Família

Uma história de amor. Sem-abrigo recorre à Justiça para se reunir com o cão

Rocky foi acolhido pela autarquia, que o colocou para adoção. Carlos fez de tudo para o recuperar — e conseguiu.

Foram dias difíceis. Desde que Carlos Merlini Neto se separou de Rocky, o seu cão de seis meses, não descansou até encontrá-lo — e quando o encontrou, não parou até recuperá-lo. O sem-abrigo, que vive nesta condição há dez anos, teve de recorrer à justiça para voltar a ter o Fila Brasileiro sob os seus cuidados. 

A 18 de maio, num dia chuvoso, o patudo acabou por ser atropelado numa avenida no centro de Curitiba, no Estado de Paraná, Brasil. O condutor não parou para o ajudar e o filhote sobreviveu graças à solidariedade daqueles que presenciaram o acidente e que ajudaram Carlos. “Fiquei desesperado, achei que ele tinha morrido”, contou o tutor à RPC, parceira da Rede Globo na região.

Naquele dia, as autoridades foram acionadas e Rocky foi levado pelo centro de recolha municipal, tendo ficado internado para tratar de algumas costelas fraturadas. Quando finalmente se recuperou, não foi devolvido ao dono devido à situação instável em que este se encontra. Carlos, porém, não terá sido informado sobre a decisão e só teve conhecimento quando foi atrás do patudo.

Nesta altura, foi informado que Rocky tinha sido encaminhado para um abrigo público e que estava para adoção. Mais uma vez, sentiu-se desesperado e com as opções escassas, decidiu recorrer à justiça. Sem pensar duas vezes, foi até a Defensoria Pública do Paraná, uma instituição que disponibiliza apoio judiciário para pessoas financeiramente instáveis. 

A instituição deu entrada ao processo e a uma ação que obrigava a autarquia da cidade a localizar e devolver Rocky ao responsável. Como argumento,  recorreu ao artigo 226 da Constituição Federal brasileira, que frisa que a família é a base da sociedade e que tem especial proteção do governo, sendo ainda referido que o termo “família multiespécie”, isto é, aquela formada por um humano e os seus animais de companhia, não deve ser ignorado.  

“A ideia de família é uma ideia de felicidade para os seus membros, e nesse sentido também abrange esta interação com os animais de estimação”, explicou a advogada Regiane Souza. 

 
 
 
 
 
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Quando foi notificada sobre a ação, a autarquia preparou o tão esperado reencontro. Um funcionário levou Rocky até Carlos, que ficou emocionado quando se reuniu com o seu melhor amigo. “Foi uma alegria. Assim que o homem o trouxe, eu saí a correr e nem esperei ele chegar”, disse. “O Rocky ouviu-me, ladrou um pouco e fez a festa”. 

A atitude do tribunal foi aplaudida pelos amantes da causa animal e pelas associações que lutam pelos direitos de pessoas em situação sem-abrigo. “Fiquei feliz porque senti que tiveram respeito por nós [pessoas em situação de sem abrigo], não teve aquela discriminação”, frisou Carlos sobre o desfecho da história. “Quem tem cães, não tem de os abandonar. Não temos família, eles são a nossa família”.

O homem já é conhecido no bairro e desde que adotou Rocky, o patudo tornou-se na mascote da região. Vários comerciantes oferecem comida à dupla e o patudo até chega a chorar quando a padaria não está aberta. 

A seguir, carregue na galeria para conhecer Carlos e Rocky. 

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