O dia começa cedo, com Sofia Florentino a abrir a porta para Ritinha ir dar uma volta e reunir-se com as “amigas” galinhas no jardim de casa. A ave começou a passar as noites no interior da propriedade no Cartaxo, distrito de Santarém, há poucos meses, quando passou por uma muda de penas e não tinha como se aquecer. Mas gostou tanto de lá estar que se recusou a regressar para o exterior.
“Foi-me dada por uma pessoa que queria que ela tivesse uma vida melhor”, começa por contar à PiT a jovem de 28 anos, especializada em digital marketing. “Viemos a descobrir, quando ela cresceu, que ela, de facto, tinha algumas deficiências devido ao ‘inbreeding’ [o cruzamento de animais que partilham um parentesco], e até umas deficiências motoras. Por causa desses problemas, protegemo-la sempre muito.”
Houve um dia em que Sofia decidiu colocá-la dentro de casa para evitar que o frio piorasse a condição da galinha, que na altura estava a mudar as penas. “Todas elas têm galinheiros e espaços próprios, mas a Ritinha habituou-se e nunca mais quis voltar para a rua”, partilha entre risos. “Todos os dias, por volta da hora em que começa o pôr-do-sol, ela sobe as escadas sozinha, e se a porta estiver aberta, entra em casa.”
Como se não bastasse, Ritinha também está habituada a outros mimos, como ir ao café. As idas ao espaço começaram com Maria Lúcia, uma antiga galinha que vivia no Solar da Portuguesinha e que estava habituada a saltar para os braços dos encarregados de educação e a usar uma pequena trela. Agora, é Ritinha que continua o legado da companheira.
“Ainda na semana passada fui com a Ritinha, que adora pessoas. A parte engraçada é que não só ela gostou e portou super bem, como as pessoas do café estavam a dizer assim, ‘Se tivesse aqui o meu cão, estava a portar-se muito pior'”, sublinha. “Ela ficou sossegadinha, a receber os mimos das pessoas, e esta semana e já estavam a perguntar-me porque é que não a tinha trazido.”
Por outro lado, entre as restantes galinhas, muitas preferem levar uma vida mais sossegada e sem muita atenção. “Todas tendem a ser mais mimosas, mas claro que há sempre uma raça um bocadinho mais selvagem e que às vezes estranham os mimos, e nós respeitamos”, aponta. “A maioria gosta de mimos e de pessoas, e até parece que estão a falar connosco.”

Quer mudar mentalidades sobre as galinhas
Sofia cresceu no campo, rodeada de animais, e sempre teve a sensação que “se sentia melhor ao lado deles do que das pessoas.” A paixão era tanta que, quando ia para a escola, adorava falar dos companheiros, mas o entusiasmo nem sempre era bem recebido pelos colegas. “Sofri muito bullying por causa disso. Aliás, até é engraçado porque finalmente aceitei essa parte de mim.”
A jovem chegou a estudar Ciência Política e Relações Internacionais, mas não demorou muito tempo a perceber que o futuro tinha de estar relacionado com os animais. Acabou por se dedicar à área do marketing digital e das redes sociais, e aos 25 anos, comprou a primeira casa. “Quando comecei a procurar uma propriedade para comprar, não me importava como era a casa, nem quantos quartos tinha, nem se tinha piscina ou terraço. Eu só queria ter um espaço para ter animais”, frisa. “Era o meu único requisito”.
A casa ideal surgiu por volta de 2021 e um ano mais tarde, quando tudo já estava mais ou menos preparado, decidiu ir buscar os seus primeiros animais — as galinhas. “Sempre tive galinhas quando era pequena, mas a paixão não era tão específica. Tornou-se mais intensa porque foi o primeiro animal a ir para a nova casa.”
Sofia chegou mesmo às primeiras residentes através de uma publicação feita nas redes sociais por uma pessoa que estava a doar as aves da raça Sedosas do Japão. “Achei super curioso, fui buscá-las e depois comecei a perceber que existiam mil e uma raças”, partilha. “Foi o facto de perceber que havia tanta variedade que me fez ganhar interesse, porque eu percebi que não era de todo aquela galinha que estamos habituados a ver.”
As Sedosas do Japão são conhecidas por terem penas volumosas, além de terem tufos de penas na cabeça e nas pernas. Bastou começar a cuidar do trio de galinhas para se apaixonar pelo universo das aves. Desde então, não mais parou.
View this post on Instagram
Todas as 25 galinhas que hoje vivem no Solar da Portuguesinha têm nomes e vieram de situações diferentes. Algumas foram doadas, outras criadas por Sofia e algumas compradas. Entre as raças, estão as Sedosas do Japão, Faverolles, Araucanas, Calçada Holandesa Milflores e duas linhas: a europeia e a norte-americana.
Houve uma altura em que chegou a ter 40 galinhas em casa, mas hoje afirma que 25 é o “número confortável” para ter a certeza de que consegue dar a melhor vida possível à todas elas — até porque os cuidados não são baratos.
“Muitas pessoas pensam que são animais que só deixamos lá, mas não é verdade de todo. As galinhas precisam de muito cuidado, são animais complexos, com sistemas imunitários frágeis e precisamos mesmo de ter muita atenção”, garante. “Têm muita personalidade, são muito sociáveis, têm estruturas hierárquicas sociais muito fincadas, e portanto precisam mesmo de muito cuidado.”
A jovem participa ainda em feiras para dar a conhecer algumas das raças e residentes do Solar da Portuguesinha. O grande objetivo, desde o início, é mudar mentalidades em relação às aves. “Queremos desmistificar a ideia de termos das galinhas, sobretudo através das redes sociais, e sempre com uma pitada de humor à mistura”.
Além das galinhas, Sofia é tutora do gato Aramis e dos gansos Fonfon e Melinha. Para acompanhar as aventuras da jovem e dos seus animais, pode seguí-la no Instagram.
De seguida, carregue na galeria para saber mais sobre o dia-a-dia de Sofia.