Quando se resgata um animal de uma situação limite, a alegria de o ver a ganhar vida e a recuperar das mazelas físicas e psicológicas é indescritível. Esta é uma realidade muito presente nas associações do nosso país. Em Campo Maior, o Valentino foi um desses casos. É por isso que quando, subitamente, tudo se desmorona, parece que o mundo desaba sobre os ombros de quem acreditou num futuro risonho para um protegido de quatro patas. Os voluntários ficam em choque, desolados e de rastos. Sem chão.
Muitas vezes, um animal recupera mas nunca tem a sorte de ser escolhido por uma família e vive o resto da sua vida no abrigo que o acolheu. Com muito amor dos protetores que o rodeiam, mas sem o aconchego de um lar, tão importante nos seus últimos dias. Outras vezes, como que do nada, adoecem e partem inesperadamente. Há muitas alegrias vividas nos abrigos, mas também muita tristeza. É a dureza de se ser voluntário da causa animal.
Mafalda Ensina, responsável da associação Amigos dos Animais de Campo Maior, está a viver – a par com as protetoras que a rodeiam – um desses momentos difíceis. O Valentino está doente.
Valentino foi resgatado do lixo quase morto. Estava fechado dentro de três sacas, com uma enorme ferida na cabeça. Tinha fraturas e sarna e estava muito magro. Estávamos no início de março de 2022. Graças a uns rapazes que o encontraram, e a quem o acolheu, Valentino – nome que entretanto lhe foi dado – não teve o fim que lhe destinaram.
Mafalda Ensina foi sua família de acolhimento, quando teve alta da clínica VetSul Campo Maior. Em meados de abril de 2022, já restabelecido, deu entrada no abrigo da associação e tornou-se num belo rapagão. Tudo corria bem.
Em janeiro deste ano, a PiT deu a conhecer a sua história, pela voz de Mafalda, e havia a esperança de que alguém se apaixonasse por ele, tendo também sido registado na PiTmatch, a plataforma da PiT de adoção responsável, onde se esperava que encontrasse a família que o amaria com todas as suas cicatrizes.
Mas agora, num repente, tudo mudou. “O nosso Valentino teve uma recaída”, conta-nos Mafalda com tristeza. Nos últimos tempos tinha começado a ter muita dificuldade em andar – e na semana passada acabou mesmo por perder a sensibilidade nas patas de trás. Nas fotos publicadas no Facebook pela associação é visível o pânico dele na ida para o veterinário. “Não sai do abrigo há quase um ano. Tem imenso medo quando vê uma trela. Mas pelo abrigo andava muito bem. E agora isto”, lamentou. Tinha até uma amiguinha de quatro patas especial, a Heidi, com quem brincava muito.
Na clínica VetSul Campo Maior realizaram-lhe exames, mas percebeu-se que precisava de um sítio especializado em terapia de problemas neurológicos. “No sábado, 22 de abril, lá fomos nós a caminho de Azeitão, ao Hospital Veterinária da Arrábida”.
“O nosso Valentino já corria e até tentava saltar-nos para cima. E agora parte-se-nos o coração ao vê-lo assim, cheio de dores e medo. Apesar de tudo o que já sofreu, é um cão sem muitos traumas. Nas últimas semanas, tivemos pessoas ‘estranhas’ no abrigo e ele ía logo pedir festas”, relatam as voluntárias dos Amigos dos Animais de Campo Maior.
O que veio a seguir desassossegou ainda mais os corações das protetoras de Valentino. “No sábado passámos a tarde no hospital de Azeitão a fazer exames e RX. Há uma coisa que não conseguem ver bem e temos que fazer uma tomografia na segunda-feira”, contou Mafalda à PiT no dia seguinte. “Vamos ter que voltar a Azeitão na segunda de madrugada, apanhar o Valentino para ir ao Hospital Veterinário do Restelo e fazer a tomografia para despistar um possível tumor”.
O desalento e a tristeza eram notórios nas palavras de Mafalda Ensina. “Infelizmente, se for tumoral, não podemos operar porque ele tem dirofilorose e pelo sítio onde está. Ele ainda tem sensibilidade, mas tem muitas dores. Não estávamos à espera disto”.
“Ele tem perdido peso nas últimas semanas e começou a arrastar as patas na semana passada. É horrível vê-lo assim. Não merecia isto”. Mafalda nem fala no outro lado, porque para um protetor esse é o lado altruísta inato. A responsável da associação e outra protetora saíram de Campo Maior na madrugada de segunda-feira para levarem Valentino a Lisboa para fazer a tomografia, levá-lo de volta a Azeitão e regressarem a casa a tempo de irem trabalhar à tarde. “Saímos às 4 da manhã de Campo Maior, regressámos às 16h e ainda fomos trabalhar até às 21h. Mas fazemos tudo que tiver ao nosso alcance”.
Como a entreajuda é uma realidade entre muitas associações, levaram também a Lisboa a cadelinha Alice, da associação Arronches Adopta, que também deixou de andar na semana passada e precisava igualmente de uma TAC.
Depois de realizados os exames, Valentino ficou de novo internado em Azeitão. E agora resta esperar. São cinco a seis dias até terem o resultado. “O Valentino ficou no hospital da Arrábida porque lá têm boas condições para tratar dele. Mas hoje partiu os nossos os corações. Ele tem perdido imenso peso, cheio de dores… quase que parece estar de novo no estado em que o resgatámos no ano passado, no seu pior”, diz Mafalda. “Estamos de rastos. Este não pode ser o desfecho de tudo, o Valentino já passou por tanto. Isto não é justo”. Corta o coração ouvir estas palavras e ainda mais a quem as profere. O dia foi cansativo. “Tenho a cabeça e o corpo desfeitos”.
No meio do desespero, as contas a crescerem também não dão sossego. No sábado foram mais de 500€ entre consulta, exames, internamente, medicação, gasolina e portagens. Na segunda-feira, mais 300€ na tomografia e viagens. A associação fez umas rifas de um pack de cuidados para a pele e conseguiu vendê-las todas. Mas não basta. “Este fim de semana fizemos um sorteio para ajudar a pagar as despesas e na quarta-feira, 26 de abril, vamos fazer outro”, explica Mafalda, que pede o apoio de quem possa ajudar. Para tal, basta ir até à página e consultar o IBAN e Mbway, que estão disponíveis no perfil.
Percorra a galeria para ver o querido Valentino no antes e no depois – e no agora, numa altura em que volta a precisar de todos nós.