Ter um animal de companhia é, reconhecidamente, uma decisão que traz muitos benefícios: companheirismo, bem-estar emocional acrescido, mais atividade física e um amor que ajuda a superar muitos momentos difíceis. No entanto, para cuidarmos bem de um pet, deparamo-nos muitas vezes com custos inesperados – que nos podem afetar de diferentes maneiras. Segundo um novo estudo escocês, há tutores que, vendo que o seu animal precisa de cuidados veterinários, se não dispuserem de meios financeiros para o tratar, podem ver a sua saúde mental comprometida.
Se a situação financeira do tutor for confortável, será uma despesa que poderá assumir sem grande stress. Mas quando existem dificuldades financeiras, devido a uma alteração de circunstâncias ou a uma situação permanente de baixos rendimentos, “os desafios podem ser muito angustiantes”, sublinha o estudo levado a cabo por duas investigadoras da Escola de Saúde e Ciências Sociais da Universidade de Edimburgo.
“A incapacidade de ajudar – ou salvar – um animal de companhia que seja considerado um precioso membro da família traz níveis de pressão e incerteza que comprometem a saúde mental dos tutores”, refere o estudo publicado em finais de agosto na revista científica “Anthrozoös”. As investigadoras defendem que, para se minimizar esta angústia dos donos de animais, “os serviços sociais e de saúde pública do país, bem como os seus sistemas de suporte financeiro, têm de reconhecer a importância dos animais de companhia nas vidas das pessoas”.
O estudo foi realizado entre novembro de 2022 e abril de 2023 e baseou-se em entrevistas feitas a 20 tutores (15 mulheres e 5 homens, com idades compreendidas entre os 29 e os 67 anos) que procuraram apoio para os seus cães e gatos na organização britânica de defesa do bem-estar animal Blue Cross – sendo que 16 deles usufruíram de cuidados veterinários gratuitos ou de custo reduzido.
Tutores sentem muita pressão e culpa quando o dinheiro falta
Todos os participantes – mesmo aqueles que dispunham de alguma segurança financeira – aludiram às despesas de ter um animal e aos crescentes custos com os seus cuidados. A procura por apoio resultou, frequentemente, de um problema de saúde ou de uma emergência com o pet, quando os custos veterinários inesperados – como exames, tratamento ou transporte – se revelaram incomportáveis. “Os custos inesperados com os cuidados dos nossos animais podem afetar qualquer pessoa”, diz a investigadora principal, Janine Muldoon, citada pela Universidade de Edimburgo.
“Estas pessoas viram-se confrontadas com o dilacerante dilema de não saberem o que fazer para ajudarem os seus animais”, refere a outra investigadora, Joanne Williams. “Elas descreveram estes momentos como os mais angustiantes das suas vidas, e a maioria delas só tomou conhecimento dos apoios (das organizações de solidariedade animal) através do passa-palavra”, acrescenta.
Um outro estudo levado a cabo pelas mesmas investigadoras, e usando a mesma amostra de participantes, debruçou-se sobre o porquê de os tutores que são elegíveis para cuidados veterinários gratuitos ou de custo reduzido poderem não procurar esse apoio quando precisam dele. Segundo as conclusões desse estudo, publicado em maio pela revista científica “Animal Welfare”, da Universidade de Edimburgo, muitos tutores não procuram essa assistência por receio de serem julgados, por se ficar a saber ou simplesmente devido a um estigma. A culpa, a vergonha, a falta de conhecimento, as preocupações de ordem financeira e a vontade de conseguirem gerir sozinhos a situação são fatores que aqui desempenham um importante papel.
A vulnerabilidade financeira tem sido apontada como um dos “motivos” para um maior abandono de cães e gatos, realidade que se sente igualmente em Portugal. Mas, apesar do “apertar do cinto” para muitas famílias, há formas de poupar nos custos com cães e gatos sem descurar a sua saúde. Percorra a galeria e conheça algumas delas.