Quem vê no seu animal de companhia um membro da família, sabe que a ligação emocional que se cria pode ser tão forte como os laços que se têm com outras pessoas. Por vezes, essa conexão com o pet da casa chega a ser tão profunda que, na hora da morte, o dono pode chorá-lo e passar por um processo de luto mais doloroso do que perante o falecimento de outro ser humano. E há explicações científicas para tal.
Os principais ingredientes da ligação entre as pessoas são o sentimento de que o outro é uma fonte de conforto, alguém que procuramos quando não estamos bem, uma pessoa com quem sabe bem conviver e de quem sentimos a falta. E essas mesmas características são as que encontramos nas relações com os nossos animais de companhia, diz Sam Carr, professor de Educação com Psicologia na Universidade de Bath, em Inglaterra, que se debruçou sobre esta questão num artigo publicado no “The Conversation”.
Mas, adverte o docente, também há complexidades nestas ligações. “Alguns grupos de pessoas apresentam maior predisposição para desenvolver laços íntimos com os seus pets. Entre elas incluem-se pessoas de mais idade que vivem sós, pessoas que perderam a fé no ser humano e pessoas que dependem de animais de assistência”, aponta Sam Carr.
Dois aspetos únicos no luto por um animal
Além disso, sublinha o professor, há dois aspetos do luto por um animal de companhia que são únicos. E quais são eles? A eutanásia e o luto não reconhecido.
Para muitas pessoas, a morte de um animal poderá ser a única vivência que alguma vez terão do luto associado à eutanásia. O sentimento de culpa e as dúvidas em relação à decisão de eutanasiar um pet que nos é querido “podem complicar o processo de luto”, salienta Sam Carr.
E prova de que este sentimento não é igual em todas as pessoas está nos vários estudos sobre o tema, com conclusões diferentes – o que revela que as crenças culturais, natureza e intensidade da relação com o animal, bem como o grau de apego e personalidade influenciam a forma como cada um vive a eutanásia.
Um estudo israelita concluiu que, após a eutanásia do animal, 83 por cento das pessoas sentiam ter tomado a decisão certa, pois tinham minimizado o seu sofrimento. Mas uma investigação norte-americana revelou as nuances do peso da decisão: 41 por cento dos participantes disseram sentir culpa e 4 por cento tinham mesmo tido pensamentos suicidas após autorizarem a eutanásia dos seus animais. Já um estudo canadiano constatou que 61 dos participantes cujos pets tinham sido humanamente “adormecidos” se sentiam “como assassinos”.
No que diz respeito ao luto não reconhecido, isto só sucede quando choramos por um animal e nunca por uma pessoa. Todos reconhecem o direito ao luto por um ser humano, mas nem sempre assim é quando se trata de um animal de companhia – aquilo a que os psicólogos Robert Neiymeyer e John Jordan dizem ser o resultado de “falta de empatia”.
Sejamos nós da “espécie” que chora e sofre profundamente com a perda de um animal de estimação ou que sente tristeza mas supera com mais facilidade, o facto é que o luto é mesmo assim. Cada um o sente à sua maneira – e não há como comparar. O certo é que está comprovado que somos mesmo mais felizes com animais por perto.