Há muitos cães, pelo país fora, que sobrevivem a custo nas ruas. Todos os dias travam a mesma luta: procuram alimentar-se e proteger-se – de pessoas menos bem intencionadas, dos carros e até de outros animais –, e dormir em segurança e com o conforto possível. É o caso de Zenha, cuja história é, essencialmente, de sofrimento. Não se sabe a sua idade, apenas que é jovem. E no seu curto tempo de vida já terá certamente passado por muito.
“Foi em Quadrazais, uma pequena aldeia raiana do concelho do Sabugal, que nasceu uma história de resiliência e esperança protagonizada por uma cadelinha a quem carinhosamente chamámos Zenha, em homenagem aos habitantes locais – os quadrazenhos –, que a alimentaram e tentaram dar amor enquanto andava pelas ruas”, contam à PiT as fundadoras da associação Pelas Patas Felizes, Ana Lourenço e Reymar Briceno, que têm agora a patuda a seu cargo.
Durante mais de dois meses e meio, Zenha vagueou pelas ruas da aldeia, extremamente magra, desconfiada, e com um cabo de aço apertado à volta da sua barriga, explicam as cuidadoras. Tratava-se de um laço de javali, uma armadilha ilegal mas que ainda é muito usada pelo país fora. Apesar de ser alimentada por alguns moradores sensibilizados com a sua condição, nunca permitiu qualquer aproximação humana. Vários foram os esforços da comunidade e das fundadoras da associação para a capturar e socorrer, mas sem sucesso – até junho do ano passado, quando, finalmente, foi possível resgatá-la e prestar-lhe os primeiros cuidados urgentes.
A nova vida de Zenha
“O cabo de aço foi-lhe retirado de imediato. Estava já a entranhar-se na pele, provocando-lhe feridas e dor constante”, contam as suas protetoras. “Descobrimos ainda que a Zenha apresentava sinais de ter tido recentemente cachorros, ou de estar a passar por uma gravidez psicológica, pois tinha leite nas maminhas. Não conseguimos imaginar como terá conseguido suportar uma possível gestação com aquele cabo de aço a apertar-lhe o corpo. Continua a ser um mistério doloroso. Os cachorros, se existiram, nunca foram encontrados, apesar das buscas intensas que realizamos pela aldeia”.
Zenha foi tratada e esterilizada. E embora já pareça outra cadelinha, ainda tem alguns traumas. “Continua a não tolerar a aproximação humana e reage com extremo medo, apesar de já, de vez em quando, nos abanar o rabinho”, sublinham Ana e Reymar. “Faz xixi sempre que alguém se aproxima, treme quando é colocada na trela e recusa-se a andar, apenas quer fugir. Apesar disso, mostra-se sociável com outros cães, encontrando neles conforto e segurança”, acrescentam.
Depois de ultrapassar as feridas físicas e estar pronta para deixar a clínica veterinária, procurou-se uma família de acolhimento temporário (FAT), pois a associação não possui espaço físico para poder abrigar os animais que resgata. Por isso mesmo, a Pelas Patas Felizes conta com a ajuda das FAT, que “são uma peça fundamental no processo de resgate e reabilitação de animais”. No entanto, ninguém se ofereceu para lhe abrir as portas, nem mesmo de forma provisória. “A única alternativa encontrada foi um espaço improvisado, com chão em terra, mas com um abrigo seguro, comida, água, carinho e espaço exterior para correr”, contam as protetoras, que têm também o patudo Óscar para adoção.
O sonho de uma família
Contudo, Ana e a Reymar não desistem e acreditam que estará por aí, algures, aquela que será a sua família para sempre. Enquanto isso não acontece, o que mais desejam é poder proporcionar mais conforto a Zenha – mas faltam verbas e voluntários para concretizar essas e outras melhorias. Se puder ajudar, tudo é bem-vindo. Pode, por exemplo, apoiar com as despesas mensais – apadrinhando a Zenha por €10 por mês – até que alguém se apaixone por ela. Também pode ajudar a Pelas Patas Felizes através de transferência bancária (PT50 0045 4025 4039 0853 6846 1), PayPal ou MBWay – bastando enviar uma mensagem privada a pedir estes dados.
Mas não nos esqueçamos: para a Zenha, é muito importante ter um lar de amor. “Mais do que um espaço mais digno, o que a Zenha precisa verdadeiramente é de uma família para sempre. Alguém que compreenda os seus traumas, respeite o seu tempo e esteja disposto a mostrar-lhe, talvez pela primeira vez na vida, o que é o amor. A Zenha sobreviveu ao abandono, à dor e à indiferença. Agora, só lhe falta uma oportunidade”, apelam as suas protetoras. Já está microchipada, vacinada e esterilizada. Percorra a galeria para a conhecer melhor.