Entrar no ano novo com o pé direito? Susana Oliveira começou 2023 com uma testa arranhada e um gato traumatizado. E não foi a única. Muitas pessoas tiveram que lidar com os ataques de pânico, fugas e outros problemas de saúde dos seus animais, devido aos fogos de artifício.
Apesar dos avisos de várias associações de animais e de outras entidades, a Passagem de Ano foi marcada, desta feita, por muita pirotecnia caseira. Os residentes não tiveram outro remédio senão proteger os seus animais no interior das suas casas, de forma a prevenir as consequências que o barulho dos foguetes podia trazer. No entanto, tal nem sempre correu como pretendido.
Susana, 34 anos, mora na freguesia de Arcozelo, no Porto, com os seus animais. Quando começou a ouvir fogo de artifício na rua, não pensou duas vezes em fechar os seus cães e o seu gato, Melinho, na cozinha do andar de baixo. “Assim que os fogos acabaram , fui ver como é que eles estavam. Como o Melinho me pareceu assustado, decidi pegar-lhe ao colo e trazê-lo para o andar de cima”, começa por contar à PiT.
Como só tem escadas exteriores, a dona do gato preto apressou-se a levá-lo para cima, antes que algo mais se desencadeasse. Mas não foi a tempo, e surgiram novos foguetes, mesmo antes de conseguirem “entrar em casa”. “O barulho foi tão alto que parecia uma bomba a estourar”, descreve.
Foi tudo numa questão de segundos. O susto de Melinho foi tão grande, que a sua reação foi escapulir-se dos braços da sua dona. Para isso, acabou por se agarrar à testa de Susana, espetando as garras e arranhando toda a pele.
O pânico de Melinho levou-o a fugir para o terreno da sua casa, onde se veio a esconder “atrás de uma máquina do anexo ao fundo do quintal”: “Só encontrei graças ao GPS que lhe comprei”, explica.
Apesar do susto, o gato já se encontra estável: “Mal o consegui levar para casa, ele acalmou”. Susana também ficou aliviada quando encontrou Melinho e, embora já esteja bem, reconhece que “podia ter corrido muito mal, se não estivesse de óculos”, confessa à PiT.
Susana faz ainda uma crítica àqueles que participaram destas ações pirotécnicas: “Aparentemente não há dinheiro para nada, mas, para gastar em bombas que rebentam em cima da minha casa, já há. É o Portugal triste que temos”.
Uma noite de festa que resultou em tragédia
Susana não foi a única a ver a sua noite de Passagem de Ano a transformar-se num verdadeiro pesadelo. Até no solo brasileiro, tais infortúnios acontecem. Clayton de Sousa teve o pior cenário que alguma vez podia ter imaginado.
Através das suas redes sociais, o voluntário que leva a vida a resgatar animais comunicou a morte do seu cão Nino, devido aos “malditos fogos de artifícios”: “Era um dos meus pequenos. Despendi de passar o fim de ano com a minha família, para ficar a apoiar os meus peludos, e, mesmo assim, este mini de 800 gramas não resistiu. Teve uma convulsão e de seguida um enfarte fulminante”, escreveu.

Clayton já tinha perdido o seu cão Julius pelo mesmo motivo, por isso sabia perfeitamente o que fazer para prevenir que a situação se repetisse. No entanto, mesmo com ele ao seu colo e com algodão nos seus ouvidos, viu o seu Pinscher morrer ao seu lado: “Quando os fogos acabaram, tapei-o e pu-lo a dormir perto de mim. Ouvi dois suspiros profundos e ele morreu de seguida”, respondeu a uma seguidora nos comentários.
Tal comportamento não é de estranhar, pois, tal como referiu João Reis, médico do Hospital Alma Veterinária à PiT, “mais de 80 por cento dos cães demonstram alguma sensibilidade ao ruído, quer seja sons mais simples, como o aspirador, uma mota ou camião do lixo, chegando aos extremos das trovoadas e fogo de artifício. Chega ao extremo de alguns animais manifestarem ataques de pânico que culminam em fugas e mesmo auto-traumatismos”.
Clayton faz uma última pergunta, que leva os adeptos da causa animal a interrogarem-se também: “Quando é que as pessoas vão começar a ter noção de que os fogos de artifício matam?”.
Carregue na galeria para ver fotografias de Melinho e Nino.