Assim como os humanos, também os animais podem sofrer de desequilíbrios mentais e emocionais. Saber reconhecer os sinais destas condições é essencial para que sejam diagnosticadas e tratadas. No que toca à depressão em animais, os comportamentos associados à condição não estão longe daqueles que se verificam nas pessoas.
Paula Santos, médica veterinária do Anicura Restelo Hospital Veterinário, explica à PiT que esta “é uma doença difícil”, e para o seu diagnóstico é necessário “conhecer bem o histórico clínico e familiar do animal“.
Os principais sinais, afirma a veterinária, “são diferentes entre cães e gatos”, mas “o mais frequente é o isolamento“. “Há um olhar triste. Começam a lamber-se muito, ficam mais deitados, há uma redução do apetite. Por vezes, vemos animais que não dormem bem, e que acordam os donos durante a noite sem razão aparente”, adianta. Para alguns patudos, os sinais podem estar ligados a comportamentos destrutivos. “Podem começar a destruir a casa, ou animais que nunca comeram corpos estranhos começarem a roer muito as coisas. Mordem-se em determinadas zonas do corpo, normalmente extremidades”, explica.
As causas tendem a relacionar-se com alterações profundas no ambiente. “Alterações de rotina, morte de alguém próximo”, enumera Paula Santos. “Está muito ligado à mudança. Já vi casos de animais com estes comportamentos por causa de companheiros novos que os tutores incluíram nas suas vidas”, acrescenta.
Para que a depressão seja diagnosticada, a veterinária afirma que primeiramente é importante descartar quaisquer doenças fisiológicas que possam ser a causa dos sintomas. “Eles não falam, e por isso é importante estar atentos aos sinais de alteração de comportamento e procurar ajuda. Há causas que podem ser físicas, como dor crónica e doenças endócrinas”, afirma. “Têm de ser feitos exames físicos e neurológicos, análises. Descartar tudo o que possa ser físico”. Caso tudo esteja bem fisicamente, os animais podem ser encaminhados para um veterinário especializado em comportamento animal, que, afirma Paula Santos, “é cada vez mais uma especialidade e é muito importante”.
Mudança de rotinas?
A veterinária adianta ainda que é importante “ter um bom contexto sobre a vida dos animais e dos tutores, para perceber se existiram mudanças na rotina dos animais. Na altura da Covid por exemplo, verificaram-se alguns casos, com as mudanças que o confinamento implicou. Quando os donos falam connosco percebemos que podem existir fatores que justificam alterações no comportamento”.
O estado emocional dos tutores é uma influência relevante no bem-estar dos animais. “Os animais são muito sensíveis ao nosso estado e à nossa disposição. O estado em que estamos também vai condicionar como os tratamos e eles percebem isso. Sobretudo os gatos, são muito sensíveis ao sofrimento e à tristeza. É muito comum trazerem-nos gatos e ouvirmos “eu não sei o que é que ele tem mas o gato não está bem” – os gatos são mais difíceis de ler e mascaram mais quando não estão bem”, explica a médica. “Por vezes, seguimos os tutores durante muito tempo e percebemos quando há mudanças na sua forma de estar e como isso pode afetar os animais”, acrescenta.
Confirmando-se um problema de depressão, o tratamento “pode precisar de algum tipo de medicação, ou não. O animal pode precisar de um ajuste de rotina ou de se adaptar às novas circunstâncias. Pode precisar de mais atenção e de passar mais tempo de qualidade”, sublinha a médica. Investir num “pet sitting, ou numa creche” pode ser benéfico.
Paula Santos admite que não é especialista em humanos, mas crê que os sintomas correspondam. “Sobretudo o desanimo, o isolamento, a falta de cuidado próprio, a mutilação, por vezes. A ansiedade, até a perda de peso”.
Prevenir a depressão nos animais passa por avaliar “o tempo que lhes podemos dispensar e a atenção que lhes podemos dedicar”. “Há doenças que podem provocar a depressão, mas a depressão contínua pode também fazer com que eles desistam da vida e isso traz doenças físicas. É preciso ter consciência sobre o que eles sentem e aprender a lê-los“, diz a veterinária.
Percorra a galeria para conhecer mais sobre os sintomas da depressão nos animais.