Há animais que nunca são adotados. Não há famílias para todos e muitos dos que são recolhidos por associações e particulares acabam por ficar toda a sua vida num abrigo, com amor e cuidados, sem que nada lhes falte – a não ser um lar só deles. Mas, para os protetores, cada novo dia é um desafio devido às avultadas contas que vão chegando para pagar. E quando um patudo está a precisar de ajuda para um encargo maior, só resta pedir o apoio de todos, na esperança de que a fatura possa ser saldada. É o que está a acontecer com o projeto de ajuda animal Patinhas Errantes, de Vila Nova de Gaia, que precisa de fundos para pagar a operação de um cão que deixou de ver devido às cataratas diabéticas.
Júnior, carinhosamente tratado por Juni e Juninho, foi encontrado em 2015, a deambular numa estrada nacional da zona de Gaia. Teve a sorte de se ter deparado com uma amiga da Patinhas Errantes, que o acolheu temporariamente – até hoje, nove anos depois. Tinha então sete meses e hoje tem 9 anos. Nada lhe tem faltado, mas a diabetes acabou por lhe provocar cataratas e deixou de ver.
O projeto de ajuda animal quer fazer de tudo para que o processo seja revertido e, para isso, criou um crowdfunding, na tentativa de conseguir o dinheiro necessário para a cirurgia que lhe permitirá voltar a ver. “Criámos uma angariação de fundos na GoFundMe em prol da cirurgia oftalmológica do Júnior, o nosso Juninho, um cão que nunca foi adotado”, explica à PiT uma das responsáveis do projeto Patinhas Errantes – que cuida de matilhas e animais de rua. “O nosso querido Juni é diabético e, apesar de comer ração específica, cegou”, lamenta. Por isso, decidiram avançar com a cirurgia: “vai ser realizada em breve e fizemos este GoFundMe, pois precisamos de reunir o máximo de fundos até lá”.
Juni quer voltar a ver o mar, a sua protetora e a vida em redor
A esperança é de que cheguem as ajudas tão preciosas para que estas voluntárias não fiquem ainda mais aflitas – já que o dinheiro está sempre contado, e com dificuldade, para a compra de ração e para suprirem outras necessidades dos animais que têm a seu cargo. “São muitas bocas para alimentar. Temos a nosso cargo 40 cães de porte médio e vários gatinhos em famílias de acolhimento temporário. Além disso, ajudamos regularmente algumas famílias carenciadas com a alimentação dos seus animais, bem como os animais de rua que dependem de nós”, diz à PiT a mesma cuidadora.
Na página do crowdfunding, o Patinhas Errantes explica que “a cirurgia que lhe permite devolver a visão e remover as cataratas ronda os 1.800€ na Oftalvet, com o Dr. Pedro Tralhão, no Porto, entre ato cirúrgico e exames preliminares”. Já no post do Facebook sobre o Juni estão todos os dados sobre os donativos, caso possa ajudar.

Para a jovem que o acolheu, este é um passo muito importante. Quando o recolheu da rua, em 2015, a ligação entre ambos foi imediata. “Nesse dia levei-o comigo para casa. Um bebezão muito submisso e manso. Quando lhe pus a trela para o tirar do carro, deitou-se no chão e acertou-me com um chichi em repuxo. Rapidamente criámos uma ligação muito forte. Foi sempre um cão a quem nunca precisei de ensinar nada. Era educado, obediente, passeava ao meu lado como se tivesse tido treinos que nunca teve, sempre percebeu tudo o que eu lhe dizia. Estoico. Aceita e compreende todos os tratamentos e picadas de agulhas, por causa da diabetes. Quando às vezes lhe dói, faz um pequeno soluço mas nem se mexe porque percebe o que tem de ser feito. E entrega-se”, conta-nos.
Cataratas diabéticas levaram a que deixasse de ver há um ano
“Descobri com desolação que ele estava cego quando um dia o fui buscar ao veterinário e o corredor fazia eco. Eu estava à frente dele e chamei-o e ele procurava-me com a cabeça em todas as direções. Não me viu ao fundo do corredor em frente a ele. Nesse dia, prometi-lhe que lhe havia de devolver a visão, mas o valor da cirurgia tem sido um obstáculo. Sobretudo porque não podemos deixar de acudir a outros animais que também aparecem com problemas graves e urgentes. Os recursos não têm chegado, mas, passado quase um ano da sua perda de visão, senti que era agora ou nunca: este momento tinha de ser só para ele”, explica-nos a sua protetora.
E agora que o dia da cirurgia se aproxima, a ansiedade cresce. “Mal posso esperar de ansiedade para testemunhar o momento em que ele me irá poder ver novamente. E em que irá poder contemplar a sua praia, correr no passadiço sem medo de cair abaixo (como já aconteceu). Ele agora anda ao meu lado, sempre muito temeroso. Já não se senta no banco de trás a observar a paisagem em frente. Vai deitado. Mal posso esperar por lhe devolver todas as paisagens, por regressar a todos os lugares que ele adorava e por onde tem passado às escuras”, desabafa, com muita esperança em ver chegar esse dia. Percorra a galeria e conheça melhor Juni, que precisa da ajuda de todos nós.