O reino animal está povoado por imensas espécies, algumas domesticadas e muitas vivendo no meio selvagem. E, tal como os humanos, também têm as suas doenças, muitas vezes transmissíveis ao seu “grupo” mas também ao Homem — que acaba por ficar infetado, podendo vir a gerar um problema de saúde geograficamente alargado. Mas de que falamos quando se fala de infeções?
Antes de mais, importa esclarecer que “o termo ‘infeção’, de uma forma generalista, se refere a doença provocada por um agente infecioso, seja ele vírus, bactéria, fungo, ácaro etc. Existem agentes infeciosos que infetam pessoas e animais e em que, assim sendo, o contacto com animais aumenta a probabilidade de infeção no Homem pelo maior risco de exposição ao agente”, explica à PiT a veterinária Rita Sousa Calouro, do Hospital Veterinário de Santarém.
“Quando falamos de países em desenvolvimento, sem acesso a cuidados de saúde primários e muitas vezes com condições de higiene precárias, acompanhados de contacto direto com animais (nas mesmas condições), se calhar podemos dizer que a maioria das infeções é provocada por este contacto, mas isso não acontece em países desenvolvidos”, diz a médica veterinária.
Outra coisa bem diferente são as infeções que tiveram origem no mundo animal. Essas sim, representam a maioria dos casos transmitidos aos humanos, “principalmente quando falamos de vírus (Covid-19, Influenza, HIV, Ébola…)”.
Por vezes, sublinha Rita Sousa Calouro, “os vírus conseguem dar um ‘salto’ entre espécies e o que à partida seria uma infeção exclusiva de animais pode passar a ser de pessoas. As principais razões para isto acontecer prendem-se com a maior mobilidade de pessoas pelo mundo, o desenvolvimento das cidades com a ocupação de habitats exclusivos de animais selvagens, alterações climáticas e as suas consequências”.
As zoonoses parasitárias
Esclarecida a diferença entre as infeções em geral e as que têm origem no mundo animal, surge a pergunta: o que são as zoonoses parasitárias? Comecemos por distinguir entre parasitas e zoonoses.
“Parasita é um agente infecioso que estabelece uma relação com outro ser, geralmente para seu proveito (sobrevivência e reprodução), prejudicando o outro organismo — de forma mais ou menos grave. Já a zoonose é uma doença ou infeção naturalmente transmitida entre animais vertebrados e seres humanos”, explica a médica veterinária.
Assim, as zoonoses parasitárias são as parasitoses transmitidas ao Homem pelos animais.
Veículos transmissores
E quais podem ser os veículos transmissores de infeção? Basta um arranhão ou uma lambidela? Depende.
“Um arranhão dificilmente poderá ser a causa de uma zoonose no Homem. No entanto, a lesão na pele poderá ser uma porta de entrada para agentes infeciosos — bactérias presentes no meio ambiente, em meios conspurcados que podem originar infeções”.
No caso da lambidela já será diferente, “porque existem parasitas zoonóticos que podem ser transmitidos desta forma. Não esqueçamos que os cães e gatos se lambem a eles próprios em todas as regiões do corpo, mordiscam as caudas, alguns ingerem as suas próprias fezes e as dos seus pares, permitindo assim a transmissão de alguns parasitas gastrointestinais, como é o caso das Ténias (conhecidas das pessoas) ou outros nemátodes (como o Toxocara) eliminados pelas fezes”, aponta Rita Sousa Calouro.
Mas quem tem cuidado pode ficar descansado: “uma desparasitação regular previne praticamente a 100 por cento estas infeções”.
Principais doenças zoonóticas
As principais doenças zoonóticas, em termos de frequência, são as parasitoses gastrointestinais. Contudo, em termos de gravidade, o cenário já é diferente, estando a Raiva nos lugares cimeiros.
“Em 98 por cento dos casos, a Raiva é mortal para os humanos após a infeção. E apesar de estar extinta em Portugal (pelo que se sabe), continua a ser muito frequente em África”, salienta a médica do Hospital Veterinário de Santarém.
Ainda no ranking das doenças zoonóticas mais graves, temos também a Sarna Sarcóptica, que é provocada por ácaros, ou a Tinha, provocada por fungos. “Ambas são doenças de pele, mas pouco frequentes e de fácil tratamento”.
Prosseguindo com a lista, segue-se “a Leptospirose, doença grave transmitida por ratos, bem como a Ricketsiose, doença transmitida por carraças e em franca ascensão, que é vulgarmente conhecida por febre da carraça”.
Já a Leishmaniose, doença transmitida por um “mosquito”, “é muito debilitante e muito frequente em regiões tropicais — apesar de existirem alguns casos descritos em Portugal”.
É tudo uma questão de cuidado
Apesar de todas estas doenças que podem ser transmitidas aos humanos, Rita Sousa Calouro desmistifica qualquer receio que possa haver em relação aos animais de companhia: “Ter animais não é perigoso. É, pelo contrário, muito benéfico para a saúde e há imensos estudos que o comprovam”.
É no entanto, “muito importante que os nossos animais de companhia tenham acesso a cuidados de saúde, vacinas e desparasitações regulares (internas e externas, contra parasitas gastrointestinais e vetores de parasitas como mosquitos carraças e pulgas), bem como acesso a tratamentos eficazes sempre que necessário”, remata a médica veterinária.
Percorra a galeria para saber mais sobre algumas destas doenças.