Saúde

Puppy blues — porque é que o seu novo cachorro está a deixá-lo triste?

Ter um patudo bebé pode levar a que se sinta ansioso, sobrecarregado e até arrependido, diz um novo estudo. Mas tudo se resolve.
Esteja preparado para as diabruras.

Levar um cão bebé para casa é, por norma, um acontecimento feliz. No entanto, isso pode também desencadear, em muitos tutores, uma inesperada montanha-russa de emoções, levando a que se sinta triste – um fenómeno conhecido como puppy blues, que se manifesta através de ansiedade, frustração, angústia e até mesmo arrependimento perante a decisão. Uma equipa de investigadores finlandeses debruçou-se sobre este tema e encontrou paralelismos entre esta situação e a depressão pós-parto (baby blues) que muitas recém-mamãs sentem.

O estudo, publicado na revista científica “NPJ Mental Health Research”, sublinha que quase metade dos donos de cães dizem ter tido fortes sentimentos negativos durante a infância dos seus patudos. Para alguns, esses sentimentos podem ser muito intensos: cerca de 10 por cento dos tutores de cães jovens afirmaram que se sentiram “extremamente sobrecarregados” durante os seus primeiros meses de vida – quando os nossos amigos de quatro patas fazem muitas diabruras.

Estas conclusões, refere a plataforma “Study Finds”, desafiam a ideia de que ter um cão bebé é sempre uma experiência positiva e destacam a necessidade de uma maior consciência deste facto por parte dos donos de patudos em idade infantil. “O estudo constatou que o puppy blues se manifesta de três formas: ansiedade, frustração e cansaço. Muitas vezes ocorrem todas ao mesmo tempo, mas nalguns casos apenas uma ou duas podem ser particularmente notórias”, diz uma das investigadoras, Aada Ståhl, da Universidade de Helsínquia.

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Arranje-lhe brinquedos para se divertir – sozinho ou ao seu lado.

O que se sente em cada estado de puppy blues

No caso da ansiedade, está em causa um sentimento de incapacidade como dono e preocupação com o bem-estar e desenvolvimento do cachorro. Quanto à frustração, prende-se com sentimentos de insatisfação, tensão emocional, irritação e dúvidas quanto à decisão de ter um cão bebé. Já no que diz respeito à angústia, esta está relacionada com a exaustão, perturbações do sono e sensação de sobrecarga devido ao tempo e atenção que o puppy exige.

Para analisarem este fenómeno, os investigadores compilaram as respostas de 136 donos de cães que se sentiram angustiados com os seus cães bebés. Com base nas respostas, desenvolveram um questionário com 15 perguntas para avaliarem vários aspetos do puppy blues. Em seguida, distribuíram o questionário por uma amostra maior: 1.801 finlandeses que tinham cães. Também recolheram dados de 326 tutores de patudos com idades entre um e dois anos, pedindo-lhes que respondessem ao questionário recordando as suas experiências durante a fase de infância dos seus cães e as suas experiências atuais com os mesmos patudos – que já deixaram de ser bebés.

Ao estudarem as respostas, aplicando técnicas estatísticas, os investigadores identificaram padrões e fatores que contribuíram o puppy blues e constataram também que estes sentimentos negativos tendem a ser temporários. Com efeito, os donos de cães que entretanto já estavam com um ou dois anos de idade disseram que todos aqueles sentimentos tinham diminuído em relação ao período em que os seus companheiros de quatro patas eram bebés.

Não seja negativista. Isso não ajuda

A equipa também concluiu que as pessoas que já têm tendência para ser mais negativistas apresentavam maior probabilidade de vir a sentir puppy blues. O estudo tem algumas limitações – a maioria dos participantes foram mulheres finlandesas, o que não é muito diversificado em termos de género, além de que há questões culturais noutros países que podem mudar as perceções dos donos –, mas é um bom ponto de partida para a análise do tema.

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Estabeleça metas realistas, relativize e divirtam-se juntos.

E o que se pode fazer para lidar com o puppy blues? Há formas eficazes de o fazer, diz o médico norte-americano Michael Kane, especializado em saúde mental. “Em primeiro lugar, tem de perceber que nenhum cão bebé é perfeito e que o treino demora tempo. Estabeleça metas realistas para si e para o seu patudo, para evitar ficar frustrado ou sentir que falhou ao ensiná-lo”, sublinha Kane, citado pela plataforma “Very Well Mind”.

Mas há mais. “Em seguida, crie uma rotina que ajude o seu cachorro a desenvolver-se bem. Criar um horário para as refeições, passeios, hora da brincadeira e do sono pode ajudá-lo a sentir-se menos ansioso – e ao seu cão também”, aponta. “Em terceiro lugar, fale com outros tutores que podem ser empáticos e aconselhá-lo sobre a melhor forma de treinar o seu novo cachorro. Frequentar aulas ou grupos online para puppies pode ajudá-lo a sentir-se menos solitário”. Por último, aconselha Michael Kane, “é essencial que faça pausas e crie tempo para si mesmo. Arranje quem possa olhar pelo seu cachorro durante algumas horas, de modo a poder relaxar ou ir fazer algo que goste”.

Cuide também de si, pela sua saúde mental

“Cuidarmos de nós mesmos é crucial para a nossa saúde mental. Não pode esperar ser um tutor exemplar de um momento para o outro. Tem de aprender e adaptar-se, sem se esquecer de cuidar de si. Certifique-se de que dorme o suficiente, come bem e faz pausas sempre que necessário. É normal que o seu cão bebé seja exigente nessa fase da sua vida, por isso precisará de alguma tolerância”, remata o médico.

Ter um amigo canino é das melhores experiências que há, dir-nos-á qualquer dog lover. São leais e bons companheiros, ajudam a aliviar o stress e sabem tranquilizar-nos em momentos de tensão. E há também muitos seniores para adoção, à espera da oportunidade de serem felizes, por isso os cães bebés não têm ser ser a sua única opção. Mas, seja qual for a idade do seu patudo, se lhe passar boas energias ele sentir-se-á bem. E isso é meio caminho andado para que tudo corra sem ansiedade. Percorra a galeria e conheça alguns tipos de interação que ajudam nesse processo.

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