Pode ser vista como um tabu ou até mesmo um crime em várias culturas, mas não é novidade que no reino animal, a homossexualidade esteve sempre presente — os números não mentem: o comportamento é visto em mais de 1,500 espécies. E agora, os especialistas descobriram que além de habitual, as relações entre os mesmos sexos trazem mais benefícios do que se imaginava.
Um novo estudo feito por especialistas espanhóis e partilhado na revista científica Nature Communications, visou perceber os principais motivos que levam os animais a terem comportamentos homossexuais com indivíduos da mesma espécie. A principal conclusão é que o ato ajuda a estabelecer e manter relações sociais positivas entre o grupo, evitando possíveis conflitos.
“Este comportamento sexual não se limita a um sexo ou à existência de condições artificiais, como tem sido observado em machos e fêmeas tanto em cativeiro quanto em condições selvagens”, lê-se no documento. “O comportamento sexual entre pessoas do mesmo sexo também é frequente em humanos e existe ao longo da maior parte da nossa história e em muitas sociedades e culturas”, refere.
Além disso, não há qualquer limitação em relação às ordens dos animais, sendo este presenciado em carnívoros, angulados (cavalos e zebras) e marsupiais (cangurus), até roedores e, sobretudo, primatas. Neste último, desde lémures até macacos, há 51 espécies só desta classe em que a homossexualidade é comum.
Contudo, a mais recente descoberta vai além dos benefícios. Os especialistas acreditam que a homossexualidade entre os animais tem evoluído “várias vezes” ao longo das décadas, em especial em espécies mais sociáveis e em que é comum os indivíduos adultos apresentarem comportamentos agressivos.
“Há várias maneiras de avalias as vantagens deste comportamento”, disse Vincent Savolainen, professor de biologia na Imperial College London, à revista “Newsweek”. “Por exemplo, enquanto as interações entre pessoas do mesmo sexo ajudam na formação de coligações, estas alianças podem elevar o estatuto dos indivíduos participantes dentro do grupo, concedendo-lhes maior acesso a potenciais parceiros e até aumentar o seu sucesso reprodutivo”, explica.
A relação com os humanos
Entre 4.300 espécies de mamíferos, o comportamento homossexual foi documentado em 261 (4 por cento), sendo que, as atividades entre o casal variam desde a fase inicial de aconchegos até ao contacto de genitais e, por fim, relações sexuais diretas. Além disso, não há grande diferença quando o assunto é o género — os machos fazem sexo entre si em 199 espécies, enquanto as fêmeas fazem em 163.
Por outro lado, outras pesquisas estão a tentar perceber o lado genético do comportamento e muitos aspetos já foram descobertos no ADN dos animais. “Suspeito que haja outras centenas”, sublinhou Jenny Graves, professora de genética evolutiva na Universidade La Trobe, na Austrália. Porém, a grande questão, de acordo com Jenny, é: “Porque é que a homossexualidade é também comum nos humanos?”.
“Acredito que as variantes dos genes gays são, na verdade, ‘genes de amor aos homens’ e foram selecionadas porque as mulheres são ensinadas a reproduzirem-se mais cedo e a ter mais filhos, de forma a compensar a baixa taxa reprodutiva de homens homossexuais”, explica, acrescentando que o contrário também pode acontecer em relações entre mulheres e transexuais.
“O estudo do comportamento homossexual tem sido muito limitado tanto nos humanos como noutras espécies animais por razões que todos conhecemos, e que são puramente sociais”, frisa Antonio J. Osuna, especialista em cognição animal da Universidade de Medicina Veterinária de Viena. “É muito interessante descobrir que os nossos antepassados comuns apresentavam estes comportamentos, e que são tão naturais como qualquer outro”.
Carregue na galeria para conhecer algumas espécies com comportamentos homossexuais.
