Saúde

Canábis medicinal para pets: benefícios são reais mas preconceito ainda existe

A utilização de produtos à base de CBD é cada vez mais frequente, e traz vários benefícios para os patudos, diz veterinária.
É um medicamento eficaz.

O consumo de produtos à base de canabidiol (CBD) tem-se tornado uma prática cada vez mais frequente, graças aos efeitos benéficos que a canábis produz, tanto em humanos como em animais. Rita Vicente, médica veterinária da clínica CascaisVet, exerce medicina veterinária integrativa há 10 anos, e explica à PiT os benefícios da utilização do CBD pelos patudos, e esclarece as preocupações a ter.

A medicina veterinária integrativa “conjuga o convencional com uma vertente mais holística”, explica Rita Vicente. “Fazemos o que os outros colegas fazem, mas tentamos ter uma abordagem mais natural”, acrescenta. 

O CBD é algo com que trabalha há vários anos. “Já é reconhecido, também por médicos de medicina humana”. A substância “vai interagir com o sistema endocanabinoide, que todos os organismos apresentam” – o sistema responsável por regular processos fisiológicos, nomeadamente a dor e a inflamação. Assim, “atua em tudo o que sejam problemas inflamatórios e que causem dor”, pelo que é uma mais-valia para complementar tratamentos.

“Temos muitos animais com dores articulares, problemas de pele, hérnias, problemas ortopédicos, e até pós cirúrgicos e problemas oncológicos”, conta à PiT. Além disso, “atua também na questão da ansiedade“, explica.

Ao longo da sua carreira profissional, Rita Vicente deparou-se com vários casos em que a administração do CBD melhorou a qualidade de vida dos pacientes. Recorda uma cadela que “tinha sido adotada de uma associação” e que “era muito ansiosa devido aos traumas”. Depois do tratamento com a canábis medicional, “a tutora reparou que a cadelinha teve uma diminuição muito acentuada de ansiedade”.

Além disso, relata ter “vários casos de animais com dores, que acalmam”. Um deles foi o de “uma cadela de 17 anos, com problemas articulares, que já tomava antinflamatório há muitos anos”, que “causam problemas a longo prazo, sobretudo para os rins”, sem que se verificassem melhorias significativas. Com o início da medicação canabinoide “ficou ótima e pôde deixar os antinflamatórios”. “Também tive um cão com uma hérnia grave na cervical”, que “acabou por não precisar de ser operado” graças ao tratamento. “Numa semana já estava sem dor e muito mais confortável”, afirma.

Existem contraindicações para a canábis? 

Apesar de ser um medicamento natural, nem por isso os efeitos secundários deixam de ser uma possibilidade. Contudo, não são tão perigosos como os de outros medicamentos. “Como qualquer medicamento, mesmo sendo algo natural, pode ter contraindicações e efeitos secundários”, esclarece a médica veterinária. “Por vezes, pode mesmo não funcionar. Já tive pessoas que me disseram que usaram e que não fez nada”.

Os principais efeitos secundários são a agitação e a sonolência. “Já tive animais que ficaram tão agitados que até apresentavam aumento da frequência cardíaca, o que geralmente se resolve com doses mais baixas”, conta. A sonolência é uma reação adversa comum, “mas será que é um efeito secundário, ou será que o animal tinha dores e só conseguiu passar a dormir depois da medicação?”, ressalva a veterinária.

Apesar de geralmente ser seguro, cada animal é diferente, e por isso “é importante avaliar cada caso”. “São poucos os casos em que decido não usar”, afirma a médica veterinária, acrescendo a exceção de animais com problemas cardíacos, que “podem ser mais complicados”. “Já tive animais de grande porte a fazer doses recomendadas para gato que apresentaram efeitos secundários”, conta.

Normalmente, os efeitos secundários da canábis surgem pela administração da dosagem errada. A próprias embalagens costumam recomendar as doses, mas estas “nem sempre são ideais”. Assim, “devemos começar com doses baixinhas e ir avaliando”.

Por ser algo natural, “é seguro usar com outras medicações convencionais”. De facto, normalmente é essa a abordagem que a veterinária emprega. É importante ter em atenção que o CBD “leva tempo a fazer efeito”, pelo que é aconselhável que os tutores “não interrompam o que quer que estejam já a fazer”. 

Qual é a melhor forma de garantir que o tratamento é eficaz?

Pela popularidade que o CBD tem vindo a ganhar, existem já várias marcas e distribuidores no mercado, e infelizmente nem sempre os produtos têm a melhor qualidade. Rita Vicente aponta a importância de procurar óleos ou outras fórmulas que tenham certificado de qualidade, “que atesta a legitimidade do produto e garante que cumprirá o que se pretende”. Muitas vezes, por ser algo fácil adquirir, este “não é bom ou é usado com doses inadequadas”. 

Além da certificação, os tutores devem evitar administrar a medicação sozinhos, e “procurar profissionais que tenham formação na área”, para que possam “auxiliar no processo”. 

Levantar a possibilidade da utilização do CBD a profissionais de medicina veterinária tradicional também é uma boa opção, apesar de que “por vezes as pessoas têm medo de que os veterinários não sejam abertos a tratamentos não convencionais”. Contudo, Rita Vicente afirma ter “colegas que não conseguem tratar os animais da forma convencional” e recorrem à sua ajuda. Recomenda que os tutores não assumam que os veterinários serão contra o CBD e que “se informem da melhor forma antes de apresentar a questão”. “Todos temos a intenção de ajudar e todos queremos o melhor para eles”, acrescenta, considerando que a interação entre os métodos convencionais e os da “vertente integrativa” pode ser uma mais valia.

Continuam a existir conceções erradas, mas o futuro promete

Para muitos, permanece a ideia de que “o animal vai ficar dependente, ou com alucinações”, devido ao preconceito à volta da canabis, e “à falsa informação”, “Associou-se a canabis a algo negativo, com as adições, e não a algo com um potencial enorme de tratamento”. No entanto, quaisquer alterações aditivas ou alucinógenas “nem são uma possibilidade”, já que “os THC, que é a componente com propriedades psicoativas, não está presente”, explica a médica. “Foi-se perdendo a noção de que toda a medicina vem das plantas, só que agora é tudo sintetizado”.

Apesar da falta de receptividade que por vezes verifica, Rita Vicente crê que a popularidade “vai continuar a crescer”. “O mercado já percebeu que há procura e que tem benefícios”, afirma, acrescentando ter muitas consultas com pessoas “que têm curiosidade e procuram alternativas aos métodos tradicionais, sobretudo quando não vêm resultados”. Contudo, “muitas pessoas só recorrem a estes tratamentos quando tudo o resto falhou”. Ainda assim, cada vez mais as pessoas “percebem que este é um caminho mais sustentável” e que será “mais utilizado no futuro”. 

Percorra a galeria para conhecer os benefícios do óleo de CBD para os patudos.

 

 

 

 

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