Saúde

Maioria das queixas sobre veterinários em 2022 deveu-se a uma comunicação ineficaz

Estudo analisou reclamações dos tutores em 2022 e constata impacto negativo da má compreensão e não transmissão de informação.
Comunicar bem é essencial.

A maioria das reclamações reportadas em Portugal pelos tutores de animais de companhia à Ordem dos Médicos Veterinários (OMV) em 2022 deve-se a uma comunicação ineficaz. É esta a conclusão de um estudo realizado pelos médicos veterinários Pedro Fabrica, Manuel Magalhães-Sant’Ana, Ricardo Barroso e Felisbina Queiroga, que se debruçaram sobre o conteúdo dessas mesmas reclamações.

O estudo analisou as queixas contra os serviços veterinários feitas nos livros de reclamações – físicos e eletrónicos – para caracterizar o impacto que uma comunicação ineficaz pode ter. Depois de depurados os dados, 103 queixas foram consideradas elegíveis para análise. E a conclusão é que a comunicação é mesmo uma via importante que precisa, em muitos casos, de ser melhorada.

Segundo o estudo, “a maioria das reclamações feitas em Portugal à OMV em 2022, deveu-se à comunicação ineficaz”. Este motivo de queixa, sublinham os autores da investigação, “pode impactar negativamente cerca de um terço dos resultados clínicos dos pacientes”. E, por isso, “a melhoria da formação nas competências de comunicação a nível clínico é uma forma de diminuir os litígios e melhorar a qualidade dos serviços veterinários”.

Veterinários devem melhorar comunicação

Os resultados mostram que os animais de companhia (cães e gatos) estiveram envolvidos em 89,3 por cento das queixas. Mais de metade dessas reclamações (53,4 por cento) estiveram relacionadas com uma comunicação ineficaz, nomeadamente a incapacidade de compreensão mútua (65,5 por cento) e não transmissão de informação (34,5 por cento).

Além disso, aponta ainda o estudo, 36,4 por cento das queixas relacionadas com a comunicação tiveram um impacto negativo nos pacientes (tratamento adiado, dano potencial ou mesmo morte) e 58,2 por cento das queixas sobre comunicação não alteraram o rumo da situação dos animais (sem dano/estado inalterado).

A conclusão, por isso, é que importa melhorar a comunicação junto dos tutores. Mas há que não esquecer o outro lado humano da questão. É que quando se fala de esgotamentos, burnout, e mesmo suicídio, as taxas são muito elevadas na comunidade veterinária – em qualquer parte do planeta. Portugal não é exceção, sendo um dos países do mundo onde mais se sofre de stress nesta área profissional. Os motivos para o desgaste são muitos: a incapacidade de salvar um animal, as acusações injustas de que são alvo por parte de tutores desesperados, as muitas horas de trabalho aliadas a remunerações baixas e a própria eutanásia. Tudo isto deixa um profissional “de rastos”. Por isso, há que pedir uma melhor comunicação, sim, mas também não esquecer que do outro lado está alguém que também quer o melhor para o animal.

Percorra a galeria para ver a comunidade veterinária em ação.

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