Ter um animal de companhia é sinónimo de viver uma cumplicidade diferente, com a ternura que só eles sabem dar. E quando são amados e vistos como membros da família, qualquer doença que tenham se transforma numa vertigem de preocupação. E se há males que podem ser evitados com vacinação, outros há que funcionam como a lotaria – e ninguém quer ter o bilhete “premiado”.
Mas acontece. E por vezes o cenário não parece promissor, porque há doenças de superação complexa. É o caso da peritonite infeciosa felina (PIF), uma doença causada pelo coronavírus felino (FCoV) que atinge sobretudo gatos mais jovens ou com o sistema imunitário debilitado e que é grandemente fatal, não havendo vacina de prevenção – a que existia deixou de ser aplicada pelo fraco resultado. No entanto, contrair o vírus não é, só por si, uma sentença de morte. E porquê?
Resumidamente, a PIF é um processo inflamatório que ocorre quando o gato reage inadequadamente ao vírus. Mas, apesar de o coronavírus felino ser bastante comum nos gatos, ter PIF não o é. Isto porque nem todos os gatos infetados com FCoV desenvolvem a peritonite infeciosa.
E como se contrai o vírus? A transmissão dá-se, muitas vezes, na caixa das necessidades, já que o vírus está presente nas fezes dos gatos. Numa colónia, por exemplo, é mais difícil gerir a limpeza das fezes, pelo que a contaminação surge com maior probabilidade. Mas também pode acontecer com a amamentação e mesmo durante a gestação – com a mãe gata a passar para os filhotes.
Gato pode ter coronavírus e não desenvolver PIF
Há casos em que os gatos contraem o vírus mas o seu organismo consegue eliminá-lo através de uma boa resposta imunitária. Outros vivem com ele sem que se manifeste. “Ficarem doentes ou não depende do sistema imunitário de cada um”, explica à PiT a médica veterinária Liliana Dias. O grande problema é quando se dá uma mutação que origina a PIF.
“O coronavirus é transmissível e quase todos os gatos já tiveram contacto com esse vírus. O problema é quando ocorre uma mutação do vírus – normalmente em alturas de stress – e eles adoecem. Mas a mutação não é transmissível”, sublinha a médica, responsável pela Clínica Veterinária Dra. Liliana Dias.
Quando um gato desenvolve PIF, esta pode apresentar-se sob duas formas – húmida ou seca – e o vírus pode afetar o trato respiratório e gastrointestinal. Entre os sintomas que um gato com PIF pode evidenciar estão a perda de peso, febre, apatia e até dificuldade em respirar, podendo também chegar à insuficiência renal e hepática.
E a PIF tem cura? Até há bem pouco tempo, a resposta era um triste não. Contudo, já existe um antiviral – normalmente aplicado durante 12 semanas – que tem trazido bons resultados, com muitos felinos a ficarem, ao que se sabe, livres da doença. Mas há um senão: esse antiviral ainda não está licenciado, nem em Portugal nem em qualquer outro país, pelo que só se tem acesso através do mercado ilegal, o que faz com que o tratamento seja muito caro.
Por isso, um diagnóstico de PIF é um pesadelo para qualquer tutor ou associação. Se acontecer com um animal seu, aconselhe-se junto do médico veterinário e procure saber mais sobre a doença.
Segundo o Portal Vet da Royal Canin, há indícios de que algumas linhagens e raças sejam mais predispostas à PIF, como é o caso dos Abissínios, Bengals e Ragdolls, mas os gatos sem raça definida também podem desenvolver a doença. Outras raças revelam-se menos propensas a contrai-la, como Siameses, Persas e Exóticos de Pelo Curto.
Percorra a galeria para saber mais sobre algumas raças de gatos.