Grande parte do mundo tem assistido, impotente, ao desenrolar da tragédia que se abateu sobre a Turquia e a Síria – que na madrugada de segunda-feira, 6 de fevereiro, foram atingidas por um violento sismo de 7,8 na escala de Richter e por fortes réplicas que devastaram cidades e vitimaram milhares de pessoas e animais. As imagens que passam na TV ou que são divulgadas na imprensa impressionam e doem. E se há quem nada possa fazer, a não ser, quando possível, oferecer ajuda financeira, há também quem consiga pôr uma máquina bem oleada a funcionar rapidamente para prestar auxílio no local.
É o caso de Portugal. Depois de, na terça-feira, terem seguido para a Turquia dois elementos da corporação dos Bombeiros de Albufeira, com o Pastor Belga Malinois Axe, integrando uma equipa espanhola, no dia seguinte foi a vez de mais 53 operacionais da Proteção Civil, INEM, GNR e Bombeiros seguirem para o mesmo destino, acompanhados de seis cães que vão ajudar nas buscas por sobreviventes.
E há mais ajuda a caminho. Nesta quarta-feira ao fim do dia, o grupo Intervenção e Resgate Animal (IRA) anunciou que irá assumir a sua segunda missão internacional, com rumo à Turquia. Isto depois de no ano passado a organização ter ido à Ucrânia e Polónia para prestar ajuda humanitária, com alimentação, medicamentos e equipamento tácito, tendo trazido no regresso 78 ucranianos (47 adultos e 31 crianças) em fuga da guerra e 26 animais (20 cães e 6 gatos).
“Após alguns contatos com entidades de busca e salvamento, fomos informados de que existem inúmeros locais sem qualquer tipo de intervenção nesse sentido, uma vez que a ajuda que tem chegado continua a ser insuficiente. Como tal, não iremos virar costas a uma matéria importantíssima que é a vida humana”, escreveu o IRA numa publicação no Facebook.
Por isso mesmo, a organização decidiu deslocar-se à Turquia. “Temos assistido incrédulos a crianças a serem resgatadas debaixo de escombros, pessoas que continuam soterradas e com temperaturas negativas, dias depois de ter acontecido a tragédia. A cada hora que passa, perdem-se mais vidas. Assim, o Núcleo de Intervenção e Resgate Animal irá vocacionar alguns dos seus elementos e o seu material de apoio a catástrofes para a Turquia, na esperança de que isso signifique salvar mais uma vida, humana ou animal”, comunicou o grupo.
“Tal como aconteceu em 2022, quando nos mobilizámos para salvar pessoas e animais na Polónia e Ucrânia, iremos em representação de um país e de um povo que não vira as costas a si próprio, nem aos que mais precisam nestas alturas avassaladoras e catastróficas. Por isso, vamos!”, remata o post.
A situação que se vive na Turquia e na Síria é deveras preocupante e cada minuto conta para se poder salvar mais uma vida. Porque há ainda muitas vidas à espera de serem resgatadas.
À PiT, Ibra H. dá conta disso mesmo. Num testemunho triste, este jovem sírio – que em 2011, em plena Primavera Árabe, para não ser obrigado a combater e poder terminar os seus estudos, fugiu para a Turquia, onde mais tarde a restante família se reuniu com ele –, conta que deixou Istambul há um ano e que vive atualmente em Gaziantep (no sul do país). E foi aí o epicentro do sismo.
O terramoto não poupou esta cidade, onde o famoso castelo que sobreviveu a séculos de invasões sofreu graves danos e muitas casas estão agora em ruínas, com muitas vidas perdidas no seu interior. Ibra e a sua família tiveram sorte, mas não há forma de regressarem a casa – está inabitável. Além disso, não há lojas abertas e falta comida. Falta tudo. “Por agora, estou em segurança, refugiado numa mesquita. A minha restante família conseguiu fugir para uma zona rural, que é mais segura do que a cidade”, diz Ibra à PiT. “Já consegui reservar um voo para Istambul na próxima segunda-feira, porque isto aqui está um caos”, remata.
Por ele e por todos os Ibra que neste momento lutam, algures debaixo dos escombros na Síria e na Turquia, para se manterem vivos, o mundo desdobra-se com envios de equipas especializadas para dar apoio onde for possível. E é esse apoio que o IRA quer também ir prestar com a sua Unidade de Apoio a Catástrofes.