O mês dos Santos Populares é de festa, sardinhas e bifanas, muita música e percursos pelos bairros mais típicos de Lisboa, do Porto e de outras cidades. A alegria paira no ar, nas ruas enfeitadas por todo o país. Mas aquela que se supõe ser uma noite bem passada pode terminar da pior maneira: chegar a casa e o seu patudo não estar. Ou pior.
Muitos cães ficam apavorados com o ruído do fogo-de-artifício, podendo ter tremores e convulsões ou até mesmo morrer com problemas cardíacos. Outros fogem, com o pânico, e são capazes de saltar alturas inimagináveis, a ponto de os donos chegarem a casa e acharem que só pode ter sido roubado porque seria impossível saltarem o muro do jardim. Não, não é impossível. As noites dos santos populares e da passagem de ano são aquelas em que se registam mais animais desaparecidos. Muitos casos terminam da pior forma, com os patudos a morrerem atropelados ou a nunca mais serem recuperados.
O que fazer para evitar um desfecho destes? Antes de mais, se não puder ficar em casa com ele, certifique-se de que o deixa num ambiente seguro. Não facilite, ele deve ficar no interior e nunca no exterior da casa.
E não estamos a exagerar. João Reis, médico do Hospital Alma Veterinária, explica porquê. “Mais de 80 por cento dos cães demonstram alguma sensibilidade ao ruído, quer seja sons mais simples, como o aspirador, uma mota ou camião do lixo, chegando aos extremos das trovoadas e fogo-de-artifício. Chega ao extremo de alguns animais manifestarem ataques de pânico que culminam em fugas e mesmo auto-traumatismos das mesmas”, sublinha à PiT.
“Acima de tudo, nesses dias (trovoadas ou fogos-de-artifício) deve ser realizado um bom passeio à tarde com muito exercício físico. Depois permitir acesso à casa e não os deixar na rua. Isolar ao máximo o som, fechando os estores e manter um som neutro em casa, como música ou TV”, aconselha o médico veterinário.
Ao mesmo tempo, “deve oferecer um brinquedo interactivo — daqueles que podem ser recheados — para eles ficarem entretidos durante a exposição ao estímulo. Para aqueles que começam a ficar mais stressados, os tutores podem tentar acalmá-los com festas”.
Para os animais que culminam nos ataques de pânico, João Reis diz que os donos devem consultar o seu veterinário ou realizar uma consulta de comportamento. “Existem planos de dessensibilização ao ruído, assim como medicação que os pode ajudar a ultrapassar esses momentos”.
Já existem fogos-de-artifício sem estrondos e sem barulho que têm vindo a ser experimentados num número crescente de cidades de todo o mundo “e que mantêm a beleza do impacto visual das luzes, cor e formas”, sublinhava em dezembro passado o Grupo Municipal do PAN, numa proposta à Assembleia Municipal de Loures no sentido de deliberar recomendar à Câmara Municipal que nos eventos promovidos pelo município fosse substituído o lançamento de foguetes e fogo-de-artifício tradicional por fogo-de-artifício de baixa intensidade sonora. A proposta foi reprovada.
Enquanto não chega a Portugal — se um dia chegar — o fogo-de-artifício sem som, o melhor é precaver-se e proteger antecipadamente (e na hora) o seu patudo.
Percorra a galeria para saber mais sobre os medos que o fogo-de-artifício provoca.