Por estes dias, o Brasil parou em frente às televisões e redes sociais, a assistir – e a rezar – às longas horas de desespero durante uma operação de resgate de um cavalo que, apanhado pelas cheias em Canoas, no estado do Rio Grande do Sul, tinha subido até ao telhado de uma casa e ali continuava sem escapatória possível. Se tentasse sair, morreria afogado. Depois de quatro dias no topo de uma casa praticamente submersa, onde se apoiou, rodeado de água e sem comida, o seu salvamento comoveu todos os que não arredaram pé dos ecrãs à espera do melhor desfecho. Agora está a restabelecer-se e a recuperar forças e já há quem o queira adotar caso não se encontre o dono – ou se este não tiver possibilidade de o manter.
Por entre a tragédia humana que assolou aquela região do país, as histórias com final feliz têm sido muito ansiadas, como uma forma de atenuar um pouco a dor dos números tão chocantes: pelo menos 126 pessoas perderam a vida, havendo ainda a lamentar 756 feridos e 141 desaparecidos, nas enchentes que atingiram o Rio Grande do Sul. Ao todo, 1,9 milhões de habitantes foram de alguma forma afetados pelas cheias.
Têm sido muitas as partilhas de fotos e vídeos com finais felizes de seres humanos resgatados – e também de muitos animais. Mas, nos últimos dias, muitos dos olhares estavam focados num cavalo a tentar equilibrar-se em cima de um telhado em Canoas, na região metropolitana de Porto Alegre, com todo o Brasil a acompanhar em rede nacional. A primeira-dama brasileira, Rosângela da Silva, mulher do presidente Lula da Silva e mais conhecida por Janja, foi uma delas.
O resto do mundo foi seguindo a evolução do resgate, nas fotos e vídeos divulgados nas redes sociais, e Janja (que adotou uma cadela também salva das cheias) também foi atualizando os seus seguidores sobre a operação de resgate do cavalo – tendo chorado e comemorado quando foi salvo, num ambiente de grande emoção.
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O cavalo que se tornou o símbolo de um Rio Grande sobrevivente
No Brasil, é habitual chamar “caramelo” aos cães dessa cor – entre o bege, dourado e castanho claro –, e o cavalo, não se sabendo o seu nome, foi de imediato batizado de Caramelo nas redes sociais, tendo sido a palavra mais comentada na rede social X (antigo Twitter) no dia do seu resgate, a 9 de maio. Dos seus salvadores recebeu o nome de Valente e é agora “o símbolo de um Rio Grande ferido, mas aguerrido e resiliente”, como sublinha a plataforma noticiosa Gaúcha ZH.
Entretanto, como ninguém queria abrir mão do nome, o cavalo tão querido de todos passou agora a ter um nome composto: Valente Caramelo. E agora que foi resgatado, rapidamente poderia cair no esquecimento. Mas não é o que está a acontecer. Todos os que acompanharam o processo querem saber como está a correr a sua recuperação – e as notícias não poderiam ser melhores.
Os veterinários da Universidade Luterana do Brasil (Ulbra) – que já vieram desfazer alguma confusão, visto que muitas pessoas achavam que era uma égua – dizem que Valente (ou Caramelo) está a receber tratamento e a evoluir de forma positiva. O cavalo tem estado a receber fluidoterapia para repor os nutrientes perdidos ao longo dos quatro dias (há quem avance que o animal possa ter estado naquela situação mais tempo, estimando-se que tenha sido entre quatro a seis dias) em que esteve sem acesso a água potável.
A operação de resgate foi complexa, já que o cavalo – com 350 quilos – poderia ter alguma reação brusca por estar assustado. Por isso mesmo, teve de ser sedado e só depois o Corpo de Bombeiros de São Paulo é que o retirou e colocou num bote. Assim que chegou a terra, foi transportado de camião para as instalações da Ulbra.
Há quem queira adotar o cavalo que comoveu o Brasil
E o que acontecerá agora a Valente Caramelo? Nas redes sociais correm relatos, citando reportagens nos media brasileiros, de que o cavalo tinha marcas de tração e que já estava abaixo do peso ideal antes das cheias, sendo possível que fosse usado apenas para “puxar carroça”. Perante isto, e caso o dono não apareça – ou não tenha condições para ficar com ele – há já quem se esteja a candidatar à sua adoção. É o caso do casal de atores brasileiros Giovanna Ewbank e Bruno Gagliasso. Também o célebre Youtuber Felipe Neto já manifestou vontade de o adotar, dizendo que lhe vai dar uma “vida de rei”.
Percorra a galeria e veja algumas fotos do cavalo antes, durante e depois do resgate, bem como muitas ilustrações e memes que já estão a ser feitos em sua homenagem e dos seus salvadores. E veja também muitos dos animais que têm estado a ser resgatados das águas depois do forte temporal que assolou o Rio Grande do Sul entre 29 de abril e 6 de maio, com as cheias ainda a suscitarem muitos receios de derrocadas.