Saúde

Afinal, a voz “à bebé” não é a favorita dos cães — o segredo está na velocidade

Um novo estudo concluiu que é possível criar laços mais profundos com os animais quando falamos mais devagar.
É mais especial.

Sim, eles adoram ouvir a voz “à bebé” e já foi comprovado que até reagem melhor com vozes femininas. Mas um novo estudo concluiu que a cereja no topo do bolo é mesmo falarmos tudo isso e mais um pouco num tom mais lento. A pesquisa da Universidade de Genebra na Suíça, publicada este mês, revelou que quando falamos mais devagar, os cães percebem com mais facilidade os comandos e assim, criam um vínculo mais profundo com os tutores. 

Certamente já teve de repetir um comando pela segunda ou terceira vez e sempre que o fez, aproveitou para falar mais lentamente, o que fez com que o patudo lá de casa respondesse de imediato. Segundo a pesquisa publicada na revista científica Plos Biology, o segredo está precisamente na velocidade. 

A conclusão foi da especialista Eloïse Déaux, principal autora do estudo, e dos seus colegas da Universidade de Genebra. Enquanto os humanos “falam” muito mais depressa do que os cães, com uma velocidade de cerca de quatro sílabas por segundo, os canídeos ladram, rosnam e choramingam a um nível de cerca de duas vocalizações por segundo. 

Para chegarem a esta conclusão, os especialistas analisaram os sons vocais de 30 cães diferentes. De seguida, estudaram os sons de 27 humanos em cinco línguas a falar com outras pessoas, e outros 22 humanos a “conversar” com os animais. Foi também usado um equipamento de eletroencefalografia para examinar as respostas cerebrais à fala em ambas as espécies. 

Quando comunica com os animais, a maioria das pessoas tende a abrandar a fala para cerca de três sílabas por segundo, mostrando que há uma necessidade inata de dizer tudo de uma forma mais lenta. Nos casos em que isso aconteceu durante o estudo, os cães prestaram mais atenção e realizaram mais rapidamente os comandos que lhes foram ordenados. 

“Embora os cães não consigam produzir sons articulados, respondem à fala”, lê-se no estudo. “A exploração das respostas neurais e comportamentais à fala revela que a compreensão depende de um ritmo mais lento do que o dos humanos”.

Os cães preferem vozes femininas

Uma pesquisa anterior, partilhada em 2023, mostrou que os cães apresentam uma maior sensibilidade cerebral quando os donos falam “à bebé”. Além disso, chegam a preferir vozes femininas. 

Na altura, os investigadores avaliaram a atividade cerebral de 19 cães através de uma ressonância magnética funcional enquanto estes ouviam três tipos de discursos diferentes – um direcionado para cães, outro para miúdos e um terceiro para adultos – gravados por 12 mulheres e 12 homens em interações da vida real.

Os cães (11 machos e 8 fêmeas), com idades entre os dois e os dez anos, repartiram-se por várias raças: cinco Golden Retriever, três Border Collie, três Cocker Spaniel, um Pastor Australiano, um Cão de Crista Chinês, um Cairn Terrier, um Labrador Retriever e quatro cães sem raça definida. Todos eles estavam habituados a interações diárias com homens e mulheres e a maioria (16) vivia em lares com ambos os géneros.

Antes da experiência, todos tiveram treino especial, incluindo elementos de condicionamento e aprendizagem social, através do reforço positivo, para aprenderem a manter-se quietos durante a realização da ressonância. E porque prestaram ainda mais atenção quando a voz era feminina? Isso poderá prender-se, segundo os investigadores, com o facto de as mulheres hiperarticularem mais as vogais do que os homens quando estão a falar “à bebé”, além de normalmente usarem também um leque mais amplo de tons.

“A maior sensibilidade do cérebro dos cães ao discurso de uma mulher dirigido especificamente aos patudos pode dever-se ao facto de as mulheres falarem frequentemente com os cães usando uma inflexão mais exagerada do que os homens”, explicou Anna Gábor, uma das autoras do estudo, citada no comunicado da universidade.

De seguida, carregue na galeria para recordar a história de Max, a cacatua poliglota que consegue comunicar com os cães.

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