Um animal atropelado não costuma ter, na maioria das vezes, a sorte de sair vivo do acidente. Mas acontece – e nessas alturas precisa de assistência imediata, porque todos os minutos contam para o salvar. Quem atropela, por vezes segue caminho, outras vezes tenta chamar as autoridades competentes, mas sem sucesso. E quando se esgotam todos os recursos oficiais, se não for alguém a tomar a dianteira e transportar o animal para o hospital, isso significa horas de agonia até à morte. Em Barqueiros, uma freguesia do município de Barcelos, foi isso que aconteceu na quinta-feira, 6 de abril – mas a história poderá vir a ter um final feliz.
Era quinta-feira de madrugada quando uma cadela foi atropelada e conseguiu arrastar-se até um terreno junto à estrada. Junto dela esteve sempre um cão, que se desconhece se seria seu companheiro – de rua ou de casa. Passaram-se 21 horas. A população foi assistindo, impotente e revoltada. Foram ao local GNR e canil do município de Barcelos, mas a patuda não foi recolhida. Estava em terreno privado, se bem que a apenas alguns metros da estrada. Mas a legislação por vezes dificulta muito as coisas, nomeadamente a agilização do auxílio a um animal que está em sofrimento.
Carlos Leituga esteve sempre por perto. Não conseguia deixar a cadelinha naquele estado. Mesmo tendo sido tapada com uma manta, quando o frio da noite chegou, ninguém se responsabilizava por a retirar dali. Por isso, decidiu ele mesmo avançar. Chocado com o que estava a acontecer, ligou à clínica veterinária da zona, assumindo os encargos. Mas o quadro era mau: tinha a coluna fraturada. Por isso mesmo, seguiu para o Hospital Veterinário de Vila do Conde, onde foi operada ainda durante a madrugada de sexta-feira.

A cirurgia correu bem a Dura – nome que Carlos lhe deu por se ter revelado tão valente e ter sido tão dura, aguentando tantas horas sem desistir de viver – e agora é esperar que tudo corra pelo melhor. Uma excelente notícia é o facto de estar posta de lado uma vida paralisada. “Ela vai andar. Quando foram medir-lhe a febre, viram que reagiu. A medula não teve deslocação completa e por isso tem sensibilidade”, conta Carlos Leituga à PiT. Além do problema na coluna, tinha uma pata dianteira esfacelada – e que já está também a ser tratada.
Carlos diz que quando não viu a cadela, antes de ir trabalhar, seguiu descansado por lhe terem dito que já tinham sido alertadas as entidades competentes. Quando, mais tarde, soube que ela continuava no mesmo sítio, ficou chocado. “Pus pés ao caminho quando soube e tratei eu do assunto. Chamando a clínica veterinária”, explica.
Só não fica com ela porque já tem três cães. “Temos de saber as nossas limitações. Além disso, a minha casa tem muitos degraus. Mas assim que ela esteja rija e direitinha, vou arranjar-lhe uma família especial”, diz Carlos, que sente uma enorme ligação à cadela. “Já nos fez chorar tanto”.
Agora o choro é de alegria, pois tudo correu bem. Pelas 2h da manhã de sábado, quando a cirurgia terminou, o médico que a operou ligou a contar como tinha corrido. Carlos tinha pedido que o fizesse, fossem que horas fossem. “Nem conseguiria dormir bem sem saber de nada”, salienta.
Mas há custos envolvidos. Com as análises, sedação, TAC e cirurgia, a conta está nos 2.600€. Carlos diz que já recebeu algumas ajudas, em torno de 800€, e agradece a quem queira e possa fazer uma contribuição. Pode fazê-lo por transferência, através do IBAN (PT50 0045 1467 4024 2230 9069 3) ou pelo MBWay (925 564 070). “Tenho uma lista onde estou a apontar todos os donativos. Assim que tenha a conta certa, peço para pararem as transferências”, explica Carlos Leituga.
Dura é de porte médio e muito, muito meiga. Não tem chip e o amigo patudo que a acompanhava desapareceu. Quando voltaram ao local para ver dele, já não estava lá. Mas Dura não está sozinha. Carlos quer acompanhá-la no resto do seu percurso, porque criou uma ligação muito especial com esta patuda de olhos doces. E quando tiver alta do hospital, possivelmente dentro de 10 dias, talvez já tenha uma família à sua medida. Carlos não fará por menos.
Percorra a galeria para conhecer Dura, as condições em que esteve e o seu olhar agradecido por terem cuidado dela e lhe terem tirado as dores.