as galinhas. “Sempre tive galinhas quando era pequena, mas a paixão não era tão específica. Tornou-se mais intensa porque foi o primeiro animal a ir para a nova casa.”

Sofia chegou mesmo às primeiras residentes através de uma publicação feita nas redes sociais por uma pessoa que estava a doar as aves da raça Sedosas do Japão. “Achei super curioso, fui buscá-las e depois comecei a perceber que existiam mil e uma raças”, partilha. “Foi o facto de perceber que havia tanta variedade que me fez ganhar interesse, porque eu percebi que não era de todo aquela galinha que estamos habituados a ver.”

As Sedosas do Japão são conhecidas por terem penas volumosas, além de terem tufos de penas na cabeça e nas pernas. Bastou começar a cuidar do trio de galinhas para se apaixonar pelo universo das aves. Desde então, não mais parou.

 
 
 
 
 
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Todas as 25 galinhas que hoje vivem no Solar da Portuguesinha têm nomes e vieram de situações diferentes. Algumas foram doadas, outras criadas por Sofia e algumas compradas. Entre as raças, estão as Sedosas do Japão, Faverolles, Araucanas, Calçada Holandesa Milflores e duas linhas: a europeia e a norte-americana.

Houve uma altura em que chegou a ter 40 galinhas em casa, mas hoje afirma que 25 é o “número confortável” para ter a certeza de que consegue dar a melhor vida possível à todas elas — até porque os cuidados não são baratos.

“Muitas pessoas pensam que são animais que só deixamos lá, mas não é verdade de todo. As galinhas precisam de muito cuidado, são animais complexos, com sistemas imunitários frágeis e precisamos mesmo de ter muita atenção”, garante. “Têm muita personalidade, são muito sociáveis, têm estruturas hierárquicas sociais muito fincadas, e portanto  precisam mesmo de muito cuidado.”

A jovem participa ainda em feiras para dar a conhecer algumas das raças e residentes do Solar da Portuguesinha. O grande objetivo, desde o início, é mudar mentalidades em relação às aves. “Queremos desmistificar a ideia de termos das galinhas, sobretudo através das redes sociais, e sempre com uma pitada de humor à mistura”.

Além das galinhas, Sofia é tutora do gato Aramis e dos gansos Fonfon e Melinha. Para acompanhar as aventuras da jovem e dos seus animais, pode seguí-la no Instagram

De seguida, carregue na galeria para saber mais sobre o dia-a-dia de Sofia.

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