Marta Hervera, médica veterinária especialista em nutrição animal, não tem dúvidas de que o mercado da alimentação para pets ainda tem muito para mostrar. Em entrevista à PiT, a especialista – que vai participar no 10.º Encontro de Formação da Ordem dos Médicos Veterinários (EFOMV), a decorrer de 14 a 16 de abril em Lisboa – fala sobre as novas tendências e sobre a importância de termos sempre a garantia de que estamos a fornecer o alimento mais adequado às necessidades dos nossos animais.
Antes de mais, qualquer regime alimentar do nosso cão ou gato deve ser discutido com o seu médico veterinário. E há também que ter confiança em quem produz os alimentos que o nosso patudo vai comer. Ou seja: “garantir que o fabricante está a fornecer um produto completo e apropriado – isto é, que tenha todos os nutrientes de que o animal precisa, nas quantidades adequadas, e que segue as recomendações da WSAVA (Associação Mundial de Médicos Veterinários de Pequenos Animais)” , diz Marta Hervera à PiT.
Isto aplica-se “a qualquer formato ou tipo de ingredientes utilizados, e também à comida caseira, já que nenhum formato, modo de processamento ou tipo de ingredientes utilizados garante só por si a qualidade nutricional do alimento”.
“O mercado da petfood tem vindo a crescer muito nas últimas décadas, tanto em quantidade de produtores como de referências e tendências. Ao haver mais concorrência, os produtores têm de procurar formas de diferenciar os seus produtos e por isso desenvolveram-se várias tendências, como o grain free, dietas vegetarianas, BARF ou comida crua. E o que está a ganhar grande força ultimamente é a comida natural cozinhada especificamente para os pets”, aponta a especialista em nutrição animal.
Dietas vegetarianas? Preste atenção ao gato
Marta Hervera não mostra preferências. No seu entender, o principal é mesmo assegurar que os devidos nutrientes estão lá. Se assim não for, o nosso pet poderá vir a ter problemas de saúde. Mas há regimes alimentares aos quais é preciso prestar especial atenção, como as dietas vegetarianas. Também neste caso, “devemos assegurar-nos de que o produtor é competente e que nos garante uma alimentação completa”, aponta. Mas com particular cuidado. “Neste tipo de comida, o aporte de certos nutrientes é mais complexo do que na alimentação não vegetariana e o produtor deve assegurar os seus níveis”, insiste a especialista.
E a situação varia consoante se trate de um cão ou de um gato. Com os cães, a dieta vegetariana pode ser mais viável, desde que, uma vez mais, se garanta uma alimentação completa. Mas, com os gatos, o caso muda de figura.
“Há estudos que nos dizem que, em muitos casos, o contributo e disponibilidade dos aminoácidos essenciais costumam ser o fator limitador neste tipo de produtos. E isto é especialmente inquietante em gatos, no sentido em que há muitos nutrientes essenciais que não se encontram nos vegetais e que, por isso, devem ser adequadamente suplementados [fornecidos de forma sintética] – caso contrário, podem vir a ter graves problemas de saúde”, alerta a especialista.

BARF não está nas preferências
Questionada sobre a BARF – Alimentação Crua Biologicamente Apropriada –, Marta Hervera diz que, pessoalmente, não prescreve nem formula receitas com base em carne crua. Isto “devido aos riscos sanitários associados e à falta de benefícios cientificamente demonstrados desta forma de alimentação”.
Para quem queira optar por este tipo de comida, “há que não esquecer que qualquer alimento deve ser completo e adequado – e também na alimentação BARF o produtor deve apresentar estas garantias”, sublinha.
Mas não só. “Neste tipo de alimentação encontramos referências com níveis muito altos de gordura, pelo que devemos avaliar a sua aptidão para os nossos pacientes, especialmente caninos”, acrescenta.
Cuidado com as fake news sobre alimentação
Sobre os erros mais comuns dos donos dos pets em relação à sua alimentação, Marta Hervera não tem dúvidas de que um tutor quer o melhor para o seu animal. Pode é não estar preparado para perigos que desconhece.
“Hoje em dia temos acesso a muita informação online e nem toda ela é informação comprovada e verídica. Também existem as fake news no campo da petfood”, afirma. E isso “pode confundir o tutor que, com a melhor das intenções, pode acabar por dar ao seu animal alimentos não adequados, sem garantias, fruto de tendências perigosas”, adverte.
Assim, “quando uma pessoa se informa na Internet, tem de fazer bem a triagem”, aponta. “A WSAVA, por exemplo, dispõe de documentos que orientam o tutor nesse sentido, disponíveis para descarregar no seu toolkit nutritional. O dono deve fazer perguntas e informar-se sobre as práticas e garantias que o fabricante dá, já que é a forma mais eficaz de avaliar a qualidade nutricional dos produtos”.
Perante todos estes riscos, qual seria o primeiro conselho que daria ao dono de um animal em termos da escolha da alimentação? “Antes de decidir qualquer mudança na alimentação, o melhor é sempre consultar o médico veterinário”, recomenda.
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